Banca. Passos e Marcelo têm o primeiro choque

Banca. Passos e Marcelo têm o primeiro choque


Dez dias depois de o novo PR entrar em Belém, o líder do PSD irrita-se com a concertação de Marcelo e Costa


Bastaram dez dias para o líder do PSD entrar em choque com o novo Presidente da República. Passos Coelho que no último congresso social-democrata rejeitou apoiar um ‘cata-vento’ a Belém, não gostou de ver Marcelo envolvido nas movimentações do governo do PS para dirimir a luta entre o capital angolano e espanhol na tomada de posição na banca portuguesa.

O “Expresso” noticiou este sábado que António Costa e a empresária angolana Isabel do Santos se reuniram na passada semana em Lisboa para resolver o impasse no BPI. O PSD atacou em força o Governo do PS no próprio dia e Passos Coelho veio depois subir o tom das acusações de ingerência política em negócios privados. Só que o líder do PSD decidiu colocar também Marcelo na mira.

“Quem faz a regulação financeira é o Banco de Portugal e é a CMVM. Não é o primeiro-ministro, não é o ministro das Finanças, que não têm nenhum competência na matéria. Nenhuma! Nem o Presidente da República, por maioria de razão”, declarou Passos Coelho.

Marcelo Rebelo de Sousa disse ao Rei de Espanha, na quinta-feira, em Madrid, que não queria uma banca dominada pelos espanhóis. No dia anterior, em entrevista ao jornal “ABC”, já tinha passado a mensagem: “Espanha teve, tem e terá uma posição muito forte [na banca portuguesa], mas não pode ser exclusiva. Sei que Espanha compreende isto muito bem”.

Ontem o “Expresso” afirmava que o Presidente da República, com a sua atuação política, terá querido “evitar um conflito com Luanda”.

Marcelo será 'interventivo' Marques Mendes veio ontem defender Marcelo Rebelo de Sousa. O ex-presidente do PSD considerou que a intervenção do Presidente foi não só positiva como eficaz. “Foi a Espanha dizer que não quer capital exclusivo espanhol na banca. O sinal foi dado e parece que mensagem foi recebida”. É importante “porque é estratégica para Portugal”, disse no seu espaço de comentário da SIC.

Mendes diz, aliás, que a semana que passou forneceu indicações de uma nova atuação em Belém. “Marcelo deu esta semana sinais de que vai ser um Presidente mais interventivo que o antecessor e do que é habitual”, afirmou o comentador.

Sobre a posição do PSD, que veio criticar a intervenção do governo – comparando-a “às interferências do governo socialista liderado por José Sócrates em empresas” – Mendes é crítico. Compreendendo que os sociais-democratas peçam esclarecimentos, Mendes diz que o que Costa fez “foi bem feito”.

“Se o que existiu foi uma conversa [com Isabel dos Santos e outros acionistas] em que o primeiro disse ‘ou os senhores se entendem ou eu tenho de fazer uma lei para resolver o impasse que é prejudicial para o nosso país’ foi positivo”, comentou.

Mendes afirmou até que Passo Coelho tinha na manga avançar com essa lei que resolveria o impasse no BPI. E sobre a posição do PSD, o ex-líder deixou uma farpa: “Algumas pessoas muito liberais acharão muito bem que os bancos vão parar a mãos espanholas”.

O ex-líder do PSD diz que há legitimidade numa actuação política que sirva para “ajudar estrategicamente o país”. No sábado, o PSD, através do vice-presidente do grupo parlamentar António Leitão Amaro, condenou as ”interferências políticas indevidas e arbitrárias dos governos em negócios privados [que] colocam também em causa a confiança nas instituições nacionais, nas regras de funcionamento da economia nacional e nas condições de investimento”.

O PSD quer saber se “o governo Português autorizou Isabel dos Santos a entrar no capital do BCP” e com que base “constitucional ou legal” o próprio Primeiro-ministro deu pessoalmente luz verde a essa entrada”. Logo que haja resposta do primeiro-ministro, o PSD deverá vir “marcar a fronteira entre o que considera atuação estratégia e ingerência em negócios”, disse ao i uma fonte social-democrata.

manuel.a.magalhaes@ionline.pt