Tornou-se do senso comum que a crise dos refugiados se trata de um problema tão complexo que não possui qualquer solução.
Angela Merkel não teve uma política humanitária, teve um calculismo político que pode colocar a Europa em perigo. Se aceitar todos é impossível, integrar todos requer um milagre.
A chanceler não prometeu acolher toda a vaga migratória por uma questão de valores morais (onde estão eles para as gregas que vendem o corpo por uma sanduíche?), simplesmente sabe que precisa tanto dos refugiados quanto os refugiados precisam dela.
O Estado social que mantém Merkel no poder perderá a sua sustentabilidade se a demografia alemã não for renovada, e a mão-de-obra qualificada de muitos dos migrantes é perfeita para essa renovação. Este raciocínio seria de uma genialidade notável se não existissem dois problemas. Ambos ajudaram a causar os péssimos resultados da CDU alemã na última semana e o despontar de uma direita nacionalista e extremista.
A Convenção de Genebra obriga os países signatários a acolher temporariamente qualquer refugiado de guerra; no entanto, não há qualquer lei europeia ou internacional que retire a esses países a soberania de decidirem o número de imigrantes que acolhem. A dificuldade em separar uns dos outros é a questão mais grave desta história; está, aliás, provado que a integração de um refugiado é notavelmente mais serena que a integração de um imigrante económico.
Mas muitas das famílias que constituem esta crise migratória não são refugiados de guerra, são imigrantes que se aproveitam da desgraça de quem foge de um conflito para apanhar boleia rumo a melhores condições económicas.
Estes impostores são uma ameaça, pois prejudicam quem realmente necessita do nosso auxílio e a ele tem direito legal.
Eles aumentam de tal forma a dimensão da vaga que distingui-los dos autênticos refugiados se torna impossível. Pior: esta ilegítima infiltração vem também facilitar a entrada de terroristas, assim menos distintos.
O segundo erro na tática germânica é económico e paradoxal. Se Merkel quer usar os refugiados (e referidos apêndices) para salvar o seu Estado social, é precisamente o Estado social que impedirá a integração dos refugiados na Europa.
Os muçulmanos europeus mais passíveis de se radicalizarem são aqueles que não são tão muçulmanos quanto os seus pais nem tão europeus quanto os seus filhos. É uma geração-limbo, perdida, sem identidade e sem emprego. A vitória da jihad está nas integrações falhadas e as integrações falhadas começam no desemprego.
Não é por acaso que a maioria dos imigrantes busca países anglo-saxónicos e liberais. Aí, o Estado é menos amigo, mas há mais emprego. Foi isso que fez o sonho americano, e dos Estados Unidos uma nação erguida por imigrantes.
Assim, a crise dos refugiados não será resolvida enquanto não se liberalizarem os mercados laborais europeus. Tem de ser mais fácil despedir para ser mais fácil contratar. Só a flexibilização da economia pode garantir uma integração pacífica de tanta gente. O acordo de David Cameron insurge-se concretamente contra a ortodoxia dos direitos sociais da União Europeia; afinal, eles nunca seriam a salvação dos refugiados, mas sim a condenação de refugiados e europeus.
É curioso ver como o projeto solidário e “pós-nacional” de Justin Trudeau – o líder canadiano empenhado em acolher largo número de sírios – apenas se concretizará devido ao legado conservador do seu antecessor, que liberalizou e modernizou a economia.
Está na altura de entendermos que a Europa só poderá ser mais humanista se for menos socialista. Que o único modo de salvar aquela civilização sem sacrificar a nossa é pela meritocracia, e não pela proteção de quem trabalha não trabalhando, seja sírio ou europeu.