“As pessoas vão sentir que o museu lhes pertence”

“As pessoas vão sentir que o museu lhes pertence”


Depois da doação de 200 mil euros da Fundação Aga Khan, António Filipe Pimentel, diretor do Museu Nacional de Arte Antiga, está confiante que irá angariar o valor necessário para devolver o quadro “A Adoração dos Magos”, de Domingos Sequeira, “ao lugar certo”


Quando, no final de outubro de 2015, o diretor do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) apresentou a campanha de crowdsurfing “Pôr o Sequeira no Lugar Certo” – que visava devolver ao MNAA o quadro “A Adoração dos Magos”, de Domingos Sequeira – esta parecia uma ideia “inatingível”, assume António Filipe Pimentel. Mas agora, passados mais de quatro meses, e quando falta um mês e meio para terminar a iniciativa, a realidade é bem distinta. Sobretudo desde hoje, data em que é oficialmente entregue a doação de 200 mil euros da Fundação Aga Khan, numa cerimónia que reúne o príncipe Amyn Aga Khan, irmão e representante pessoal do próprio Aga Khan, o ministro da cultura João Soares e o diretor do MNAA. “Esta decisão da fundação não me apanhou de surpresa porque a verdade é que fomos nós que estabelecemos o contacto e fizemos o pedido para que nos apoiassem. E a fundação deu a devida atenção à importância estratégica, para a cultura portuguesa, desta aquisição”, sublinha António Filipe Pimentel, ao i, ao mesmo tempo que destaca o espírito ecuménico da fundação ao apoiar uma pintura que reflete o cruzamento entre dois mundos.

Em termos práticos, esta doação significou, segundo o diretor do MNAA, “um gigante salto em frente” para esta campanha. “A partir de agora falta-nos menos de um terço do total de 600 mil euros. Deixámos o caminho das pedras”. Ainda assim, António Filipe Pimentel destaca que é necessário que o tecido empresarial português apoie a iniciativa. “Temos tido o apoio de escolas e de algumas câmaras, mas continuo à espera que haja uma maior participação da parte das empresas portuguesas, porque o apoio tem sido mais lento do lado empresarial”.

Um cenário bem diferente daquele que são as contribuições a título individual. “A mobilização da cidadania foi espetacular. Basta vermos que, aqui há uns meses, o Louvre fez uma campanha semelhante e teve a participação de quatro mil e tal pessoas. Nós já vamos no dobro. É um retrato galvanizador e otimista da sociedade portuguesa que não se esperava”. Mas que fazia parte das intenções iniciais desta campanha, que tinha como grande objetivo – além do óbvio e que era devolver ao MNAA a obra de Domingos Sequeira – a pedagogia. “Ainda mais do que os 600 mil euros para a aquisição desta obra, o que esta campanha procurou foi envolver ativamente os cidadãos naquilo que é a construção do nosso legado cultural. É preciso que os portugueses lutem pelo que é nosso e sintam orgulho no que é nosso”.

Esta campanha termina a 30 de abril e o diretor do MNAA está otimista que o valor final será atingido – inclusive existem já empresas, como a ANA, que asseguram o pagamento das verbas finais. No entanto, “no caso de não se reunir o valor necessário, a verba conseguida reverterá para a aquisição de uma obra de igual relevância”, explica António Filipe Pimentel. “De qualquer das formas, com iniciativas como estas, as pessoas passarão a sentir que o museu lhes pertence”.

Se ainda quer participar e ajudar a “Pôr o Sequeira no Lugar Certo” pode comprar um pacote de pixels no site associado sequeira.publico.pt. Ou pode ir à discoteca Lux no domingo, dia 20, onde 18 DJs portugueses darão música entre as 18 horas e a meia-noite. A entrada custa 6€, o equivalente a 100 pixels. E os fundos revertem na totalidade para o Sequeira.