Do Vandalismo


Alexandre Herculano é uma figura maior da cultura portuguesa. Por razões óbvias da minha formação e destino profissional, é um dos incontornáveis autores que compõem a minha pequena estante de cabeceira.


Jaz na Sala do Capítulo do Mosteiro dos Jerónimos, em justíssimo reconhecimento pátrio, local onde agora o visitante poderá conhecê-lo melhor pela pequena exposição biográfica ali patente e realizada por ocasião do ii centenário do seu nascimento (2010). Herculano foi o nosso grande pioneiro na proteção e valorização do património cultural e, entre as múltiplas facetas da sua vida rica e atribulada, foi também autarca, presidente da Câmara Municipal de Belém, extinta em 1885. A propósito disso e de tantas outras coisas da nossa vida recente, irei citá-lo agora, com fundamentada ironia, a partir do seu famoso brado “Monumentos Pátrios”, publicado nos “Opúsculos ii”. E também… porque sim:

“Apesar da ferocidade nervosa do vandalismo, não se creia, todavia, que ele é desalinhado no vestuário, carrancudo na catadura, descomposto nos meneios. Nada disso. O vandalismo é aprimorado no trajo, lhano e grave a um tempo no porte, pontual na cortesia. Encontrá-lo-eis nas salas requebrando as damas, dançando, tomando chá; no teatro palmeando com luvas brancas nos lances dramáticos. Entende francês e leu já Voltaire, Pigault-Lebrun e os melhores tratados do whist: quase que sabe ler e escrever português. O vandalismo é culto, civil, afável. Tirem-lhe de diante os monumentos; será o epílogo de todos os dotes e qualidades; será a mansidão incarnada.” Et voilà.

Escreve à terça-feira


Do Vandalismo


Alexandre Herculano é uma figura maior da cultura portuguesa. Por razões óbvias da minha formação e destino profissional, é um dos incontornáveis autores que compõem a minha pequena estante de cabeceira.


Jaz na Sala do Capítulo do Mosteiro dos Jerónimos, em justíssimo reconhecimento pátrio, local onde agora o visitante poderá conhecê-lo melhor pela pequena exposição biográfica ali patente e realizada por ocasião do ii centenário do seu nascimento (2010). Herculano foi o nosso grande pioneiro na proteção e valorização do património cultural e, entre as múltiplas facetas da sua vida rica e atribulada, foi também autarca, presidente da Câmara Municipal de Belém, extinta em 1885. A propósito disso e de tantas outras coisas da nossa vida recente, irei citá-lo agora, com fundamentada ironia, a partir do seu famoso brado “Monumentos Pátrios”, publicado nos “Opúsculos ii”. E também… porque sim:

“Apesar da ferocidade nervosa do vandalismo, não se creia, todavia, que ele é desalinhado no vestuário, carrancudo na catadura, descomposto nos meneios. Nada disso. O vandalismo é aprimorado no trajo, lhano e grave a um tempo no porte, pontual na cortesia. Encontrá-lo-eis nas salas requebrando as damas, dançando, tomando chá; no teatro palmeando com luvas brancas nos lances dramáticos. Entende francês e leu já Voltaire, Pigault-Lebrun e os melhores tratados do whist: quase que sabe ler e escrever português. O vandalismo é culto, civil, afável. Tirem-lhe de diante os monumentos; será o epílogo de todos os dotes e qualidades; será a mansidão incarnada.” Et voilà.

Escreve à terça-feira