Todos sabemos que, hoje em dia, há aplicações – ou apps – para (quase literalmente) tudo. Para contar os quilómetros (ou metros…) da corrida, para nos lembrar que é hora de beber água, para contar o valor amealhado em cigarros que não se compraram quando se deixa de fumar. A Igreja Católica está a par do ritmo de vida cada vez mais frenético e também sabe que as tecnologias são parte integrante do dia-a-dia. Com isto em mente, porque não casar as duas coisas em prol da oração? Assim, o Apostolado de Oração (AO) português criou, em novembro de 2014, uma plataforma digital que ajuda os crentes a rezar e também a refletir sobre as intenções do Papa. E o nome desta app serve exatamente o propósito a que se propõe: Click to Pray.
“A ideia surgiu porque havia necessidade de fazer uma proposta de oração bastante simples e acessível, adaptada aos ritmos de hoje”, explica o padre António Valério, secretário nacional do AO. A ideia concretizou-se na app de que agora falamos, mas também tem um site e uma página do Facebook onde utilizadores podem clicar em cada oração que completam.
“O tempo de um sms” Por dia, o Click to Pray disponibiliza três orações, uma de manhã, outra à tarde e a última à noite. E desengane-se quem acha que as orações são longas: “Muitas demoram apenas o tempo de ler um sms, são pequeninos apontamentos que ajudam as pessoas a pensar e a centrar as atitudes que as pessoas tiveram ao longo do dia que viveram ou que estão a começar a viver”, conta António Valério. Mais do que o tamanho dos textos, o que conta é o resultado que espoletam nos utilizadores. “A ideia é que as orações provoquem algum tipo de meditação. A pessoa lê aquilo e depois pode passar uns minutos a pensar ou, se quiser, fazer um período de reflexão mais longo.”
Para o padre, outra das vantagens é o facto de aproximar os crentes das intenções do Papa, ou seja, os intentos que o Sumo Pontífice designa mensalmente e que são os mesmos para todo o mundo. “O papa dá sempre duas intenções, uma para temas universais para católicos, crentes e até não crentes, ligada a problemas gerais da humanidade, e depois outra para questões mais de evangelização”, resume o padre jesuíta. “A aplicação ajuda as pessoas também a rezar e a conhecer as intenções do Papa.”
Por falar em Francisco – que desde novembro de 2012 está no Twitter –, não será certamente uma surpresa dizermos que o Papa acolheu e incentivou o desenvolvimento da plataforma. Em agosto do ano passado, a ideia foi apresentada ao Papa Francisco e, na sexta-feira, introduzida oficialmente na rede de oração mundial do AO, que conta com 35 milhões de pessoas. “A experiência correu muito bem em Portugal, e o AO a nível internacional, que coordena os secretariados de todo o mundo e que também queria desenvolver uma aplicação, aproveitou a Click to Pray.” “O Click to Pray é uma bela surpresa e iniciativa”, considerou Lucio Ruiz, secretário da
Secretaria de Comunicações do Vaticano, na apresentação da plataforma na Santa Sé.
“É um instrumento que nos acompanhará e ajudará a viver os nossos dias ao serviço da missão da Igreja.” Já para o diretor internacional da Rede Mundial de Oração do Papa (Apostolado da Oração), Frédéric Fornos, a aplicação é “uma oração em ação, uma oração que nos liga ao mundo”.
Para já, a app está disponível em quatro línguas – português, espanhol, inglês e francês. “Está previsto que em breve seja traduzida noutras línguas, nomeadamente alemão e italiano”, explica António Valério. Além de a ideia ter partido de portugueses, é ainda no país que são “produzidas” as orações. “Os textos são feitos por uma equipa de voluntários portugueses. As frases são escolhidas de acordo com o dia, depois a equipa do AO faz a revisão necessária para manter a uniformidade e o estilo.” Com o lançamento internacional, a gestão da plataforma passou para Roma. “As orações são enviadas para lá e depois existem equipas para fazerem as traduções para as várias línguas”, conclui.
Dez vezes mais descargas Uma vez que a divulgação internacional da app ocorreu há uns dias, ainda é cedo para falar de números concretos. No entanto, já dá para ter uma noção do crescimento da rede. “Desde o lançamento no Vaticano, o número de descargas da Click to Pray subiu muito, cerca de dez vezes mais”, diz o responsável.
Em Portugal, “ao longo de 2015 e 2016, cerca de 15 mil pessoas descarregaram a aplicação”. No entanto, há muitas mais a aceder ao serviço. “Há muitas pessoas que usam o Click to Pray nas redes sociais ou diretamente na página, para além da aplicação móvel.”
Quanto aos utilizadores portugueses, o AO revela que há gente de todas as idades, mas a faixa etária que mais utiliza o serviço tem entre 18 e 35 anos. Segundo o feedback recebido pela equipa que coordena o projeto, tem sido um sucesso: “Quase todos os dias recebemos emails de utilizadores a agradecer. As pessoas dizem que a Click to Pray as ajuda a parar ao longo do dia e também elogiam o facto de poderem estar unidas aos cristãos de todo o mundo, a rezar pelas mesmas intenções.”
Parar, perguntar, pensar Para António Valério, a razão do sucesso e do crescimento internacional da aplicação prende-se com um fator muito simples: a necessidade que os cristãos têm de refletir sobre os ensinamentos (não no papel, mas aplicados no seio das suas próprias vidas) e que é muitas vezes deixada de lado.
“No mundo em que vivemos, as pessoas têm uma certa dificuldade em contactar com a sua vida interior, colocarem perguntas mais sérias e não se deixarem levar só pelos acontecimentos do dia-a-dia. Há alguma busca por um tempo de paragem, para refletir sobre aquilo que estamos a viver e tomar as opções certas”, considera o padre. É também para colmatar este hiato entre a fé e a vida diária que o Click to Pray surge.
“Eu diria que estas propostas ajudam as pessoas a encontrar um momento de reflexão que acaba por ajudar muito a viver as mudanças com uma outra qualidade humana e uma outra qualidade espiritual.” Mesmo para os católicos sem tempo porque, afinal, a aplicação surge para facilitar. Basta parar cinco minutos – no trânsito, no comboio, na pausa do café – e click… to pray.