A estratégia do CDS para se afastar do PSD

A estratégia do CDS para se afastar do PSD


Com Paulo Portas de saída, Assunção Cristas assumiu um desafio: tentar fazer crescer o CDS, utilizando “o fim da lógica do voto útil” que acredita ser a consequência natural da solução governativa das esquerdas.


O problema que enfrenta é como fazer com que os eleitores distingam entre PSD e CDS depois de quatro anos de governação conjunta, sobretudo se o caminho que quer trilhar é sobretudo o das propostas concretas e menos o discurso dos valores morais?

O primeiro passo desta estratégia foi dado este sábado por Paulo Portas, no seu último discurso como líder. Portas fez um ataque claro a Carlos Costa, apontando falhas na supervisão do Banco de Portugal e criticando a forma como tem conduzido (até à data sem sucesso) o processo de venda do Novo Banco.

Portas revelou mesmo que só concordou com a recondução do governador no cargo porque estava a decorrer o processo de resolução do BES e de venda do Novo Banco.

A afirmação ganha importância, porque Passos Coelho não se tem cansado de elogiar a "coragem" de Carlos Costa na forma como lidou com os problemas do setor bancário e até hoje ainda ninguém ouviu o líder do PSD pôr em causa a forma como o governador tem exercido os seus poderes, mesmo quando admite que algumas coisas não correram bem.
Com a comissão de inquérito parlamentar ao Banif prestes a arrancar, esta crítica a Carlos Costa permite distanciamento em relação à atuação do governador e em relação ao PSD, que vai estar debaixo de fogo, não só por causa da atuação da ministra das Finanças quando estava no Governo como pelo cargo que Maria Luís Albuquerque aceitou numa empresa com ligações ainda por esclarecer ao caso Banif.

Mas há mais: Assunção Cristas disse hoje no discurso que a maior parte das pessoas não percebe a "linguagem do défice". A candidata à liderança centrista quer, por isso, uma "simplificação" das mensagens do seu partido. Mas acima de tudo, Cristas afasta-se do 'economês' muito identificado com Passos e do qual o líder do PSD ainda não se conseguiu libertar.

Outra diferença estará no discurso sobre a legitimidade política do Governo de António Costa. Este sábado, Nuno Magalhães e Nuno Melo ainda retomaram o tema da vitória "de secretaria". Mas no gabinete de Assunção a ordem é para deixar cair esse assunto. Cristas não mudou de opinião em relação ao tema, mas quer olhar para a frente e não ficar colada a uma imagem de passado, numa altura em que no PSD há dificuldade em largar ainda essa tese e encontrar outras formas de combater Costa.

Enquanto o discurso de Passos ainda está muito centrado no passado, Assunção Cristas quer olhar para a frente e apresentar soluções concretas para os problemas dos portugueses. Cristas diz que vai continuar a volta ao país que iniciou na sua candidatura à liderança e dinamizar o gabinete de estudos do partido precisamente para encontrar essas propostas.

A sucessora de Paulo Portas continua a ver no PSD um parceiro natural de coligação para chegar ao poder, mas depois de quatro anos de coligação, Assunção Cristas quer afirmar o espaço próprio do CDS e isso só se fará se os eleitores perceberem diferenças claras entre os dois partidos.