É frequente ouvir-se dizer que os portugueses têm dificuldade tanto em elogiar como em receber elogios. Leva-se logo com o título de bajulador, de graxista, lambe-botas,… E o retorno é imediato: “— vá, vá, diz lá o que me queres; o que me vais pedir?”. Este tradicional comportamento cultural não só se perpetuou nas famílias, de geração em geração, como se instalou nas empresas, nas escolas, em qualquer lugar… Contudo, bem ao contrário, parece muito mais imediato, confortável e saudável ao nosso bom português descarregar umas boas críticas negativas, umas repreensões, censuras, acusações, seguidos de impropérios e insultos… Somos bons nisto, não somos?!
É importante que tenhamos consciência que o elogio ou a crítica têm impacto na pessoa a quem são dirigidos. Se, por um lado o elogio pode reconfortar e tornar o outro feliz, a crítica contém um pendor mais negativo (mesmo sendo dita com a melhor das intenções), levando o outro à auto-defesa, a escudar-se ou à agressividade física ou psicológica, em suma, ao conflito. Cabe a nós sabermos dosear para encontrar o equilíbrio: quem critica também deve saber elogiar.
Seja entre o casal, entre pais e filhos, entre colegas de profissão, entre amigos, aprenda a olhar para o lado positivo das pessoas, elogiando-as pelo que são, pelo que dão, pelo que dizem ou sentem. Com frequência. Valorize o mínimo que cada pode ou sabe dar de si. E saiba também acolher com alegria e felicidade um elogio franco e verdadeiro…
Se o efeito daquela substância libertada pelo cérebro em momentos de satisfação — a dopamina — é positivo, fazendo com que o dia do outro seja mais belo e feliz, por que haveremos de guardar as palavras ou os gestos de louvor, de enaltecimento? O efeito boomerang acontece de imediato, na medida em que os efeitos repercutem-se em nós. A felicidade do outro é também a nossa!
É verdade que os adultos têm geralmente dificuldade em elogiar-se uns aos outros, seja em ambiente pessoal ou profissional. As mulheres, contudo, são aquelas que mais facilidade têm em elogiar-se umas às outras com frequência. Os homens, esses, elogiam mais as mulheres, o que, por vezes, deixa a mulher desconfiada quanto às intenções, dependendo do caráter do cavalheiro… O elogio deve ser franco, sincero, honesto, verdadeiro e sem revestimento de interesse. Assim sendo, elogiem-se! Muito!
Mas é junto das crianças e jovens que o elogio pode revelar-se ainda mais importante. O impacto de um elogio numa criança reforça a sua auto-estima e revela-lhe que os seus atos, atitudes, comportamentos ou gestos que teve são os corretos, os mais positivos. Servem de azimute, de guia para a definição do seu crescimento, assente em valores e princípios positivos.
E é na sala de aula, todos os dias, confrontados com os professores, que a criança ou jovem pode ou não obter essas palavras-tão-boas-que-aquecem-o-coração. Todas as crianças e jovens merecem receber um elogio por dia! Quantos elogios soltaste, hoje, Professor?
E é em casa, com o pai, a mãe, os irmãos, avós, em família, que os elogios devem florescer todos os dias. Se a criança ou jovem chega a casa e, com receio, diz que recebeu um teste de 60%, como reages? — “Só?!”. Talvez seja melhor substituir por: “Parabéns! Acredito que te esforçaste e trabalhaste. Cabe a ti alcançar os objetivos que desejas, com maior ou menor dedicação. Amo-te, de qualquer forma, seja qual for a nota que tenhas!”
Cá por mim, gostem ou não, continuarei a elogiar, com certeza!
Professor | Especialista em Tecnologias Educativas
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