EUA. Trump desespera republicanos, Sanders assusta Hillary

EUA. Trump desespera republicanos, Sanders assusta Hillary


Nem os ataques coordenados dos republicanos conseguem travar o sucesso eleitoral do mais polémico candidato à presidência dos EUA. À esquerda, Bernie Sanders lembrou a Hillary que a corrida ainda não acabou


Em sondagem divulgada terça-feira pelo “Washington Post” e “ABC”, 46% dos republicanos davam uma avaliação negativa a Donald Trump – o nível mais baixo desde que o empresário se assumiu como candidato às primárias do partido, em junho do ano passado. Mas o dia acabou com o mais polémico dos candidatos a somar mais três vitórias em quatro votações, alargando a vantagem sobre Ted Cruz numa noite que praticamente acabou com o candidato preferido do aparelho, Marco Rubio.

A luta entre as bases do partido conservador e um milionário desbocado é a grande história desta maratona eleitoral norte-americana. E se o aparelho espera que esta se arraste até ao fim das votações, Trump tem à sua frente a oportunidade de acabar com ela em menos de uma semana. Basta confirmar o favoritismo que as sondagens lhe atribuem nos quatro grandes estados que votam na terça-feira – Florida, Illinois, Carolina do Norte e Ohio.

Não só porque esses estados representam 306 delegados – e três deles usarão a regra que atribui ao vencedor todos os delegados – como as possíveis vitórias no Ohio e Florida representarão o fim de dois dos seus atuais três rivais.

Marco Rubio, o jovem senador eleito pela Florida, pode até nem chegar a sujeitar-se à humilhação prevista pelas sondagens, que o colocam no seu próprio estado a 16 pontos percentuais dos 40,2% de Trump. Se Rubio já tinha mostrado dificuldades em aproveitar o estatuto de candidato do aparelho – que herdou de Jeb Bush -, as sucessivas votações em que terminou na quarta posição praticamente arruinaram a sua candidatura. Na terça-feira não conseguiu eleger um único delegado numa noite em que os republicanos votaram no Idaho, Hawai, Michigan e Mississippi.

Uma situação idêntica à do governador do Ohio, John Kasich. Sempre um outsider na corrida republicana, Kasich vem cumprindo a missão dada pelo partido – que desde o momento em que percebeu a seriedade da ameaça de Trump vem apelando aos candidatos para não desistirem de forma a dividir ao máximo a distribuição de delegados. Kasich é neste momento a grande esperança do aparelho para evitar que Trump some os 66 delegados atribuídos no Ohio, pois apesar de também não conseguir liderar as sondagens no estado que governa desde 2010 está apenas a 5% de Trump.

O magnata, que no discurso de vitória na terça-feira não esqueceu “os milhões gastos em mentiras horríveis” tanto pelas campanhas dos seus rivais como os grupos de lobistas que aderiram à campanha anti-Trump, voltou a demonstrar a força da sua candidatura, vencendo confortavelmente entre os eleitores das classes mais baixas mas também conseguindo bater Ted Cruz – o seu principal rival, que segue a 99 delegados de distância – entre os eleitores mais religiosos.

E voltou a confirmar a tendência para obter melhores resultados nos estados que abrem as suas primárias a não militantes do partido do que naqueles que contam apenas com a base republicana. O que alimenta as teorias da conspiração de quem acredita que os democratas estão empenhados em escolher o mais polémico dos rivais mas também assusta a esquerda mais realista, pois significa que o controverso candidato tem uma forte base de apoio entre eleitores independentes.

Sanders está vivo Um aviso para o campo democrata, onde o passeio de Hillary Clinton rumo à nomeação parece mais espinhoso do que se antevia depois da  vantagem alcançada na super terça-feira. A vitória de Bernie Sanders no Michigan foi um aviso à tripulação da ex-secretária de Estado. Não só porque, em contraste com Trump, confirma as dificuldades da favorita entre eleitores independentes como as razões da sua derrota podem vir a ser repetidas nas próximas votações mais importantes.

O Michigan faz parte do que foi o grande eixo industrial do país, que se alastra desde a costa nova-iorquina até à região dos grandes lagos. E se o discurso de Sanders contra os acordos económicos internacionais de Obama, que “roubaram milhões de empregos às indústrias”, funcionou bem no Michigan é possível que resulte também no Illinois, Ohio e Missouri, onde estarão em jogo 425 delegados.

A ‘sorte’ de Hillary passa pela regra de distribuição proporcional de delegados ser lei entre os democratas. Uma diferença em relação aos republicanos que permitiu à antiga primeira-dama somar mais delegados do que Sanders na terça-feira apesar de ter vencido o estado mais pequeno e perdido no maio – no Mississippi confirmou a sua boa prestação no sul, recorrendo à larga adesão do eleitorado afro-americano para bater Sanders com 66% de diferença.