“Populisticamente”?!!


Sofremos nos últimos anos a sorte de quem deu ao povo angústia e sofrimento. Os tempos, porém, são de mudança, não isenta de incerteza, e dos “ex” não vai sobrar saudade


Quem trata a língua pátria com desdém, e tinha obrigação de não o fazer, não admira que tenha do poder a ideia de que ao povo português compete aceitar de bom grado as decisões dos mandantes, por mais iníquas que sejam. Sofremos nos últimos anos a sorte de quem, em nome dos altos interesses da nação, deu ao povo angústia e sofrimento. Os tempos, porém, são de mudança, não isenta de incerteza, e dos “ex” não vai sobrar saudade.

Serve este arrazoado para introduzir o chamado discurso de vitória do último ex-primeiro-ministro, reeleito líder do PSD com 95% de votos – oh là là!, c’est formidable! -, e quase não foi notícia que apenas votaram 46% dos sociais-democratas, mas enfim… Afirmou o incrível vencedor que o PSD é um partido “que não quer gerir o dia-a-dia, que não quer andar para trás, que não quer populisticamente procurar aquilo que é mais fácil ou mais demagógico”, mas antes, com “mais algum esforço, um futuro melhor”. Ora aí está, isto é que é falar! E não “populisticamente”. Pois…

O que já podemos considerar ex-Presidente, Cavaco Silva, que finalmente se junta à sina dos “ex”, também nos brindou com pérolas de retórica, diria mesmo de fino recorte literário – ninguém se há de esquecer da deliciosa descrição: “Ontem eu reparava no sorriso das vacas. Estavam satisfeitíssimas olhando para o pasto que começava a ficar verdejante.” No seu último discurso perorou sobre Portugal – “sou testemunha de que há um país que não desiste” – e os portugueses – “redobrada certeza da garra e da mestria dos portugueses” – como se ignorasse, melhor assim, quão pouco Portugal e os portugueses o estimam. Será que disto se pode dizer “populisticamente” falando? Talvez…

Neste registo de preciosidades, e pegando na estorricada tirada “o Norte é uma nação” à laia de pilhéria “populística”, ir esquadrinhar o miolo das aldeias minhotas resulta sempre numa experiência regalada. Desta feita, percorrendo as estradas e os caminhos municipais que bordejam a albufeira da Caniçada pela margem esquerda, mais concretamente ao correr do concelho de Vieira do Minho, topam-se recantos e cenas imprevisíveis. E tanto não era preciso, que a paisagem é de lavar os olhos e a alma! O que de certo modo justifica a unidade hoteleira rural de cinco estrelas, tal é o deslumbre de quem por ali se acoita. Aliás, por estas bandas, alojamento rural, casas e quintas, é o que não falta. Adiante, numa aldeia mais afastada do rio, à beira da estrada ergue-se a igrejinha de pedra, com seu adro, e mesmo ao pé pastam pachorrentos bois. A torre sineira, maneirinha, está plantada sobre um penedo redondo, tudo a combinar! Nos campos alcatifados a pasto, verdes, retouçam bois, ovelhas e cabras, e nas casas quase não se pressente gente. Reina o silêncio do vozear ao longe e do som de um qualquer motor que atravessa a tarde. Só o cantarolar das cascatas que por todo o lado se esgueiram nos acicata os ouvidos.

Dos “ex” temos que baste, e resta-nos esperar que os futuros “ex” não nos deem tanto motivo de chacota nem tanta consumição. Ansiando “populisticamente”? Pois talvez.


“Populisticamente”?!!


Sofremos nos últimos anos a sorte de quem deu ao povo angústia e sofrimento. Os tempos, porém, são de mudança, não isenta de incerteza, e dos “ex” não vai sobrar saudade


Quem trata a língua pátria com desdém, e tinha obrigação de não o fazer, não admira que tenha do poder a ideia de que ao povo português compete aceitar de bom grado as decisões dos mandantes, por mais iníquas que sejam. Sofremos nos últimos anos a sorte de quem, em nome dos altos interesses da nação, deu ao povo angústia e sofrimento. Os tempos, porém, são de mudança, não isenta de incerteza, e dos “ex” não vai sobrar saudade.

Serve este arrazoado para introduzir o chamado discurso de vitória do último ex-primeiro-ministro, reeleito líder do PSD com 95% de votos – oh là là!, c’est formidable! -, e quase não foi notícia que apenas votaram 46% dos sociais-democratas, mas enfim… Afirmou o incrível vencedor que o PSD é um partido “que não quer gerir o dia-a-dia, que não quer andar para trás, que não quer populisticamente procurar aquilo que é mais fácil ou mais demagógico”, mas antes, com “mais algum esforço, um futuro melhor”. Ora aí está, isto é que é falar! E não “populisticamente”. Pois…

O que já podemos considerar ex-Presidente, Cavaco Silva, que finalmente se junta à sina dos “ex”, também nos brindou com pérolas de retórica, diria mesmo de fino recorte literário – ninguém se há de esquecer da deliciosa descrição: “Ontem eu reparava no sorriso das vacas. Estavam satisfeitíssimas olhando para o pasto que começava a ficar verdejante.” No seu último discurso perorou sobre Portugal – “sou testemunha de que há um país que não desiste” – e os portugueses – “redobrada certeza da garra e da mestria dos portugueses” – como se ignorasse, melhor assim, quão pouco Portugal e os portugueses o estimam. Será que disto se pode dizer “populisticamente” falando? Talvez…

Neste registo de preciosidades, e pegando na estorricada tirada “o Norte é uma nação” à laia de pilhéria “populística”, ir esquadrinhar o miolo das aldeias minhotas resulta sempre numa experiência regalada. Desta feita, percorrendo as estradas e os caminhos municipais que bordejam a albufeira da Caniçada pela margem esquerda, mais concretamente ao correr do concelho de Vieira do Minho, topam-se recantos e cenas imprevisíveis. E tanto não era preciso, que a paisagem é de lavar os olhos e a alma! O que de certo modo justifica a unidade hoteleira rural de cinco estrelas, tal é o deslumbre de quem por ali se acoita. Aliás, por estas bandas, alojamento rural, casas e quintas, é o que não falta. Adiante, numa aldeia mais afastada do rio, à beira da estrada ergue-se a igrejinha de pedra, com seu adro, e mesmo ao pé pastam pachorrentos bois. A torre sineira, maneirinha, está plantada sobre um penedo redondo, tudo a combinar! Nos campos alcatifados a pasto, verdes, retouçam bois, ovelhas e cabras, e nas casas quase não se pressente gente. Reina o silêncio do vozear ao longe e do som de um qualquer motor que atravessa a tarde. Só o cantarolar das cascatas que por todo o lado se esgueiram nos acicata os ouvidos.

Dos “ex” temos que baste, e resta-nos esperar que os futuros “ex” não nos deem tanto motivo de chacota nem tanta consumição. Ansiando “populisticamente”? Pois talvez.