Não têm vergonha na cara, voltam ao local do crime como se não fosse nada com eles e repetem até à exaustão as mesmas cenas, os mesmos disparates, os mesmos golpes, os mesmos assaltos e arranjam sempre pelo caminho os culpados pelas crises, pelas bancarrotas, pela pobreza, pelo desemprego, pela economia rastejante, pela dívida brutal, enfim, pelo destino infeliz de um país que verdadeiramente merece os políticos que tem e as políticas que o têm afastado dos níveis médios de desenvolvimento europeu.
Durante quatro anos esteve no poder um governo de emergência nacional orientado por um memorando e por uma troika de credores que não soube, não quis ou foi incapaz de impor as reformas urgentes que o país precisa de fazer há 40 anos. Os défices não foram cumpridos, a dívida subiu e não baixou e a economia acabou o ciclo da intervenção externa a crescer 1,5%, um valor que não dá para criar emprego, aumentar a população ativa e baixar o desemprego.
A reforma do Estado nem sequer ficou no papel e os impostos, como sempre, atingiram níveis nunca vistos. Não é só a esquerda que adora aumentar impostos. A falsa direita do PSD e do CDS segue a mesma receita e tem tanto horror a mexer no Estado como a esquerda do PS e dos seus apêndices de extrema-esquerda. É evidente que a troika falhou redondamente quando aceitou sem pestanejar o enorme aumento de impostos. É evidente que a troika falhou quando aceitou que a reforma administrativa se tenha limitado a fundir umas tantas freguesias, sem mexer uma palha nos municípios.
É evidente que a troika falhou quando deixou que as empresas municipais continuassem a florescer no universo autárquico. É evidente que a troika falhou quando não impôs um corte brutal nos apoios do Estado a milhares de fundações, públicas e privadas, e aceitou a fantochada montada pelo executivo anterior para deixar tudo na mesma. É evidente que a troika falhou quando não atacou a fundo a burocracia do Estado e permitiu que o governo do PSD e CDS tenha deixado tudo na mesma em matéria de licenciamentos. É evidente que a troika falhou quando não impôs limites à despesa do Estado, em função do crescimento económico, e não obrigou Passos Coelho, Paulo Portas e Vítor Gaspar a reduzir de forma radical o peso do Estado a todos os níveis.
Se a troika falhou e muito nos anos de emergência, isso significa que o Portugal de 2016 não está melhor que o Portugal de 2008, 2009 e 2010, os anos que antecederam a bancarrota. E como não está melhor, tudo o que este governo de esquerda de Costa e companhia tem feito nos primeiros cem dias no poder vai levar o país para mais uma desgraça, mais cedo do que se imaginava em novembro, quando os derrotados das eleições de outubro juntaram os trapinhos para afastar os vencedores do governo. Quem aterrar em Lisboa só pode pensar que foram descobertas minas de ouro e diamantes e que jorra petróleo em abundância em terra e no mar, apesar da queda dos preços nos mercados internacionais.
Com exceção do pobre ministro da Cultura, que ficou com o mesmo orçamento de 2015 e anda por aí a vingar-se do Centeno com cenas tristes na praça pública, todos os ajudantes de Costa andam felizes e contentes a anunciar aumentos e a distribuir notas de 500 euros a tudo o que mexe nas suas áreas. Distribuem dinheiro a rodos e ainda se dão ao luxo de cortar nas taxas que os indígenas pagam para usufruir de certos privilégios. O caso mais gritante, entre muitos outros, é o seguro de saúde que o Estado garante aos seus funcionários.
O Bloco da Catarina, para mostrar até que ponto é de esquerda e generoso para quem trabalha no Estado, quer alargar o seguro de saúde aos cônjuges e aos filhos que vivam com os pais até aos 30 anos de idade. E o PCP do Jerónimo, para não perder o pé num setor que o ajuda e muito nas greves e nos votos, quer reduzir de 3,5% para 3% as contribuições dos funcionários. Neste campeonato da generosidade, resta saber se o Costa admite estender o mesmo princípio à escola pública e anuncia, com a pompa e a circunstância dignas da ética republicana, o cheque-ensino para os funcionários púbicos.
Loucos com o poder, embriagados com o dinheiro que na realidade não existe, surdos aos tímidos e ineficazes avisos internos e externos, as esquerdas fazem o mesmo de sempre, pelos mesmos caminhos de sempre, com os mesmos resultados de sempre.
E se Portugal caminha para o abismo com estas políticas irresponsáveis, a Europa e o mundo vão com certeza dar o empurrão fatal, com as economias de novo à beira da recessão. E tal como em 2011, em que Sócrates culpou o mundo pela bancarrota, também Costa, Catarina e Jerónimo vão, este ano ou em 2017, arranjar uma mentira muito conveniente para justificarem mais um crime que os portugueses vão pagar em nome da democracia.
Jornalista. Escreve à segunda-feira