Governo navega à bolina e sem verdadeiro número dois


Falta alguém que evite o desgaste permanente de António Costa, que está a ir a todas


Apesar de hábil e versátil, António Costa está limitado pela sua dependência política, o que lhe impõe uma falta de rumo clara e o obriga a negociar e a expor-se em permanência. O primeiro-ministro navega à bolina em função dos ventos de Bruxelas, dos bloquistas ou dos comunistas. Não se percebe para onde vai, com que propósito e com que rota. Vai-se andando.

Se há decisões que são claras e justas, como certas reversões salariais que o governo determinou, há umas quantas absurdas. As da educação são as mais óbvias; as do mar, as mais ausentes; e as da economia e segurança social, verdadeiras catástrofes sociais. Já nas finanças, há que esperar para ver se estamos perante um Centeno genial ou um flop total. Há ainda incógnitas como a política relativamente à lusofonia, à CPLP e a tudo aquilo que tem a ver com a projeção de Portugal no mundo, que agora parece resumir-se ao desígnio de transportar António Guterres para o cargo de secretário-geral da ONU. Ao fim de três meses, pode dizer-se que, para além de António Costa, só verdadeiramente o ministro da Saúde obtém nota positiva por estar a mexer no setor com prudência, inteligência e, ao que parece, eficácia.

A entrada em funções do Presidente Marcelo pode, entretanto, vir a ser um importante contributo para o governo traçar um rumo certo, ultrapassando a fase casuística e ziguezagueante.

António Costa funciona como um homem- -orquestra que toca todos os instrumentos e tenta emendar todas as desafinações. Quando Bruxelas chateia, ele avança. Quando o Bloco tem mais um capricho, ele negoceia. Quando a CGTP exige mais, ele intervém para acalmar a malta e arrancar junto do PCP compromissos satisfatórios, mas orçamentalmente complicados.

Ao formar governo, Costa deixou de fora o seu verdadeiro número dois, Carlos César, o presidente do PS, apontando-o para o lugar nevrálgico de líder parlamentar. Era lógico. Para seu representante direto em negociações, escolheu Pedro Nuno Santos. Foi bem visto. Quando há um aperto e ele próprio não chega, recorre a Santos Silva, que é formalmente o número dois e se constitui numa inexistência internacional, mantendo cá dentro o estilo trauliteiro que ele próprio definiu quando disse que o que gostava era de malhar na direita. Percebe-se a opção, mas é de confronto.

Desde cedo se disse neste espaço que, para além de eventuais escolhas, um dos problemas de Costa estaria na estrutura do governo. Aos poucos, confirma-se. O primeiro-ministro é politicamente forte, mas não chega para tudo e para todos. Faz falta junto dele um político com a qualidade política, tribunícia, conhecimento, cultura, bonomia, ratice, experiência e dialética como tiveram ministros fulcrais de governos anteriores, fossem socialistas ou sociais-democratas. Basta recordar Almeida Santos, Fernando Nogueira, Jorge Coelho, Marques Mendes ou até Silva Pereira para perceber o tipo de papel que é preciso desempenhar em certas ocasiões para libertar o primeiro-ministro de problemas e constrangimentos. Até mesmo em coligação esse papel é essencial, como se viu com Marques Guedes na recente coligação, quando semanalmente dava o peito às balas, poupando Passos e Portas.

Embora a geometria em que este governo assenta não tenha paralelo com as anteriores, a preservação da imagem do primeiro-ministro mantém-se como um ponto essencial numa sociedade altamente mediatizada e escrutinada. Se arranjar uma solução interna ou vinda de fora, António Costa arrisca-se a sofrer uma erosão prematura e negativa que afetará ainda mais a imagem do país.

Malandrice bancária. As máquinas multibanco já quase não dispensam notas de 5 euros. Não se pode dissociar esta prática sistemática de uma estratégia, ainda que a diminuição da utilização de notas de 5 seja uma realidade em países mais ricos da zona euro. Mas em Portugal há muitas pessoas a viver abaixo do limiar da pobreza, com pensões e rendimentos de 200 euros e menos. Para elas, levantar 15 é diferente de levantar 20 euros. O chairman da SIBS que gere o sistema é o prof. Vítor Bento. O mesmo que tinha saído da empresa para ir para o BES pela mão de Ricardo Salgado, permanecendo, tanto quanto se sabe, quadro do Banco de Portugal. Este “biconselheiro” de Estado deu agora uns bitaites sobre o Novo Banco sugerindo a sua nacionalização, coisa que, aliás, está assegurada ao nível dos prejuízos que todos pagamos. A ilustre criatura melhor faria em preocupar-se com as caixas automáticas e esta nova maneira de acelerar o empobrecimento de muitos. Há quem não saiba que para muitos portugueses há uma gigantesca diferença entre 5 e 10 euros.

Rangel. A TSF’ comemorou 28 anos e evocou o seu fundador, Emídio Rangel, que foi também a alma da SIC e da SIC-Notícias. Ex-comentador da estação de rádio, o Presidente eleito esteve na cerimónia e discursou bem. Mas como as palavras são levadas pelo vento, talvez seja Marcelo a reparar com atos as falhas dos seus antecessores e a condecorar o jornalista, ainda que a título póstumo.

Jornalista


Governo navega à bolina e sem verdadeiro número dois


Falta alguém que evite o desgaste permanente de António Costa, que está a ir a todas


Apesar de hábil e versátil, António Costa está limitado pela sua dependência política, o que lhe impõe uma falta de rumo clara e o obriga a negociar e a expor-se em permanência. O primeiro-ministro navega à bolina em função dos ventos de Bruxelas, dos bloquistas ou dos comunistas. Não se percebe para onde vai, com que propósito e com que rota. Vai-se andando.

Se há decisões que são claras e justas, como certas reversões salariais que o governo determinou, há umas quantas absurdas. As da educação são as mais óbvias; as do mar, as mais ausentes; e as da economia e segurança social, verdadeiras catástrofes sociais. Já nas finanças, há que esperar para ver se estamos perante um Centeno genial ou um flop total. Há ainda incógnitas como a política relativamente à lusofonia, à CPLP e a tudo aquilo que tem a ver com a projeção de Portugal no mundo, que agora parece resumir-se ao desígnio de transportar António Guterres para o cargo de secretário-geral da ONU. Ao fim de três meses, pode dizer-se que, para além de António Costa, só verdadeiramente o ministro da Saúde obtém nota positiva por estar a mexer no setor com prudência, inteligência e, ao que parece, eficácia.

A entrada em funções do Presidente Marcelo pode, entretanto, vir a ser um importante contributo para o governo traçar um rumo certo, ultrapassando a fase casuística e ziguezagueante.

António Costa funciona como um homem- -orquestra que toca todos os instrumentos e tenta emendar todas as desafinações. Quando Bruxelas chateia, ele avança. Quando o Bloco tem mais um capricho, ele negoceia. Quando a CGTP exige mais, ele intervém para acalmar a malta e arrancar junto do PCP compromissos satisfatórios, mas orçamentalmente complicados.

Ao formar governo, Costa deixou de fora o seu verdadeiro número dois, Carlos César, o presidente do PS, apontando-o para o lugar nevrálgico de líder parlamentar. Era lógico. Para seu representante direto em negociações, escolheu Pedro Nuno Santos. Foi bem visto. Quando há um aperto e ele próprio não chega, recorre a Santos Silva, que é formalmente o número dois e se constitui numa inexistência internacional, mantendo cá dentro o estilo trauliteiro que ele próprio definiu quando disse que o que gostava era de malhar na direita. Percebe-se a opção, mas é de confronto.

Desde cedo se disse neste espaço que, para além de eventuais escolhas, um dos problemas de Costa estaria na estrutura do governo. Aos poucos, confirma-se. O primeiro-ministro é politicamente forte, mas não chega para tudo e para todos. Faz falta junto dele um político com a qualidade política, tribunícia, conhecimento, cultura, bonomia, ratice, experiência e dialética como tiveram ministros fulcrais de governos anteriores, fossem socialistas ou sociais-democratas. Basta recordar Almeida Santos, Fernando Nogueira, Jorge Coelho, Marques Mendes ou até Silva Pereira para perceber o tipo de papel que é preciso desempenhar em certas ocasiões para libertar o primeiro-ministro de problemas e constrangimentos. Até mesmo em coligação esse papel é essencial, como se viu com Marques Guedes na recente coligação, quando semanalmente dava o peito às balas, poupando Passos e Portas.

Embora a geometria em que este governo assenta não tenha paralelo com as anteriores, a preservação da imagem do primeiro-ministro mantém-se como um ponto essencial numa sociedade altamente mediatizada e escrutinada. Se arranjar uma solução interna ou vinda de fora, António Costa arrisca-se a sofrer uma erosão prematura e negativa que afetará ainda mais a imagem do país.

Malandrice bancária. As máquinas multibanco já quase não dispensam notas de 5 euros. Não se pode dissociar esta prática sistemática de uma estratégia, ainda que a diminuição da utilização de notas de 5 seja uma realidade em países mais ricos da zona euro. Mas em Portugal há muitas pessoas a viver abaixo do limiar da pobreza, com pensões e rendimentos de 200 euros e menos. Para elas, levantar 15 é diferente de levantar 20 euros. O chairman da SIBS que gere o sistema é o prof. Vítor Bento. O mesmo que tinha saído da empresa para ir para o BES pela mão de Ricardo Salgado, permanecendo, tanto quanto se sabe, quadro do Banco de Portugal. Este “biconselheiro” de Estado deu agora uns bitaites sobre o Novo Banco sugerindo a sua nacionalização, coisa que, aliás, está assegurada ao nível dos prejuízos que todos pagamos. A ilustre criatura melhor faria em preocupar-se com as caixas automáticas e esta nova maneira de acelerar o empobrecimento de muitos. Há quem não saiba que para muitos portugueses há uma gigantesca diferença entre 5 e 10 euros.

Rangel. A TSF’ comemorou 28 anos e evocou o seu fundador, Emídio Rangel, que foi também a alma da SIC e da SIC-Notícias. Ex-comentador da estação de rádio, o Presidente eleito esteve na cerimónia e discursou bem. Mas como as palavras são levadas pelo vento, talvez seja Marcelo a reparar com atos as falhas dos seus antecessores e a condecorar o jornalista, ainda que a título póstumo.

Jornalista