Se adormeceu – ou vá lá, sejamos realistas, desmaiou de amor – quando Alicia Vikander passou na red carpet, não seja demasiado duro consigo. Além de ser perfeitamente legítimo – aquele vestido amarelo vale, obviamente, um Óscar -, chega a ser inteligente. Acordar com o despertador e ver a lista de vencedores, assim como todos os vídeos já espalhados pela internet, é equivalente à árdua guerra de sono que travou com o seu sofá e a máquina de café. As cápsulas prendem sempre nesta alturas – sobretudo as de marca branca – e, ao contrário do que já foi dito algures, a desculpa “ontem foram os Óscares” não serve nenhum patrão. Para isso estamos cá nós. E Chris Rock, claro.
Antes de prosseguirmos, convém dizer que, finalmente, Leonardo DiCaprio venceu o Óscar para Melhor Ator, assim como Iñárritu voltou a receber a estatueta de Melhor Realizador. Tudo isto com “O Renascido”. Já “O Caso Spotlight” ganhou o Melhor Filme, tal como o Argumento Original. Coisa que já gerou alguma comichão por esse mundo fora.
O anfitrião da noite foi agridoce como tudo. O monólogo inicial não podia fugir ao tema materializado em #OscarsSoWhite. Rock afirmou mesmo ter ponderado desistir de apresentar a 88.a edição dos Óscares pela ausência de nomeados negros, mas não o fez pois perderia outro trabalho para o colega comediante Kevin Hart. Isto depois de dizer: “Percebam que se eles nomeassem apresentadores, eu nem teria conseguido este trabalho. Por isso estariam todos a ver Neil Patrick Harris agora”, numa farpa amigável lançada ao apresentador do ano passado.
Numa das cerimónias envoltas em maior polémica dos últimos anos, Chris Rock fez o que tinha de fazer: não falar de outra coisa senão da questão racial aqui levantada. Uma no cravo, outra na ferradura. Se afirmou querer igualdade, ao ponto de sugerir a criação de categorias negras, também se entendeu que Rock e Will Smith, não são, provavelmente, os melhores amigos. Jada, a mulher de Smith, recusou ir à cerimónia no Dolby Theater, não se resignando por o marido não estar nomeado para Melhor Ator com “Concussion”. Altura para a piada da noite para Chris Rock: “Não é justo que o Will esteja tão bem e não seja nomeado. Mas também não é justo que o Will tenha recebido 20 milhões de dólares por ‘Wild Wild West’, ok?”
Como sempre, a noite foi longa, por isso esperemos que se tenha entendido com as cápsulas. A cerimónia estava a decorrer normalmente até ser atingida pelo furacão “Mad Max: Estrada da Fúria”. Filme louco de George Miller que veio a revelar-se como um dos vencedores da noite, com seis Óscares, tudo em categorias técnicas e secundárias. Ainda assim, talvez a noite tenha corrido melhor do que esperavam.
Mas a maior surpresa talvez tenha sido o facto de Sylvester Stallone não ter levado o Óscar de Melhor Ator Secundário pela prestação em “Creed”. Rocky Balboa não consegue ir a todas, por isso deixou o prémio para Mark Rylance, britânico que venceu com “A Ponte dos Espiões”.
Ainda que assim o quiséssemos, esta noite não se faz apenas de piadas. O momento mais sério – e aplaudido – da cerimónia foi da autoria de Lady Gaga, em conjunto com Diane Warren. A cantora, apresentada pelo vice-presidente Joe Biden, cantou “Til It Happens To You”, faixa que escreveu para o documentário “The Hunting Ground”, de Kirby Dick, sobre uma série de casos de violações nos campus universitários americanos. A presença de Biden funcionou como um alerta para os EUA de que a coisa é séria. E para isso não há hashtag. Nem espaço para brincadeiras.