Depois da tempestade, a bonança?


A tempestade política desaba sobre nós, inclemente e diária, na rádio, na televisão e nos jornais. Poucos nos anunciam bom tempo.


Ao som inconfundível da guitarra de Carlos Paredes, no dia do 91.o aniversário do seu nascimento (16 de fevereiro), a estrada vai-se desenrolando prazerosa na manhã clara e iluminada pelo sol de inverno. Dos taludes escorrem ligeiras as águas que os campos encharcados não conseguem reter. Inverno que se tem acomodado em amenidades enganosas – que o digam as amendoeiras transmontanas precocemente em flor, a sofrer o ainda rigor das geadas –, como se os vendavais e as cheias do fim de semana anterior não tivessem passado de ligeiros episódios provocados por arrufos da natureza.

O mar encapelou-se, os rios e as ribeiras transbordaram, e os que lhes sofreram as investidas conservam na memória os momentos de aflição. Aldeias, vilas e cidades afetadas, enxurradas e aluimentos onde devia haver terra enxuta e firme. O norte do país também não foi poupado, e dos prejuízos sobram reclamações e pedidos de ajuda, enquanto o quotidiano ramerrame tem vindo paulatinamente a reconquistar espaço e vida.

A mãe natureza não é dada a ressaibos nem a melindres ressequidos. Explode em aparentes fúrias o muito que vai aguentando em comportamentos transviados e tratos de polé que a aclamada civilização vai aprontando. E neste ir e vir fogem pelo caminho os maiores responsáveis e, como sempre, pagam os mais fracos, os que à ganhança dos poderosos pouco ou nada têm a opor. Como na política, acaba por pagar o justo pelo pecador. Dito de outro modo, o povo vai a votos manifestar o que quer, que é o seu mais pronto recurso para fazer valer o que lhe compete. No final, entram os poderes fácticos a decidir o que o povo há de ter. Portugal está a viver a mais recente experiência deste calibre: o governo e a maioria que o apoia. A chinfrineira à direita não para de reclamar desafronta após a chegada ao poder da intitulada esquerda radical, que de radical tem a vontade de o ser: aliviar o sufoco da maioria dos portugueses. Mais não pode, e mesmo assim não vai longe. Da cada vez mais desunida União Europeia não sopram ventos de feição. Dos partidos da direita – agora separados, mas afinados no bota-abaixo – clamam vozes ressabiadas a anunciar desastre.
A tempestade política desaba sobre nós, inclemente e diária, na rádio, na televisão e nos jornais. Poucos nos anunciam bom tempo. Estamos na preia-mar do Orçamento, que o parlamento há de aprovar com os votos já anunciados, mas a vazante ainda se afigura descabelada, e tão carecidos estamos de boa maré! O país não pode ficar refém dos horóscopos partidários e das geografias de interesses.

Em Ponte de Lima, o rio galgou as margens, o passeio ribeirinho desapareceu debaixo de água, a Avenida dos Plátanos obrigou a galochas, os limianos temeram o pior. Não se concretizou. Dois dias depois da inundação, a vila estava limpa, sem restos da borrasca. Na margem direita, patas enfiadas na água, o cavaleiro romano invetivava os temerosos soldados especados na margem oposta – por ora, em parte submersos – a atravessar o rio, chamando-os pelo nome: assim reza a lenda do rio do esquecimento. E o grupo escultórico alusivo.

Tivesse Portugal a mesma sorte! E que depois da tempestade viesse a bonança. Sonhos vãos?


Depois da tempestade, a bonança?


A tempestade política desaba sobre nós, inclemente e diária, na rádio, na televisão e nos jornais. Poucos nos anunciam bom tempo.


Ao som inconfundível da guitarra de Carlos Paredes, no dia do 91.o aniversário do seu nascimento (16 de fevereiro), a estrada vai-se desenrolando prazerosa na manhã clara e iluminada pelo sol de inverno. Dos taludes escorrem ligeiras as águas que os campos encharcados não conseguem reter. Inverno que se tem acomodado em amenidades enganosas – que o digam as amendoeiras transmontanas precocemente em flor, a sofrer o ainda rigor das geadas –, como se os vendavais e as cheias do fim de semana anterior não tivessem passado de ligeiros episódios provocados por arrufos da natureza.

O mar encapelou-se, os rios e as ribeiras transbordaram, e os que lhes sofreram as investidas conservam na memória os momentos de aflição. Aldeias, vilas e cidades afetadas, enxurradas e aluimentos onde devia haver terra enxuta e firme. O norte do país também não foi poupado, e dos prejuízos sobram reclamações e pedidos de ajuda, enquanto o quotidiano ramerrame tem vindo paulatinamente a reconquistar espaço e vida.

A mãe natureza não é dada a ressaibos nem a melindres ressequidos. Explode em aparentes fúrias o muito que vai aguentando em comportamentos transviados e tratos de polé que a aclamada civilização vai aprontando. E neste ir e vir fogem pelo caminho os maiores responsáveis e, como sempre, pagam os mais fracos, os que à ganhança dos poderosos pouco ou nada têm a opor. Como na política, acaba por pagar o justo pelo pecador. Dito de outro modo, o povo vai a votos manifestar o que quer, que é o seu mais pronto recurso para fazer valer o que lhe compete. No final, entram os poderes fácticos a decidir o que o povo há de ter. Portugal está a viver a mais recente experiência deste calibre: o governo e a maioria que o apoia. A chinfrineira à direita não para de reclamar desafronta após a chegada ao poder da intitulada esquerda radical, que de radical tem a vontade de o ser: aliviar o sufoco da maioria dos portugueses. Mais não pode, e mesmo assim não vai longe. Da cada vez mais desunida União Europeia não sopram ventos de feição. Dos partidos da direita – agora separados, mas afinados no bota-abaixo – clamam vozes ressabiadas a anunciar desastre.
A tempestade política desaba sobre nós, inclemente e diária, na rádio, na televisão e nos jornais. Poucos nos anunciam bom tempo. Estamos na preia-mar do Orçamento, que o parlamento há de aprovar com os votos já anunciados, mas a vazante ainda se afigura descabelada, e tão carecidos estamos de boa maré! O país não pode ficar refém dos horóscopos partidários e das geografias de interesses.

Em Ponte de Lima, o rio galgou as margens, o passeio ribeirinho desapareceu debaixo de água, a Avenida dos Plátanos obrigou a galochas, os limianos temeram o pior. Não se concretizou. Dois dias depois da inundação, a vila estava limpa, sem restos da borrasca. Na margem direita, patas enfiadas na água, o cavaleiro romano invetivava os temerosos soldados especados na margem oposta – por ora, em parte submersos – a atravessar o rio, chamando-os pelo nome: assim reza a lenda do rio do esquecimento. E o grupo escultórico alusivo.

Tivesse Portugal a mesma sorte! E que depois da tempestade viesse a bonança. Sonhos vãos?