Ainda mal sabia andar quando aos 9 meses começou a dar os primeiros chutos na bola. E com habilidade: “Ele nunca partiu nada em casa”, conta a mãe Fiorella. Francesquinho, como era chamado em miúdo, nasceu na capital italiana em setembro de 1976, num bairro ao lado do Coliseu, nas proximidades da Porta Metronia – o que durante muitos anos lhe valeu o apelido de ‘O menino da Porta Metronia’. Loiro e muito magrinho, Totti sempre foi um apaixonado por nutella e gelados. Mas nenhum doce foi capaz de rivalizar com a sua maior paixão desde criança: o futebol.
Tinha cinco anos quando o pai o levou a um torneio de infantis e pediu ao treinador de uma das equipas para o deixar jogar. O objectivo de Enzo era que o filho se divertisse, mas provavelmente nunca pensou que Totti em poucos minutos marcasse dois golos. Já não o deixaram sair. E teve de ficar para o resto da prova. Foi o início da epopeia de Il Capitano, o último imperador de Roma. Mas já lá chegamos, caro leitor.
Voltamos à história que nos traz aqui. Dois anos depois, mesmo com um equipamento maior do que o próprio corpo, já era o melhor jogador da equipa do Fortitudo, o seu primeiro clube. Posicionado no meio campo, revelava-se um tecnicista com uma visão de jogo pouco normal para uma criança de 7 anos. Não era a sua única particularidade. Enquanto a maior parte dos seus amigos iam brincar para a rua, Totti passava o tempo livre trancado no quarto a ver jogos de futebol na televisão. Daí até às escapadelas ao Olímpico com os tios e o irmão Riccardo foi um instante.
As juras de amor eterno à Roma levaram-no a rejeitar aos 13 anos o convite da rival Lazio. O coração não o permitia. E acabou recompensado, pois os dirigentes romanos, que já o seguiam, recrutaram-no logo a seguir. Até se estrear na equipa principal foi mais um saltinho, como quem diz 3 anos. 28 de Março de 1993. Do alto dos seus 16 anos, engraxou as botas e subiu ao relvado, promovido pelo treinador Vujadin Boskov, na vitória por 2-0 sobre o Brescia. Uma estreia que deu origem a uma lenda.
Seguiram-se 750 jogos oficiais – uma marca histórica – e 300 golos em 23 anos de ligação à Roma. Um caso único de amor e dedicação a um emblema – a única camisola diferente que vestiu foi a da Seleção italiana, onde se sagrou campeão do mundo em 2006. Com a braçadeira no braço que Aldair lhe entregou em mãos em 1999, o eterno capitão, como é carinhosamente chamado, é muito provavelmente um dos últimos românticos do futebol. Teve inúmeras propostas para sair e nunca virou as costas ao clube pelo qual se dedicou de corpo e alma.
O casamento parecia perfeito, mesmo aos 39 anos, não fosse o regresso de Luciano Spalletti à Roma, para suceder a Rudi Garcia. Um autêntico drama: 216 minutos em todas as provas (6 jogos) e apenas 1 golo marcado.
“A minha relação com Spalletti? Dizemos bom dia e boa noite. É isto. Ele diz coisas muito simpáticas nos jornais, mas não o faz frente a frente comigo. Respeito-o enquanto treinador e penso que tem o que é necessário para ficar no clube”, explicou Totti ao canal RAI 1, antes de abrir a porta de saída: “Sinto que estou em boa forma física e quero jogar. A lesão está ultrapassada e se não jogo é unicamente devido a decisão técnica. Assim não posso continuar na Roma. Magoa-me ficar no banco”.
Um dia depois, foi excluído da convocatória para o jogo com o Palermo, perante o olhar incrédulo dos colegas de equipa. Coincidência? Talvez não. Ainda assim, Il Capitano fez questão de assistir na bancada à goleada da sua equipa (5-0). E foi ovacionado pelos adeptos. O técnico dos giallorossi também se pronunciou.
“Fui contratado para repor a ordem. Logo tenho de fazer isso. Caso contrário, no futuro todos fazem o mesmo”, afirmou Spalletti, que se mostrou ainda indiferente a polémicas: “Eu não procuro aplausos, eu procuro vitórias. Se ganho, estou bem”.
O futuro parece, por isso, negro para o último imperador de Roma. Mas é caso para dizer: ‘No Totti, no funny’.