Para lá dos filmes que se veem na televisão ou nos computadores, a ida ao cinema é outra coisa, e apesar de teoricamente serem para maiores de quatro anos, vale a pena pensar, a partir dos três, conforme, evidentemente, a maturidade da criança, em levá-la a essa experiência.
As vantagens de ir ao cinema são, além do interesse e da qualidade do próprio filme, o ter contacto com uma atividade estruturada em que o objetivo único é vê-lo, sem interrupções, não como qualquer coisa acessória ou em sistema de multiplicidade de tarefas. Acresce que a ida ao cinema implica o “ir”, que tem uma atmosfera muito especial, desde o antes (como a compra do bilhete, que deixa as crianças excitadíssimas) ao depois (há sempre um lanche ou jantar fora).
É natural que as crianças pequenas tenham alguma dificuldade em se concentrar na televisão, porque é pequena, com definição insuficiente, e entre o ecrã e a criança há sempre numerosos estímulos visuais e sonoros que lhe desviam a atenção e desconcentram, cansando-a. É por isso que as crianças de três anos, por exemplo, se posicionam mesmo “em cima” da televisão, para que o seu campo visual e auditivo não tenha mais nada com que se ocupar. No fundo, o que desejavam, nessa altura, é que não tivessem mais nada além do filme: nem sons, nem luzes estranhas. No fundo, o que desejavam era uma boa sala de cinema! De facto, no cinema, o ecrã é grande, e o silêncio do público e o escuro permitem seguir um filme de uma forma mais saborosa e enriquecedora (se não houver risadinhas estúpidas para lá das normais ou a “pipoquice” que inferniza quem tem o azar de se sentar na cadeira do lado).
Claro está que, antes dos quatro ou cinco anos, pode dar o sono, pode a criança assustar-se com a escuridão e o movimento do filme, ou pura e simplesmente fartar-se porque o filme é longo e não se pode mexer nem dizer nada. Cada um saberá qual o melhor momento para levar os filhos ao cinema, mas pode haver avaliações que depois se revelam erradas, e não vale a pena ficarem zangados se o momento não foi o certo e a criança não conseguiu aguentar. Entrar em conflito e virem para casa embezerrados e com a sensação de uma tarde mal passada não vale certamente a pena, ou assumir que a criança “nunca gostará de cinema”.
Há vários aspetos a considerar antes de levar uma criança ao cinema:
• Aguenta cerca de uma hora e meia sentada sem começar a ficar ansiosa, agitada, farta?
• O ambiente escuro não a assusta?
• Percebe as regras, ou seja, que não pode colocar o filme no pause e sair?
A escolha do filme tem de ser criteriosa e, por vezes, um filme inteiro do mesmo herói que se adora em casa pode não causar a mesma atração no cinema.
É bom que os pais vão explicando aos filhos o que se está a passar no ecrã, mesmo quando o filme é em português. A capacidade de entendimento e de manter a atenção é limitada – é por isso que, em casa, veem inúmeras vezes seguidas os mesmos DVD ou procuram rever episódios que já viram “n” vezes. Só depois de reverem as sequências de cenas múltiplas vezes é que conseguem perceber a totalidade e os pormenores mais importantes. Ao perder o fio à meada, se não houver um papel moderador dos pais, o filme transforma-se numa seca, originando os comportamentos referidos. Acontece-nos o mesmo quando revemos um filme. Conhecendo a história, o nosso cérebro analisa pormenores – cenários, desempenhos, banda sonora – que passaram despercebidos na primeira vez.
Finalmente, se a criança quiser vir para o colo dos pais, não a enxotem.
É sinal que precisa do vosso colo, seja porque está amedrontada, seja porque precisa que alguém lhe explique o enredo um bocadinho melhor. Não recusem esse papel de líder que ela vos está a dar… ou, se calhar, porque à sua frente está um “grandalhão” que não a deixa ver nem um quarto do ecrã.
As artes vão-se multiplicando e não é por aparecer uma nova que as anteriores deixam de desempenhar a sua função; pelo contrário, complementam-se. Vamos então ao cinema e manter esse hábito, mesmo que as salas que existem já estejam, ao contrário do que acontece noutros países, praticamente todas incorporadas em centros comerciais… mas isso é outra história!