Trump Power


Quase que em nota de rodapé, vão chegando notícias das primárias norte-americanas. Sem grande relevo e com destaques mínimos, a verdade é que pouco ou nada podemos fazer para influenciar a orientação de voto do eleitorado americano.


Mas não deixa de ser curioso o rumo que levam e, se pouco podemos fazer (para além de verbalizar indignação), já é verdade que podemos e devemos preocupar-nos. E porquê?

Porque, invariavelmente, a alternância entre democratas e republicanos na Casa Branca tem implicações diretas na Europa e no mundo – implicações essas que variam em função da estirpe do vencedor das eleições.

Assistimos em crescendo ao Trump Power e (para mim) não é uma questão de somenos importância. Não pelo estilo arrogante e a soberba machista que corporiza, mas pelo significado que a sua preponderância e real possibilidade de vencer as primárias representa. Há muito que se discute o problema da promiscuidade entre negócios e política e, independentemente do desfecho destas eleições e a confirmar-se a tendência de vitória de Trump, uma coisa já fica para a história: o poder económico tomou declaradamente o poder político.

Já tínhamos essa noção e os exemplos de corrupção ao mais alto nível atestavam isso mesmo. Mas o fenómeno Trump acaba de vez com as dúvidas. Põe fim a anos de luta entre poder económico e poder político. Mata de uma vez por todas a ética e abre uma caixa de Pandora que durante anos se tentou manter fechada.

Ganham as grandes corporações, a especulação e o poder económico. A palavra corrupção ganha um novo significado. Passa a ser sinónimo de negócio, avença ou comissão. A já ténue linha que a justiça traçava impedindo a intrusão do poder económico na vida política e pública desaparece.

O que sucederá efetivamente se Trump vier a ganhar as eleições primárias republicanas? E se ganhar as eleições para a Casa Branca? Passará o mundo a ser gerido de forma corporativa? Passam os líderes políticos a ser meros CEO? Morre a sensibilidade social, que sempre foi o último entrave à ferocidade capitalista do neoliberalismo? Passamos a olhar para o mundo de forma binária, numa lógica de lucro e prejuízo?

Trump representa mais do que um estilo desbocado e populista com um penteado estranho que invoca o humor. O Trump Power é o reverso da medalha do Obama Power e (deixem-me dramatizar) representa o fim das relações entre poder económico e político tal como as conhecíamos até hoje.

Trump Power


Quase que em nota de rodapé, vão chegando notícias das primárias norte-americanas. Sem grande relevo e com destaques mínimos, a verdade é que pouco ou nada podemos fazer para influenciar a orientação de voto do eleitorado americano.


Mas não deixa de ser curioso o rumo que levam e, se pouco podemos fazer (para além de verbalizar indignação), já é verdade que podemos e devemos preocupar-nos. E porquê?

Porque, invariavelmente, a alternância entre democratas e republicanos na Casa Branca tem implicações diretas na Europa e no mundo – implicações essas que variam em função da estirpe do vencedor das eleições.

Assistimos em crescendo ao Trump Power e (para mim) não é uma questão de somenos importância. Não pelo estilo arrogante e a soberba machista que corporiza, mas pelo significado que a sua preponderância e real possibilidade de vencer as primárias representa. Há muito que se discute o problema da promiscuidade entre negócios e política e, independentemente do desfecho destas eleições e a confirmar-se a tendência de vitória de Trump, uma coisa já fica para a história: o poder económico tomou declaradamente o poder político.

Já tínhamos essa noção e os exemplos de corrupção ao mais alto nível atestavam isso mesmo. Mas o fenómeno Trump acaba de vez com as dúvidas. Põe fim a anos de luta entre poder económico e poder político. Mata de uma vez por todas a ética e abre uma caixa de Pandora que durante anos se tentou manter fechada.

Ganham as grandes corporações, a especulação e o poder económico. A palavra corrupção ganha um novo significado. Passa a ser sinónimo de negócio, avença ou comissão. A já ténue linha que a justiça traçava impedindo a intrusão do poder económico na vida política e pública desaparece.

O que sucederá efetivamente se Trump vier a ganhar as eleições primárias republicanas? E se ganhar as eleições para a Casa Branca? Passará o mundo a ser gerido de forma corporativa? Passam os líderes políticos a ser meros CEO? Morre a sensibilidade social, que sempre foi o último entrave à ferocidade capitalista do neoliberalismo? Passamos a olhar para o mundo de forma binária, numa lógica de lucro e prejuízo?

Trump representa mais do que um estilo desbocado e populista com um penteado estranho que invoca o humor. O Trump Power é o reverso da medalha do Obama Power e (deixem-me dramatizar) representa o fim das relações entre poder económico e político tal como as conhecíamos até hoje.