O génio humano


Nunca foi realmente Presidente dos portugueses, preferiu ser chefe de fação, sonhou que podia voltar atrás. Cavaco é um mau ser humano e servidor público. Funcionário dedicado. Que vá. Silencioso e amparado pelo anão


 “Antes que eu discurse, tenho algo importante a dizer” – Groucho Marx

Os quatro minutos da intervenção de Cavaco Silva a pretexto da outorga de oito medalhinhas a outros tantos patuscos, que sem rubor e perca de tempo, não fosse o diabo arrepender–se, aceitaram tão auspiciosa recompensa, são consequência de um cinismo que, de tão arreigado na criatura, passou a alucinada demência que o-ainda-Presidente passeia em desconcertante normalidade.

A Holanda comemora durante todo o 2016 um dos seus maiores pintores, Hieronymus Bosch. Homenageado com uma grande exposição da sua obra, a propósito dos 500 anos da sua morte, este génio criador da pintura dos finais da Idade Média e princípios do Renascimento, pintor do céu e da terra, convida-nos com os seus quadros a aproximarmo-nos do grotesco da condição humana.

Sempre gostei daquelas visões místicas, com os céus cheios de anjos que levam os bons e justos pelas mãos, e os infernos de caldeirões a ferver e mil suplícios à espera dos gananciosos, néscios, loucos e imbecis, arrastados pelos seus pecados. Toda a sua obra está repleta de mensagens sem distinguir classes, do Papa ao mendigo, mas em especial para os poderosos e seus acólitos.

Uma das que mais me agrada é “A Nave dos Loucos”, que representa a viagem da humanidade para a loucura ou para o fogo eterno, e que resultou de um poema satírico escrito por um teólogo que criticava a estupidez. Divertem-me muito as personagens de Bosch, que na sua anormalidade são capazes de refletir o melhor e o pior, isto apesar do seu tamanho, por vezes minúsculo.

Ouvir Cavaco Silva, que deambulou ao longo de toda a sua vida política ao ritmo do ressentimento, movido pelo preconceito e pela mesquinhez, por espasmos de mediocridade moral e gestos de intolerância, falar agora – para justificar a despesa – “de a gratidão para com pessoas diferentes, com visões diferentes, que contribuíram para a governação do nosso pais, ser um ato saudável em democracia”; ou que “à ingratidão pública, a República deve ter gestos de gratidão, sem que isso signifique qualquer juízo de valor; a República deve agradecer aos que deram o melhor de si próprios, com sacrifício e sem condições, para ajudar a construir um Portugal melhor”, provoca náuseas.

E as náuseas são maiores se recordarmos, entre o muito que é possível encontrar, a recusa a prestar qualquer homenagem ao Nobel José Saramago, incluindo a sua indisponibilidade para estar presente nas cerimónias fúnebres do escritor, ou a recusa a assinar a atribuição de uma pensão ao capitão e herói do 25 de Abril Salgueiro Maia, enquanto, sem estremecer, assinou rapidinho a atribuição de pensões a dois ex-inspetores da PIDE.

“Uma revolução na astronomia abre uma nova porta para entender o universo”, foi assim que o físico Stephen Hawking definiu a capacidade e experiência que permitiu detetar, e assim confirmar, a previsão das teorias do génio físico alemão Albert Einstein, em 1916, sobre o Universo e a existência de ondas gravitacionais.

Segundo a teoria geral da relatividade, existem objetos que convertem parte da sua massa em energia e a libertam sob a forma de ondas que viajam à velocidade da luz e deformam, à sua passagem, o espaço e o tempo.

É uma janela nova para estudar o Universo. Os cientistas afirmam que nasceu toda uma nova astronomia, com a confirmação da previsão da teoria de Einstein, que vai transformar a nossa visão do cosmos nas próximas décadas. Já não podemos duvidar da existência de buracos negros.

Eu, que não alcanço a globalidade da confirmação científica, emociono-me e fico alegre por viver numa época em que a espécie humana continua a explorar os limites da natureza, com a mesma emoção dos navegadores que enfrentaram o oceano desconhecido.

A cerimónia terminou. Os patuscos levaram para casa o acessório mais as fotos de ocasião, os tripés e cabos foram metidos nas caixas e o espetro voltou para a sala assistida.

Frio, sem pulso, há muito que não sente nada. Vive na agonia de alguém que prevê o fim, mas não sabe como sair de cena.

Nunca foi realmente Presidente dos portugueses, preferiu ser chefe de fação, sonhou que podia voltar atrás. Está confuso, parece que acabou. Cavaco foi um erro trágico, foi sempre um homem deslocado no tempo, fechado no espaço. Gosta de presépios.

Cavaco é um mau ser humano e servidor público. Funcionário dedicado. Que vá. Silencioso e amparado pelo anão.

Em 1851, em Londres, realizou-se uma das mais fantásticas partidas da história do xadrez, jogada entre Adolf Anderssen e Lionel Kieseritzky. Ficou desde então conhecida por “a Imortal” e tornou-se uma lenda.

A abertura foi a de gambito de rei, o jogo teve 23 lances e, depois de vários e extraordinários sacrifícios posicionais e materiais, as brancas conduzidas por Anderssen deram mate, apesar de as pretas estarem em absoluta superioridade de material. Mas isso não ajudou, porque as brancas foram capazes de usar as suas peças com mais agilidade e sentido criativo, acabando por forçar o mate.

O génio humano é fascinante, e a nossa capacidade de nos recriarmos e superarmos os momentos difíceis sobrepõe-se sempre ao infortúnio. Olhemos o futuro sabendo, de experiência feita, que existe sempre uma solução, que a nossa participação faz a diferença e que o amanhã só pode ser melhor.

Consultor de comunicação

Escreve às quintas-feiras

O génio humano


Nunca foi realmente Presidente dos portugueses, preferiu ser chefe de fação, sonhou que podia voltar atrás. Cavaco é um mau ser humano e servidor público. Funcionário dedicado. Que vá. Silencioso e amparado pelo anão


 “Antes que eu discurse, tenho algo importante a dizer” – Groucho Marx

Os quatro minutos da intervenção de Cavaco Silva a pretexto da outorga de oito medalhinhas a outros tantos patuscos, que sem rubor e perca de tempo, não fosse o diabo arrepender–se, aceitaram tão auspiciosa recompensa, são consequência de um cinismo que, de tão arreigado na criatura, passou a alucinada demência que o-ainda-Presidente passeia em desconcertante normalidade.

A Holanda comemora durante todo o 2016 um dos seus maiores pintores, Hieronymus Bosch. Homenageado com uma grande exposição da sua obra, a propósito dos 500 anos da sua morte, este génio criador da pintura dos finais da Idade Média e princípios do Renascimento, pintor do céu e da terra, convida-nos com os seus quadros a aproximarmo-nos do grotesco da condição humana.

Sempre gostei daquelas visões místicas, com os céus cheios de anjos que levam os bons e justos pelas mãos, e os infernos de caldeirões a ferver e mil suplícios à espera dos gananciosos, néscios, loucos e imbecis, arrastados pelos seus pecados. Toda a sua obra está repleta de mensagens sem distinguir classes, do Papa ao mendigo, mas em especial para os poderosos e seus acólitos.

Uma das que mais me agrada é “A Nave dos Loucos”, que representa a viagem da humanidade para a loucura ou para o fogo eterno, e que resultou de um poema satírico escrito por um teólogo que criticava a estupidez. Divertem-me muito as personagens de Bosch, que na sua anormalidade são capazes de refletir o melhor e o pior, isto apesar do seu tamanho, por vezes minúsculo.

Ouvir Cavaco Silva, que deambulou ao longo de toda a sua vida política ao ritmo do ressentimento, movido pelo preconceito e pela mesquinhez, por espasmos de mediocridade moral e gestos de intolerância, falar agora – para justificar a despesa – “de a gratidão para com pessoas diferentes, com visões diferentes, que contribuíram para a governação do nosso pais, ser um ato saudável em democracia”; ou que “à ingratidão pública, a República deve ter gestos de gratidão, sem que isso signifique qualquer juízo de valor; a República deve agradecer aos que deram o melhor de si próprios, com sacrifício e sem condições, para ajudar a construir um Portugal melhor”, provoca náuseas.

E as náuseas são maiores se recordarmos, entre o muito que é possível encontrar, a recusa a prestar qualquer homenagem ao Nobel José Saramago, incluindo a sua indisponibilidade para estar presente nas cerimónias fúnebres do escritor, ou a recusa a assinar a atribuição de uma pensão ao capitão e herói do 25 de Abril Salgueiro Maia, enquanto, sem estremecer, assinou rapidinho a atribuição de pensões a dois ex-inspetores da PIDE.

“Uma revolução na astronomia abre uma nova porta para entender o universo”, foi assim que o físico Stephen Hawking definiu a capacidade e experiência que permitiu detetar, e assim confirmar, a previsão das teorias do génio físico alemão Albert Einstein, em 1916, sobre o Universo e a existência de ondas gravitacionais.

Segundo a teoria geral da relatividade, existem objetos que convertem parte da sua massa em energia e a libertam sob a forma de ondas que viajam à velocidade da luz e deformam, à sua passagem, o espaço e o tempo.

É uma janela nova para estudar o Universo. Os cientistas afirmam que nasceu toda uma nova astronomia, com a confirmação da previsão da teoria de Einstein, que vai transformar a nossa visão do cosmos nas próximas décadas. Já não podemos duvidar da existência de buracos negros.

Eu, que não alcanço a globalidade da confirmação científica, emociono-me e fico alegre por viver numa época em que a espécie humana continua a explorar os limites da natureza, com a mesma emoção dos navegadores que enfrentaram o oceano desconhecido.

A cerimónia terminou. Os patuscos levaram para casa o acessório mais as fotos de ocasião, os tripés e cabos foram metidos nas caixas e o espetro voltou para a sala assistida.

Frio, sem pulso, há muito que não sente nada. Vive na agonia de alguém que prevê o fim, mas não sabe como sair de cena.

Nunca foi realmente Presidente dos portugueses, preferiu ser chefe de fação, sonhou que podia voltar atrás. Está confuso, parece que acabou. Cavaco foi um erro trágico, foi sempre um homem deslocado no tempo, fechado no espaço. Gosta de presépios.

Cavaco é um mau ser humano e servidor público. Funcionário dedicado. Que vá. Silencioso e amparado pelo anão.

Em 1851, em Londres, realizou-se uma das mais fantásticas partidas da história do xadrez, jogada entre Adolf Anderssen e Lionel Kieseritzky. Ficou desde então conhecida por “a Imortal” e tornou-se uma lenda.

A abertura foi a de gambito de rei, o jogo teve 23 lances e, depois de vários e extraordinários sacrifícios posicionais e materiais, as brancas conduzidas por Anderssen deram mate, apesar de as pretas estarem em absoluta superioridade de material. Mas isso não ajudou, porque as brancas foram capazes de usar as suas peças com mais agilidade e sentido criativo, acabando por forçar o mate.

O génio humano é fascinante, e a nossa capacidade de nos recriarmos e superarmos os momentos difíceis sobrepõe-se sempre ao infortúnio. Olhemos o futuro sabendo, de experiência feita, que existe sempre uma solução, que a nossa participação faz a diferença e que o amanhã só pode ser melhor.

Consultor de comunicação

Escreve às quintas-feiras