Grammys. Uma mão cheia de nada

Grammys. Uma mão cheia de nada


Numa noite que se esperava de consagração para Kendrick Lamar foi Taylor Swift, com “1989”, a vencer o Melhor Álbum do Ano. O rapper levou cinco Grammys para casa e parece, ainda assim, ter perdido.


Há cerimónias assim. Aliás, as cerimónias são assim. Umas acabam com um prémio honorário e um aplauso de dez minutos, outras terminam com Sofia Vergara, vestida de taxi, a twerkar como a Miley Cyrus nunca conseguirá, ao som de Pitbull e de Robin Thicke. Estética à parte – e aí é que a coisa se complica – as cerimónias de entrega de prémios começam a soar a estranhas quando alguém que levou cinco Grammys para casa parece ter sido derrotado.

Falamos de Kendrick Lamar, o senhor que saltou a cerca do hip-hop para tornar este estilo tão global quanto nunca antes, o senhor que encabeçou todas as listas, o senhor de quem se escreveu mais linhas durante 2015. Kendrick Lamar arrecadou 5 prémios: Melhor Música Rap, Melhor Performance Rap, Melhor Colaboração Rap, Melhor Teledisco e Melhor Álbum Rap. Conclusão? Ganhou no seu estilo, o mesmo que fez por furar em “To Pimp a Butterfly”, disco que foi ultrapassado por “1989”, de Taylor Swift, como Melhor Álbum do Ano. A vencedora da noite. Sobretudo por ter sido a primeira mulher a ganhar o mesmo prémio por dois anos. A norte-americana de 26 anos ganhou ainda nas categorias de Melhor Álbum de Pop Vocal e Melhor Teledisco, com a faixa “Bad Blood”, com colaboração de Kendrick Lamar.

Muitos são os que dirão que o rapper de Compton é um dos grandes vencedores da noite. Cinco estátuas é motivo de orgulho, quanto a isso não há discussão, o que aqui se debate é antes uma segregação musical, onde a pop terá sempre o trono e qualquer estilo que quiser meter o dedo vai sair com o mesmo queimado. Uma enormidade de orgãos de comunicação social norte-americanos anunciavam que esta era a grande noite de consagração do rap como estilo e de Kendrick Lamar como dono deste reinado. Ideia que ficou escondida debaixo das lantejoulas de Taylor Swift. Caso para dizer de mal o menos, já que uma derrota com cinco prémios podia ser pior.

Taylor Swift é a senhora do momento. Tanto que não hesitou em lançar a farpa a Kanye West, o mesmo que na recente faixa “Famous” (que consta do novo disco “The Life of Pablo”), onde Yeezy afirma: “I made that bitch famous”. Declaração de guerra que Swift retaliou no seu discurso, embora nunca sem dizer nomes. “Gostava de dizer a todas as jovens mulheres que estão aí que vão existir pessoas que vão tentar rebaixar o vosso sucesso ao longo do caminho, ou ganhar crédito pelas vossas conquistas ou fama. Mas se continuarem a focar-se no vosso trabalho, vão olhar em redor e entender que foram vocês e quem vocês amam que vos levaram aí. Esse vai ser o melhor momento de todos”.

Outros vencedores. Ed Sheeran é que também não podia sair destes Grammys sem um souvenir para estimar no regresso ao Reino Unido. “Thinking Out Loud” foi a Música do Ano, pois claro, tal como Melhor Performance a Solo. Na música alternativa foram os Alabama Shakes quem dominaram: Melhor Performance Rock e Melhor Canção Rock com “Don’t Wanna Fight” assim como Melhor Álbum Alternativo com “Sound & Color”. Uma palavra ainda para o Melhor Álbum Rock para “Drones” de Muse. Um disco que mais parece dubstep. Eis os Grammys.