Um nome praticamente desconhecido que de repente se viu associado a um clássico (a Brito o que é de César, diz-nos um benfiquista que nem sequer era nascido quando Brito fez de imperador no Porto). Foi uma grande obra. Ou melhor, foram duas grandes obras: o Benfica ganhou 0-2, ultrapassou o Porto de Artur Jorge a quartro jornadas do fim e foi campeão.
Como? Eriksson olhou para o relógio, 80 minutos de jogo, e depois olhou para banco e viu Magnusson e Isaías, mas escolheu César Brito. O resto foram dois golos e o título de 1990-91 no bolso do Benfica em plenas Antas. Já sabemos a história, mas quem nos conta é Paulo Madeira, esse mesmo, como ele se autodefine – “aquele que foi treinar para a praia e do cabelo grande”.
“Fizemos a festa com o Marítimo”. Certo. Depois do Porto, foi “só” empatar com o Sporting em casa (1-1) e três vitórias até final: Farense (2-0), Marítimo (0-2) e Beira-Mar (3-0).
Em 1991, Madeira tinha 21 anos. Agora é agente de jogadores mas nessa decisiva 34.ª jornada do campeonato foi o central titular desse jogo nas Antas. Ao lado de Ricardo Gomes? Nada disso. “Jogámos com três centrais”. Uooooo. Este sueco (Sven-Goran Eriksson) gostava mesmo de inventar. Vá lá, correu bem. Paneira no corredor direito, Ricardo à esquerda e… William como líbero. Uoooo ganda doido este Eriksson (o treinador sueco estava na segunda aventura no Benfica, depois de uma primeira passagem em 1982-84).
Alô Paulo, tens dois minutos para falar do clássico, desse que aí vem e dos que já passaram?
Claro.
Inevitavelmente, há aquele jogo das Antas do César Brito…
(risos) Claro, esse clássico das Antas foi e ficou célebre, é incontornável. Chegámos lá e o balneário tinha um cheiro insuportável, emprenhado nos corredores, em todo lado. Alguns jogadores com tonturas…
Foi simpático, estou a ver.
Sim uma smipatia. O senhor das limpezas fez uma daquelas limpezas muito profundas.
Mas isso pelos vistos não afectou nada.
Às vezes acontece isso. Esse tipo de contrariedades fortalece o grupo, torna-nos mais unidos. Foi o que aconteceu. Quando dá para ser positivo, corre bem e o tudo o resto sai bem. Podia ter dado para o torto. Neste caso fez os jogadora crescerem.
O Porto de hoje e o dessa altura é muito diferente?
Era mais difícil, jogar nas Antas naõ era mesmo nada fácil. Havia sermpre confusão, naquele ano os percalços antes do jogo deram força e união e o Benfica carimbou o passaporte para ser campeão.
É isso que hoje falta ao Benfica, impor-se nos jogos grandes?
Sim, nos jogos cruciais também tem que demonstrar que tem qualidade e que é superior a esses adversários. E tem agora a oportunidade para isso, para inverter essa tendência.
É aqui que nos lembramos do relato de Fernando Correia nas Antas e dos gritos na rádio com os golos de César Brito. Diz ele: “Naquela tarde, marcou dois golos. Foi uma coisa trágica para os portistas. Esse jogo acabou mal, com muita confusão nos balneários. Deu muito que falar. É estranho, mas a animosidade entre FC Porto e Benfica é superior à que existe entre o Benfica e o Sporting. Não se percebe.”. Paulo Madeira também concorda (com aquele jogo das Antas) e diz que a escolha de Eriksson foi na mouche.
Como é que se olha para o banco com Magnusson e Isaías se escolhe o Brito. Foi feeling?
Foi. A substituição provocou a reviravolta. Até o próprio César Brito viu a sua carreira mudar radicalmente. Foi positivo para ele, devido a isso renovou contrato. Esses 20 minutos mudaram tudo.
(Na realidade foram dez minutos – entrou aos 80, marcou aos 81 e aos 85).
Este Porto de Peseiro pode meter algum medo ou está longe daquele Porto de Villas-Boas que foi à Luz virar uma eliminatória para a Taça (2-0 para 1-3)?
O jogo desta sexta-feira é diferente desse das Antas e desse do Villas-Boas por duas situações. A primeira porque joga fora e o Porto agora enfrenta um estádio que está a começar a parecer um local difícil para os adversários. Por culpa da equipa de Vitória claro, mas também por causa dos adeptos.
E onde é que fica aqui espaço para a Liga dos Campeões?
“A Liga dos Campeões causa maior desgaste do que a Liga Europa e o Benfica quer chegar longe. Este mês será importantíssimo e o Benfica terá que estar concentrado para conquistar os objectivos propostos no início da época”.
Esse objectivo foi basicamente a conquista do tri. Foi assim que acabámos a conversa. Com um conselho e uma última pergunta, afinal o Paulo Madeira foi mesmo mandado pelo Artur Jorge para a praia para se treinar? Ou é mito?
(risos) É verdade. Mas não guardei rancor. Na altura, chamou-me ao gabinete dele e disse que estava dispensado e eu disse-lhe: ‘Então ainda há seis meses disse que contava comigo, para me renovarem o contrato e agora manda-me embora’? Tinha estado com o Gaspar Ramos e renovámos o contrato e agora estava a ser dispensado. ‘Se ficares aqui vais treinar para a praia’”.
E foste mesmo treinar para a praia?
(outra vez risos) Não. Foi uma expressão que ele usou, mas não se concretizou. Depois encontrámo-nos no Belenenses e ficou tudo bem. Fiquei conhecido como o jogador que foi treinar para a praia e que tinha o cabelo comprido.