Desta vez as sondagens acertaram e tanto Donald Trump como Bernie Sanders confirmaram as vitórias anunciadas em New Hampshire. Com a corrida de delegados liderada por dois representantes dos eleitores mais extremistas, republicanos e democratas reavaliam estratégias para mobilizar as bases.
Mais do que a pesada derrota imposta pelo surpreendente Bernie Sanders, os alarmes dispararam ontem na equipa de campanha de Hillary Clinton devido aos detalhes. A ex-secretária de Estado não conseguiu repetir a proeza de 2008 – quando contrariou as sondagens para bater Barack Obama em New Hampshire – e em relação há oito anos perdeu votos em todos os segmentos exceto nos eleitores com mais de 65 anos.
Na declaração escrita em que reconheceu a derrota, Clinton sublinhou o “alto nível de apoio recebido entre eleitores afro-americanos e comunidades hispânicas”. Mas os 55% de voto feminino que os estudos à boca da urna atribuem a Bernie Sanders são um sinal preocupante para uma candidata que espera tornar-se a primeira mulher a chegar à presidência dos EUA.
Se a isso se somar as derrotas entre os eleitores mais jovens e nos representantes da classe média, compreende-se o pânico instalado na sua campanha. E entre o aparelho de um partido que não se mostra eufórico com a ideia de ter um candidato presidencial que fala de Wall Street como um ninho de gente “gananciosa, fraudulenta, desonesta e arrogante”. Como tal, o staff de Hillary continua a antecipar que o mês de março – que se inicia com uma ‘super terça-feira’ em que estarão em jogo 878 delegados de 13 estados, sendo que Hillary lidera as sondagens em nove – formará uma “liderança de delgados forte, talvez insuperável”.
Mas Sanders e as suas propostas, como aumentar os impostos dos mais ricos, revogar a Obamacare para finalmente universalizar os cuidados de saúde subsidiados pelo Estado ou criminalizar as crises bancárias que são pagas pelos contribuintes, estão a ter tanta adesão entre o eleitorado democrata como o radicalismo de Trump soma apoios entre conservadores.
Nos detalhados estudos eleitorais que se seguem a cada eleição nos EUA, outro dado saltou à vista em New Hampshire: mais de metade dos eleitores republicanos questionados disseram concordar com a proposta do magnata em proibir a entrada de muçulmanos no país. Isto apesar da sua pujante vitória o ter deixado ficar nos 35,1%.
Mas mais do que a já esperada vitória de Trump, a noite republicana ficou marcada pela queda de Marco Rubio, que no Iowa se tinha afirmado como o candidato ‘moderado’ apoiado pelas bases. Depois de um desastroso debate no sábado, Rubio caiu do 2.º lugar apontado pelas sondagens para uma desmoralizante quinta posição nas urnas, sem direito a qualquer delegado. “Vai ser um banho de sangue na Carolina do Sul”, disse ao “Politico” um membro da sua equipa referindo-se à luta entre moderados na votação que se segue.
Mas, curiosamente, o homem que encostou Rubio às cordas no debate, Chris Christie, não capitalizou os ataques que derrubaram o senador da Florida. Depois dos 1,8% no Iowa, o governador de Nova Jérsia ficou-se pelos 7,4% em New Hampshire, o que o leva a não ter qualquer delegado após as duas primeiras votações.
Números fortes demais para continuar a sonhar em chegar à Casa Branca e ontem à tarde os principais meios de comunicação norte-americanos davam como praticamente certa a sua desistência. A confirmar-se, a luta republicana fica reduzida a oito candidatos após duas votações – antes do Iowa eram 12.
A luta de Rubio pelo apoio do partido, e principalmente o financiamento que daí vem, será agora com John Kasich e Jeb Bush, dois candidatos do campo dos moderados que o ultrapassaram na noite de terça-feira. Com o segundo lugar alcançado com os 15,8% de eleitores, Kasich tomou agora a liderança entre o grupo de governadores (ele no Ohio, Bush como ex na Florida) que rapidamente atacou Rubio pela sua inexperiência governativa – cumpre o primeiro mandato no Senado.
Espera-se agora um ataque forte destes dois candidatos à Carolina do Sul e ao Nevada, como forma de chegar ao decisivo mês de março com hipóteses reais de chegar à vitória. Ou Bush investe bem os mais de 100 milhões de dólares angariados ou ainda se vê obrigado a cedê-los a alguém que possa bater Trump.