Os ordenados em Lisboa estão mais de 25% acima da média do país. De acordo com os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), relativos a 2014, a média salarial na capital é de 1139 euros, de 229 euros acima da média nacional.
Esta diferença é justificada pelo tipo de trabalho que está localizado nesta zona de Portugal. “A média é maior nesta área porque devido ao tipo de trabalho que existe em Lisboa. Os bons empregos, em termos de remuneração, concentram-se na capital”, justifica João Cerejeira, economista e professor na Universidade do Minho.
Em sentido contrário, as zonas mais penalizadas pelas desigualdades regionais são o Algarve, o Centro e o Alentejo, segundo a informação estatística do INE.
Em 2014, a média de salários foi de 788 euros na zona centro, 804 no Alentejo e 780 no sul de Portugal. E em todas estas regiões o salário médio desceu nos últimos anos. Como há um peso elevado da função pública nestas zonas, diz João Cerejeira, os cortes salariais durante o programa de assistência financeira afetaram a média de vencimentos na globalidade do território.
Média salarial desce A única surpresa é a zona norte, onde os ordenados médios têm vindo a subir nos últimos anos. Nesta região, o vencimento médio atingiu 812 euros em 2014. Uma subida que muito tem dependido do crescimento das exportações, do turismo e do fraco peso da função pública, explica o economista.
De resto, o salário médio em Portugal, que atingiu 909 euros em 2014, registou descidas no período da troika. Os portugueses recebiam em média 912 euros em 2013. Entre 2007 e 2012, a média do ordenado dos portugueses subiu de ano para ano. Mas, a partir de 2012, esta trajetória nos vencimentos inverteu-se.
Troika reduziu salários Para João Cerejeira, esta inversão não é uma surpresa e pode justificar-se pela austeridade em Portugal. “Em 2012 foi o ano em que tivemos os salários já negociados no período da troika. Além disso, em 2011, houve uma subida do desemprego, o que fez com que houvesse mais pressão para que os salários fossem revistos em baixa”, explica, acrescentando que as previsões apontam para que este ano a subida do ordenado mínimo e a contratação coletiva tragam aumentos salariais moderados da média do país: “É importante ter em conta o número de portugueses que recebem o salário mínimo. Aumentando este valor, a média aumenta também”.
A guerra dos sexos O problema das assimetrias salariais não existe apenas a nível regional. As diferenças de género também marcam a economia portuguesa. Em 2014, as mulheres portuguesas ganhavam em média 820 euros e os homens 985 euros.
Mas, para o economista da CGTP Eugénio Rosa, esta divergência salarial também trouxe um peso acrescido para os homens nos últimos anos: foram alvo de mais despedimentos do que as mulheres.
“Os homens recebem mais, mas também foram mais afetados por isso. Não só no desemprego, mas também porque as empresas, para baixar os custos, procuraram substituir trabalhadores por outros com remunerações mais baixas”, explica Eugénio Rosa.
Ordenados esmagados Segundo explica o economista da CGTP, nos anos do programa de assistência financeira muitos trabalhadores foram substituídos por pessoas com vencimentos mais baixos, apesar de terem uma maior escolaridade. “Há ofertas de postos de trabalho para engenheiros e arquitetos, publicitadas nos centros de emprego, com remunerações entre 600 e 800 euros”, exemplifica.