Zika. Cidades brasileiras trocam Carnaval pelo combate ao mosquito

Zika. Cidades brasileiras trocam Carnaval pelo combate ao mosquito


Roupas reduzidas, acumulação de lixo e chuva serão um “cocktail explosivo” para a propagação do vírus que é já uma emergência mundial.


Primeiro foram várias as cidades brasileiras que cancelaram ou reduziram as festividades carnavalescas devido à maior recessão que o país enfrenta desde 1930. Agora, o problema é outro: o vírus zika e a dengue.

Por isso, o Carnaval deste ano vai ser menos animado para os habitantes das 11 cidades brasileiras que vão trocar os investimentos públicos nas festas de Carnaval por meios de combate ao mosquito Aedes aegypti, responsável pela transmissão do vírus zika, dengue e chikungunya.

A clínica da Sociedade Brasileira de Infectologia já descreveu as celebrações como um “cocktail explosivo” para a transmissão do vírus, numa altura em que muitos turistas acorrem ao local e que, em geral, usam pouca roupa, estando assim mais vulneráveis à picada do mosquito.

Segundo vários cientistas, além das roupas reduzidas, a acumulação de lixo e a possibilidade de chuva podem também facilitar a propagação do vírus. Só no Rio de Janeiro, que não vai cancelar nem reduzir o Carnaval, são esperados cerca de um milhão de turistas.

O Carnaval das cidades de Antonina e Paranaguá também foi cancelado devido ao mosquito. As cidades estão a pensar em adiar os festejos do Carnaval para o mês de julho, numa altura em que a contaminação será menor, principalmente devido à temperatura.

Em Campinas, na cidade de Nova Odessa, os 80 mil reais destinados às festas vão ser usados para contratar funcionários que atuarão em ações de combate ao mosquito e, consequentemente, às doenças relacionadas.

No último semestre de 2015 foram registados 1401 casos de dengue na cidade de Ribeirão Preto, uma das cidades que vai cancelar as festividades de Carnaval. Segundo Stenio Miranda, o secretário da Saúde da cidade, a dengue e o zika vão gerar um custo entre 15 milhões e 20 milhões de reais para a cidade em recursos de infraestruturas e da área da saúde.

A crise e o vírus assustam, mas há quem não tenha medo. “Vamos ter Carnaval, independente da crise. Essa é a forma como o Brasil e o Rio de Janeiro estão”, disse Rita Fernandes, diretora da Sebastiana, a Associação Independente dos Blocos de Carnaval de Rua da Zona Sul, Santa Teresa e Centro da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. “Parece que a dificuldade económica contribui para o desejo das pessoas de ir para as ruas festejar”, acrescentou.

Pouco depois de a Organização Mundial da Saúde ter declarado o vírus como emergência mundial, a presidente brasileira, Dilma Rousseff, prometeu que “não vão faltar recursos financeiros” no combate ao zika.

Para a presidente brasileira, “o combate ao vírus é uma prioridade para 2016”.

Sem restrições É verdade que o vírus zika se tem espalhado de forma relativamente rápida um pouco por todo o mundo. Mas também é verdade que, neste momento, o surto de microcefalia só existe no Brasil.

Nesse sentido, Anthony Costello, diretor do Departamento de Saúde Materna da Organização Mundial da Saúde, afirmou que não há nenhuma recomendação relativa a viagens aos 25 países que já foram atingidos pelo vírus.

Em entrevista à Rádio ONU, Costello garantiu que “neste momento não existe qualquer proibição do comité de emergência a viagens ou comércio”. Ainda assim, no caso das grávidas ou de mulheres que estejam a pensar engravidar, a viagem deve ser bem ponderada. Por isso, Costello avisa que “as pessoas que queiram viajar para a região [Brasil] e que possam estar grávidas ou a pensar engravidar, devem considerar o que vão fazer”.

De referir que além das festas do Carnaval, que atraem milhares de turistas, o Brasil será o palco dos Jogos Olímpicos deste ano, em agosto.

Costello garante que o “zika não é uma infeção que ameaça a vida das pessoas, como o HIV ou o ébola”. O problema, segundo Costello, são os vários casos de microcefalia associados ao vírus.

O Ministério da Saúde brasileiro confirmou ontem 404 casos de microcefalia entre outubro e janeiro, dos quais 17 estão relacionados com o vírus zika. No país existem ainda 3670 casos suspeitos que estão a ser analisados.

OMS alerta Europa O departamento europeu da Organização Mundial da Saúde já aconselhou os países europeus a tomarem medidas para a prevenção do vírus, que poderá tornar-se uma ameaça maior com a chegada dos meses mais quentes. “Todos os países europeus em que os mosquitos Aedes estão presentes podem vir a sofrer com a propagação da doença do vírus zika”, alertou Zsuzsanna Jakab, diretora-geral da OMS.

Recorde-se que até ao momento não existe vacina nem cura para o vírus, mas a hipótese está a ser estudada pela farmacêutica francesa Sanofi Pasteur, que já desenvolveu a vacina contra a dengue.

daniela.ferreira@ionline.pt