Save Beer, Drink Hinds

Save Beer, Drink Hinds


A banda espanhola soma e segue. Editaram “Leave Me Alone” há um mês e já o apresentam amanhã no Musicbox


Festas do pijama para gente grande. Ver o teledisco de “Davey Crockett” é um mergulho de cabeça nesse ambiente matinal pós pub-crawl onde, à chegada a casa, se misturam guerras de almofadas com solos desgrenhados de guitarra e a porta do congelador por fechar. E nós a continuarmos a achar que uma banda é o que se dá a mostrar, mas “nem por isso”, diz-nos Ana García Perrote antes de prosseguir: “É verdade que estamos sempre em festa, mas preferimos bares e cervejas em vez de almofadas.” Dito isto, fica dado o mote ou a obrigação de ter o abre-latas no bolso mais próximo, espécie de chave de casa, na hora de escutar “Leave Me Alone”, disco de estreia das quatro espanholas mais adoradas do momento. Assim não fosse e o concerto de amanhã, no Musicbox, não estaria esgotado.

Antes de chegarmos a Hinds temos de passar pelas Deers. Duo de gravata na maçaneta composto por Ana García Perrote e Carlotta Cosials, embrião que calhou fazer uma viagem ao sul de Espanha e terem “duas guitarras e pouco para fazer”. Aí nasceram as Deers que, em 2014, editaram “Demo”, um single de dois temas de onde se retira “Bamboo” como início de tudo isto. Gravação caseira que também lhes serviu para perceber que precisavam de gente como Ade Martín e Amber Grimbergen, que já eram amigas antes de serem colegas de banda. Mudança de nome obrigatória devido a uma ameaça de processo legal de uma outra banda com o nome Deers, história que se cruza com a primeira vez que atuaram em Portugal, em 2014. “No dia em que o nosso agente nos disse que tínhamos de mudar o nome da banda porque tinha recebido um mail foi precisamente um dia antes de atuarmos no Mexefest”, afirma Ana García Perrote a propósito da incrível relação que dizem ter com o público português: “Em Paredes de Coura, toda a gente queria tirar fotos connosco.”

Reflexo de um jeito ibérico de fundir copos e música, lazer e cultura, as Hinds não fogem à regra até porque “se vais ver uma fotografia das Hinds, provavelmente vais encontrar uma cerveja por lá”, confirma. Este pop-rock-garage, algures entre calças de ganga de cintura subida e sweatshirts a cobrir os joelhos – coisa que fica ali perto do pop meloso de Mac DeMarco, costas com costas com a urgência em partir as cordas à guitarra de Ty Segall -, tem agradado a tanta gente que não há, entre os media especializados, quem não lhes tenha dedicado um artigo nos últimos tempos. “É estranho”, desabafa Ana García Perrote sem deixar de mostrar entusiasmo: “É claro que já tínhamos atenção antes de editar o disco, sabíamos disso, e o disco é algo arriscado, não está muito produzido, é cru, parece uma coisa ao vivo. Pensámos que talvez fosse demasiado, mas decidimos ir em frente. É estranho, mas sabe bem.”

E “Leave Me Alone” porque sim. Na lógica do gostes-ou-não-temos-sempre-a-cerveja, que tem tanto de ingénuo como de orelhudo. Deixemo-las, portanto, fazer das suas, ainda que existam aqui notas menos bem tocadas, sobretudo porque o intuito é mesmo esse, quase quando-saíres-fecha-a-porta. “É claramente um primeiro álbum. Estamos contentes por entrar nesta indústria com este disco. É puro, não estamos a esconder nada, ficámos bêbedas antes de escrevermos as letras, é algo que vem de um lado profundamente pessoal. Queríamos soar como os nossos concertos, é muito honesto.” O nosso pedido também: um copo depois do concerto?