Poderíamos começar este artigo com uma referência à música ‘Para Ti Maria’ dos Xutos & Pontapés, mas preferimos (desta vez) ir diretamente ao ‘cérebro’ da questão. “Como eu, Carrilo tem os mesmos direitos”, afirmou Jorge Jesus em conferência de imprensa, a 29 de janeiro. Bem dito, bem feito. Quatro dias depois, André Carrillo não precisou de nenhum avião – a viagem esteve longe de durar 9 horas – para dar cabo da tolerância dos adeptos leoninos e ser apanhado no radar do Benfica.
Foi o próprio Sporting que desvendou na terça-feira o futuro do internacional peruano – livre para assinar contrato por outro clube desde o dia 1 de janeiro –, após ter sido notificado oficialmente pelos encarnados. Um caminho traumático que faz aumentar exponencialmente a rivalidade entre as duas equipas, agravada depois do ‘rapto’ de Jesus no início da época. Mas calma, não são os únicos que pularam a cerca. A história apresenta-nos outros nomes que arriscaram trocar de morada na Segunda Circular. Origem? Alvalade. Destino: Luz. É só seguir o GPS do i.
José Pérides diz-lhe alguma coisa? É que foi o médio moçambicano, vencedor de uma Taça das Taças com Otto Glória, que abriu a ‘caixa de Pandora’ em 1964, ao protagonizar uma transferência pouco vulgar até então. Deixou os leões, onde chegou aos 21 anos de idade, para assinar pelas águias.
Seguiu-se Botelho (1979/80), formado nas escolas do Benfica e contratado mais tarde ao Atlético para ser suplente de Vítor Damas. Foi apanhado no meio da guerra aberta entre Benfica e Sporting que aqueceu o verão de 1979 e seguiu para a Luz na companhia do defesa Laranjeira, que não chegou a acordo para a renovação de contrato. Em sentido inverso, Fidalgo e Eurico passaram a pisar o relvado equipados de verde e branco.
Já depois de Fernando Mendes (defesa esquerdo) também ter trocado de camisola (1989/90), alegando ordenados em atraso, Amaral (extremo) e Marinho (lateral direito) foram resgatados pelas águias em retaliação ao verão quente de 1993, que levou Paulo Sousa e Pacheco a equipar de leão ao peito. Quim Berto (defesa) também foi seduzido por um contrato ‘melhorado’ (2001/02) e Yannick Djaló (avançado) recrutado em 2011/12 após um litígio do jogador com o Sporting e uma transferência falhada para o Nice.
Apenas alguns capítulos de uma guerra que até começou há mais de 100 anos e em sentido inverso. Corria o ano de 1907 quando oito jogadores do Benfica (José da Cruz Viegas, Emílio de Carvalho, Albano dos Santos, António Couto, António Rosa Rodrigues, Cândido Rosa Rodrigues, Daniel Queirós dos Santos e Henrique Costa) deixaram o então denominado Sport Lisboa para rumar ao Campo Grande. O motivo? Melhores condições de trabalho.
Talvez tenha sido essa a razão que levou Carrillo a atravessar a Segunda Circular, a julgar pelos números do negócio que o vai levar a jogar de águia ao peito até 2021: 4 milhões de euros brutos de salário anual + 2,5 milhões de prémio de assinatura. Até Elio Casareto, empresário do peruano, recebe um bónus de 2 milhões.