Agora que o quadro político português parece definido e com a confirmação da crescente ausência de ideologia no debate político, apeteceu-me recuar 500 anos no tempo e evocar uma obra de que certamente – assim o espero – se irá falar durante este ano: “Utopia”, de Thomas More.
O autor, como sabemos, acabou por morrer decapitado, mas não exatamente por causa do livro que escreveu.
“Utopia” é, numa primeira parte, uma crítica violenta à sociedade inglesa feudal, já decadente, recheada de “bandos de ladrões”, com uma justiça “cega e cruel” e uma realeza “ávida de riquezas”, e com um fosso cada vez maior entre ricos e pobres.
Assim, More inventa a ilha da Utopia, que significa “lugar inexistente”. E ali cria o que considerou a sociedade perfeita: tolerante, pacífica, de livre escolha e onde o parlamento zelava pelo bem do povo.
More acreditava sobretudo que a propriedade individual e o dinheiro são incompatíveis com a felicidade.
Assim, o livro foi a primeira inspiração da sociedade socialista, cuja concretização, quatro séculos depois, não deu propriamente bons resultados.
No entanto, 500 anos passados, muitas das críticas levantadas por More, devidamente adaptadas ao nosso tempo, permanecem atuais.
Será talvez o tempo de partirmos em busca de um novo “lugar inexistente”.
Até porque, citando Sebastião da Gama, “pelo sonho é que vamos”.
Escreve à segunda-feira