O Sol brilhará para todos nós ou a segunda derrota de António Costa


Segundo dizem os analistas, a coisa seguiu o seu rumo normal: Marcelo Rebelo de Sousa é o novo Presidente da República e o Primeiro Ministro António Costa estará agradado com a escolha da maioria dos portugueses que foram votar.


A questão, mais uma vez, não é o ponto de chegada, mas a do ponto de partida. Não aquele que deu várias voltas de vantagem a Marcelo, por via do comentário televisivo em jeito de “conversa em família”, mas o do posicionamento do PS perante as presidenciais.

O PS saiu do XX Congresso Nacional, em novembro de 2014, com a orientação política para “ apoiar convictamente um candidato” nas eleições para Presidente da República, depois de dez anos de Cavaco Silva. Pela primeira vez em 41 anos, não apoiou oficialmente nenhum. Pela porta do cavalo, não foi bem assim.

A Direção do PS, sob a liderança de António Costa, deu vários sinais de estímulo à candidatura de Sampaio da Nóvoa, da sua participação no Congresso Nacional a eventos gerados nos poderes do PS, passando pela convicção do candidato nos contatos com as estruturas de que teria o apoio do PS até ao final do Verão de 2015. Seria o candidato das Esquerdas.

Perante a ausência de estratégia política e a proliferação de candidaturas à Esquerda, o Secretário Geral apelou ao voto dos socialistas nos dois candidatos considerados: Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa. E o Povo Socialista não correspondeu. Aliás, entre as Legislativas e as Presidenciais, considerando os candidatos objeto do apelo de António Costa, o PS perdeu quase meio milhão de votos.

Apesar da abstenção, houve quem estivesse satisfeito com a participação.

Apesar do candidato da Direita e afins ter sido eleito à primeira volta, dizem haver alegria na coabitação com Marcelo.

Apesar de ter perdido a segunda eleição seguida, António Costa que não assumiu as responsabilidades políticas como líder do PS, escondeu-se atrás do biombo de primeiro ministro e falou depois do presidente eleito. Definitivamente, a tradição já não é o que era.

Não sei se continuaremos a ter um Tribunal Constitucional com tempos políticos de pronúncia; se os resultados das candidaturas do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista Português, por razões diferentes, suscitarão mais marcação de agenda política e mais reivindicação ou se a coabitação entre a fragilidade do apoio parlamentar do governo e a hiperatividade da personagem presidencial vai ser uma realidade. O que sei é que a Esquerda, a tal das posições políticas conjuntas para derrubar a Direita, foi incapaz de ser ganhadora ou de forçar uma segunda volta.

E como não padeço de nenhuma maleita que transforma derrotas em vitórias, é uma evidência que a candidata que apoiei como cidadão, Maria de Belém, teve um resultado muito aquém das expetativas, do seu percurso político e do seu valor real. 

É engraçado, não engraçadinho, o aparente contágio da sociedade pela tradicional atitude eleitoral do PCP: tudo é vitória mesmo quando se perde. Inebriados neste “o Sol brilhará para todos nós”, assistimos mesmo à desfaçatez de analistas, comentadores, jornalistas de causa e afins que, nos intervalos de prosas de apoio aos poderes em funções, proclamam o óbito político de quem pensa diferente e de quem não teve nenhuma intervenção política ativa. Em boa verdade, a única coisa que morreu é a vergonha na cara de quem ensaia querer transformar derrotados em vencedores, sem cuidar do ridículo. Por mais entusiasmadas que sejam as declarações de óbito destes cangalheiros do teclado, só morre quem desiste de pensar e agir em coerência com os seus valores, os seus princípios e a sua visão do mundo.

Já nada nos surpreende. Nem mesmo o preocupante sinal das eleições intercalares para a Câmara Municipal de São João da Madeira. O PSD tinha ganho em 2013, mas era minoritário. Ganhou agora com maioria absoluta.

No atual quadro político, sem a adequada atenção para o Poder Local, com os fundos comunitários embrulhados, com o governo nos gabinetes a responder a perguntas, requerimentos e concertações com os parceiros políticos  e com reversões de medidas para os que sempre estiveram dentro do sistema, até parece que a declaração de princípios de alguns se resume a “ conquistar e manter o poder”. É poucochinho para a exigência da empresa que o País tem no horizonte e  pode levar a que, para o PS, não haja duas sem três, derrotas.

Sol na eira. A candidatura de António Guterres a secretário geral das Nações Unidas.

Chuva no nabal. O comprovado embuste de Passos e Portas na narrativa da devolução da sobretaxa em 2016. Zero de encaixe, resmas de demagogia. Miserável.

Escreve às quintas feiras.


O Sol brilhará para todos nós ou a segunda derrota de António Costa


Segundo dizem os analistas, a coisa seguiu o seu rumo normal: Marcelo Rebelo de Sousa é o novo Presidente da República e o Primeiro Ministro António Costa estará agradado com a escolha da maioria dos portugueses que foram votar.


A questão, mais uma vez, não é o ponto de chegada, mas a do ponto de partida. Não aquele que deu várias voltas de vantagem a Marcelo, por via do comentário televisivo em jeito de “conversa em família”, mas o do posicionamento do PS perante as presidenciais.

O PS saiu do XX Congresso Nacional, em novembro de 2014, com a orientação política para “ apoiar convictamente um candidato” nas eleições para Presidente da República, depois de dez anos de Cavaco Silva. Pela primeira vez em 41 anos, não apoiou oficialmente nenhum. Pela porta do cavalo, não foi bem assim.

A Direção do PS, sob a liderança de António Costa, deu vários sinais de estímulo à candidatura de Sampaio da Nóvoa, da sua participação no Congresso Nacional a eventos gerados nos poderes do PS, passando pela convicção do candidato nos contatos com as estruturas de que teria o apoio do PS até ao final do Verão de 2015. Seria o candidato das Esquerdas.

Perante a ausência de estratégia política e a proliferação de candidaturas à Esquerda, o Secretário Geral apelou ao voto dos socialistas nos dois candidatos considerados: Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa. E o Povo Socialista não correspondeu. Aliás, entre as Legislativas e as Presidenciais, considerando os candidatos objeto do apelo de António Costa, o PS perdeu quase meio milhão de votos.

Apesar da abstenção, houve quem estivesse satisfeito com a participação.

Apesar do candidato da Direita e afins ter sido eleito à primeira volta, dizem haver alegria na coabitação com Marcelo.

Apesar de ter perdido a segunda eleição seguida, António Costa que não assumiu as responsabilidades políticas como líder do PS, escondeu-se atrás do biombo de primeiro ministro e falou depois do presidente eleito. Definitivamente, a tradição já não é o que era.

Não sei se continuaremos a ter um Tribunal Constitucional com tempos políticos de pronúncia; se os resultados das candidaturas do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista Português, por razões diferentes, suscitarão mais marcação de agenda política e mais reivindicação ou se a coabitação entre a fragilidade do apoio parlamentar do governo e a hiperatividade da personagem presidencial vai ser uma realidade. O que sei é que a Esquerda, a tal das posições políticas conjuntas para derrubar a Direita, foi incapaz de ser ganhadora ou de forçar uma segunda volta.

E como não padeço de nenhuma maleita que transforma derrotas em vitórias, é uma evidência que a candidata que apoiei como cidadão, Maria de Belém, teve um resultado muito aquém das expetativas, do seu percurso político e do seu valor real. 

É engraçado, não engraçadinho, o aparente contágio da sociedade pela tradicional atitude eleitoral do PCP: tudo é vitória mesmo quando se perde. Inebriados neste “o Sol brilhará para todos nós”, assistimos mesmo à desfaçatez de analistas, comentadores, jornalistas de causa e afins que, nos intervalos de prosas de apoio aos poderes em funções, proclamam o óbito político de quem pensa diferente e de quem não teve nenhuma intervenção política ativa. Em boa verdade, a única coisa que morreu é a vergonha na cara de quem ensaia querer transformar derrotados em vencedores, sem cuidar do ridículo. Por mais entusiasmadas que sejam as declarações de óbito destes cangalheiros do teclado, só morre quem desiste de pensar e agir em coerência com os seus valores, os seus princípios e a sua visão do mundo.

Já nada nos surpreende. Nem mesmo o preocupante sinal das eleições intercalares para a Câmara Municipal de São João da Madeira. O PSD tinha ganho em 2013, mas era minoritário. Ganhou agora com maioria absoluta.

No atual quadro político, sem a adequada atenção para o Poder Local, com os fundos comunitários embrulhados, com o governo nos gabinetes a responder a perguntas, requerimentos e concertações com os parceiros políticos  e com reversões de medidas para os que sempre estiveram dentro do sistema, até parece que a declaração de princípios de alguns se resume a “ conquistar e manter o poder”. É poucochinho para a exigência da empresa que o País tem no horizonte e  pode levar a que, para o PS, não haja duas sem três, derrotas.

Sol na eira. A candidatura de António Guterres a secretário geral das Nações Unidas.

Chuva no nabal. O comprovado embuste de Passos e Portas na narrativa da devolução da sobretaxa em 2016. Zero de encaixe, resmas de demagogia. Miserável.

Escreve às quintas feiras.