Não há como fugir. Por muitos jogadores que estejam agora a disputar o_Open da Austrália até ao próximo domingo e que tenham repudiado o escândalo do sistema de apostas do ténis nos principais circuitos – que envolve 16 jogadores do top 50 segundo a BBC e o site BuzzFeed -, a investigação não tem fim à vista. _Prova disso foi o encontro de pares em_Melbourne entre Luksz_Kubot (28.º) e Andrea Hlavackova (160.º) contra David_Marrero (32.º) e Lara Arruabarrena (86.º), que levou a identidade responsável por vigiar casos de corrupção na modalidade – a Tennis Integrity Unit (TIU), criada em 2008 – a falar com jogadores._Isto depois de o jornal “New York_Times” ter publicado uma notícia que alegava que uma empresa teria suspenso as apostas para este jogo.
Em Portugal, Frederico Silva (272.º) e Frederico_Gil (696.º) são outros dois exemplos de tenistas que já foram abordados para perderem. Mas há outro português, mais uma das jovens promessas lusitanas que falou ao i sobre o caso. “Há cerca de quatro anos atrás ofereceram-me 80 mil euros para perder um set no Indian Wells”, diz Gastão Elias (135.º) de 25 anos, que foi abordado novamente pelo Facebook e que fez mais uma denúncia à ATP. “Fui ao escritório deles, mandei-lhes uma cópia da mensagem, e eles disseram que tratariam do assunto”. Depois disso, nunca mais soube nada sobre o ocorrido.
As ameaças fazem parte Mas se esta história é semelhante a de outros tenistas, existe porém um dado novo, pelo menos para quem não está dentro deste desporto: as ameaças dos próprios apostadores. “Eu fui ainda abordado mais uma vez através de um Facebook falso de uma modelo, mas agora não tenho sido tanto, só que recebo diariamente mensagens de apostadores a insultar-me”.
O jogador das Caldas da Rainha, já recebeu desde que começou a disputar torneios inferiores como os Futures há oito anos, “mais de 500 mensagens” parecidas de pessoas “que estão de cabeça quente porque perderam dinheiro”. Apesar de terem um “conteúdo pesado que não dá para repetir em entrevista”, Elias revela que já lhe “desejaram a morte, e a toda a família”, diz. Esta é uma rotina que se instalou no circuito – pelo menos de jogadores até ao 1000.º do ranking, segundo o jogador -, o que o levou a “dar pouca importância ao assunto”. A melhor solução é só uma, a de ignorar. E porquê? Lá está, é “algo muito normal entre os jogadores”, afirma. E se o leitor não entende porque é que o jovem português nunca veio a público falar sobre isto, é simples: “não me sinto ameaçado”. desabafa.
Um escândalo não chega Sobre o escândalo, Gastão é mais pessimista e incisivo._“Eu diria que 99% dos jogadores já foram abordados e quem disser que não, está a mentir”. E apesar de até agora nada estar provado – até porque os dois órgãos de comunicação optaram por não divulgar os nomes por precisarem de provas como os registos telefónicos – o tenista acredita que o caso vai acabar por se esvaziar. “Acho que não vai acontecer nada._Não há provas suficientes para incriminar ninguém._Daqui a pouco tempo as pessoas já não se lembram”. E usa o exemplo do australiano Nick Kirgios que foi suspenso até 24 de fevereiro deste ano, por declarações ofensivas. “Foi um escândalo tão grande e um mês depois já ninguém se lembrava disso”, aponta.
Para já, o negócio das apostas vai continuar, e mesmo que a ATP apanhe algum jogador do top mundial, “nunca vai sair cá para fora, porque isso só acontece a jogadores que não estão nos holofotes”. Gastão Elias deixa ainda uma crítica ao próprio circuito para se explicar, pois se se pagasse melhor aos jogadores fora do topo, “ninguém aceitaria dinheiro de fora”. “Mas como uma pessoa que está no lugar 130.º do ranking não tem dinheiro para viajar com o treinador, todas as semanas há jogadores que acabam por aceitar, e se a ATP não melhorar isso rapidamente, será cada vez pior”, remata.
Ontem foi anunciado que um inquérito “sem precedentes” será lançado para investigar resultados combinados. O anúncio veio pela voz do presidente da ATP Chris_Kermode em conferência de imprensa ao lado dos restantes organismos do ténis_(WTA, a ITF, o comité dos grand slams e a TIU). “É algo sem precedentes, em que os principais responsáveis do ténis se uniram com rapidez e um só propósito, que é restaurar a confiança pública no nosso desporto”, disse em_Melbourne. Esta denominada “comissão independente” será liderada por um especialista em legislação desportiva, o britânico_Adam Lewis, que estará acompanhado ainda por mais dois elementos. E ficou ainda um pedido: “pedimos a todos os governos do mundo que considerem os jogos combinados como uma infracção penal”.