O PCP reconhece que o esboço de Orçamento do Estado de Mário Centeno faz “um esforço sério” para cumprir o acordo político com os comunistas e esse cumprimento será a única bitola para a sua aprovação. Mas Jerónimo de Sousa vai mais longe e reconhece até que haverá dificuldades colocadas por “fatores externos” “que podem bulir com as linhas macroeconómicas”, nomeadamente devido ao preço dos combustíveis e às taxas de juro. Tendo em conta que o esboço de orçamento já prevê um aumento de impostos, nomeadamente sobre os combustíveis, Jerónimo de Sousa abre assim a porta à aprovação de um Orçamento mais duro.
O líder comunista falava ontem aos jornalistas no intervalo da reunião do Comité Central em que foi feito o balanço da candidatura presidencial de Edgar Silva e também apreciada a conjuntura política.
Jerónimo de Sousa procurou deixar claro que o resultado das presidenciais não punha em causa a atitude do PCP sobre o Governo do PS. “Estamos numa posição construtiva” em relação ao Orçamento, disse. Jerónimo negou que uma intervenção “ativa” e “séria” na elaboração do documento – referida no discurso que leu aos jornalistas – possa ser entendida como um “aviso” ao PS. “Pelo contrário”, retorquiu o líder comunista. “A nossa postura com o governo do PS é de seriedade, coerência e respeito pelos conteúdos do acordo”. Referindo que não há “acordos secretos” com o PS, “a apreciação [do PCP no OE] será determinada pelo que venha a expressar quanto ao verificado cumprimento das matérias acordadas no âmbito da Posição Conjunta” e “ao sentido geral de inversão da política de declínio, exploração e empobrecimento imposto” pelo anterior governo de direita.
A explicação para edgar Quanto às presidenciais, o Comité Central do PCP encontra a explicação para o mau resultado de Edgar Silva no “panorama mediático desigual e de promoção de outras candidaturas”. E também no desvio de votos de comunistas para Sampaio da Nóvoa. Muitos comunistas votaram no ex-reitor, “afetando assim o resultado de Edgar Silva”, contudo, explicou, “não se desviaram do PCP ou da CDU”. Prova-o a votação em S. João da Madeira, onde houve em simultâneo eleições autárquicas, e em que o voto comunista não se ressentiu. “Muitos dos que estavam a votar em Sampaio da Nóvoa estavam a votar na CDU”, disse ainda Jerónimo de Sousa.
Recusando fazer mea culpa na escolha do candidato para as presidenciais – apesar de ter sido o comunista com pior votação de sempre – Jerónimo carregou sobre a comunicação social. A Marcelo Rebelo de Sousa “bastava comer um bolo e dar uma trincadela numas sandes e era notícia”. E, no final da campanha, a “uma candidata perguntavam ‘acha que vai passar à segunda volta’, e a Edgar Silva ‘como explica o mau resultado que vai ter?’”. Acresce que “a proclamação antecipada da vitória de Marcelo Rebelo de Sousa” contribuiu para “a abstenção de muitos milhares de eleitores”.
Jerónimo unânime Apesar da estratégia presidencial do PCP ter ficado “aquém do valor que o seu projeto exigia”, Jerónimo fez questão de sublinhar por diversas vezes durante a conferência de imprensa que a sua liderança não ficava em causa. Em tom de brincadeira, nas respostas aos jornalistas, disse que o “ambiente quente” na reunião, antecipado por alguns jornais, não existia. “Calor só se for do ar condicionado. O_ambiente é ameno e construtivo”, há “uma grande coesão”, “não há nenhuma perturbação”, ou uma “reunião que eu não diria pacífica mas antes muito serena” foram outras fórmulas com que transmitiu a unanimidade em torno da sua direção. Antes de voltar para a reunião do Comité Central, Jerónimo ainda atirou: “Eu depois digo a votação, está bem?”, demonstrando a quase certeza de aprovação do partido quanto ao acerto da sua estratégia.
A engraçadinha O líder comunista aproveitou para “desfazer o equívoco” de uma frase na noite eleitoral que foi entendida como um ataque a Marisa Matias. “Não estava a pensar em ninguém em concreto”, “já não está cá quem falou” – disse ontem. No domingo, para irritação dos bloquistas, afirmara que o PCP podia ter apresentado “um candidato ou uma candidata assim mais engraçadinha” “com um discurso ajeitadamente populista” para “aumentar o número de votos”, mas que optara por não mudar.
Ainda assim houve vários remoques ao Bloco, na afirmação do PCP como parceiro de confiança: “Não levantamos a bandeirinha de vir para a comunicação social dizer que conseguimos uma coisa”.