A previsão é a de que, em março deste ano, “The Guardian” registe perdas de receitas de entre 66 e 69 milhões de euros. A resposta a essa quebra acentuada foi anunciada pelo próprio jornal: um corte de 20% nos orçamentos dos próximos três anos, solução que dificilmente permitirá evitar mais despedimentos num grupo que, entre 2012 e 2014, reduziu o número de trabalhadores em 30% e os custos com salários em mais de 1,3 milhões de euros, segundo o “Financial Times”.
“É muito fácil olhar para trás e dizer que o ‘Guardian’ cometeu erros”, disse David Pemsel, diretor executivo do Guardian Media Group. Nos últimos anos, depois de despedir dezenas de trabalhadores e quando a empresa ainda estava sob a direção de Andrew Miller, o jornal contratou quase 500 pessoas, sobretudo para os departamentos de editoria e para funções comerciais, apostado numa estratégia de crescimento digital nos Estados Unidos. Segundo o “Financial Times”, apesar dos resultados já previstos para este ano, na semana passada foram acordados com a administração aumentos salariais de 2% e o pagamento de um complemento salarial de mais de 1300 euros pelo trabalho realizado ao fim de semana.
O resultado da estratégia de Miller acabou por não se cruzar com as expectativas traçadas, mas o agora diretor executivo afasta responsabilidades do antecessor. “Penso que os grandes pilares estratégicos em torno do papel dos membros, o papel das delegações internacionais e de mais e mais capacidade digital, se me perguntam se as opções foram as corretas, a resposta é definitivamente sim”, disse Pemsel, citado pelo “Guardian”.
As mudanças – anunciadas esta segunda-feira de manhã pelo diretor executivo – são inevitáveis no futuro imediato de um dos maiores jornais do mundo. Mas Pemsel não admite, para já, cortes no número de trabalhadores do jornal.
Mais concretos são os planos para recuperar financeiramente o jornal através das vendas. “[Estamos a] tomar medidas imediatas para aumentar as receitas e reduzir os custos, de forma a salvaguardar de forma perpétua o jornalismo do ‘Guardian’”, refere Pemsel. “Está tudo a ser revisto.”
E isso, no imediato, passa por voltar a exigir um pagamento pelo acesso a conteúdo informativo publicado no site do jornal – nos últimos anos, mesmo os trabalhos mais aprofundados dos jornalistas do ‘Guardian’, que requeriam um maior esforço financeiro, foram sendo disponibilizados livremente online.
Ainda nesse âmbito de rentabilização da informação que os seus jornalistas produzem, a publicação pretende duplicar as receitas, através das vendas, dos quase quatro milhões de euros atuais para mais de sete milhões. Parte dessas receitas resultarão precisamente do valor a cobrar aos leitores online, de um mínimo de seis euros mensais até ao máximo de 80. “Isto não é um muro para pagamentos”, explica Pemsel. “Não queremos inviabilizar a nossa capacidade de chegar a uma larga audiência”, mas “colocámos o pagamento de uma quota no coração daquilo que estamos a fazer, no coração da editoria”, refere o diretor executivo. “Aquilo de que não sentimos falta é de uma audiência leal e comprometida”, garante.
Uma mudança de casa, para outro edifício que não o atual, também não está fora dos planos da administração. Também a esse respeito, Pemsel é reservado nas afirmações que fez ao próprio “Guardian”. “Vamos sair de King’s Cross? Não. Estamos a olhar para tudo? Sim”, declarou David Pemsel.
A administração do Guardian Media Group prevê que o corte anunciado de 6,5 milhões de euros até 2018 permitirá ao grupo equilibrar as contas e chegar a um nível de dívida zero nos próximos três anos.