Um dia não são dias. Um dia combinamos jantar com a turma do 9º ano embora saibamos que será tão engraçado como estranho. Um dia decidimos ligar ao antigo amor e perguntar como anda a vida, o trabalho, o amor atual, juras de um jantar que ambos reconhecem ser melhor não acontecer – até aquele encontro fatídico no supermercado e lá se vai o moralismo. Um dia confessamos aos pais que já andamos fartos de ovos com salsichas mas que a demora no salário nos trama a dieta, recordamos os pargos e os borregos no forno, o pão quente pela manhã, a loiça que não gritava por um banho.
Um dia – ou apenas no segundo posterior – percebemos que é só saudade. Coisa criada com o intuito de não ser contrariada. Um dia percebemos que estamos melhor assim. Estado nem sempre fácil de consumar, de aceitar interinamente. Depois lá vem o cinema, lá vem a televisão, lá vem o mundo fictício com a conversa do não-vás-bebe-mais-um-copo. E, analisada a questão, talvez percebamos que se é para isso então que seja através de um ecrã. Mais vale que Fox Mulder e Dana Scully voltem a tentar comprovar a vida alienígena na terra do que nos ver a regressar a casa dos pais ou perguntarmos o preço dos iogurtes ao ex-namorado. “The X-Files: Ficheiros Secretos” é o regresso da série de sucesso que, de 1993 a 2002, tratou de nos fazer acreditar em atividade paranormal. A nova produção é uma minissérie de seis episódios que hoje começa a ser transmitida na Fox.
Tentámos pensar numa forma de recriar, em onomatopeia, aquilo que estilizaria o som de abertura dos “Ficheiros Secretos”, que todos conhecemos, alguns que, provavelmente, nunca viram a série. Mas sabe do que falamos, certo? Faça play e busque as memórias que daí advém. Medo, uma aura negra em torno de eventos que carecem de explicação científica e corrente… ora tudo isso está de regresso. Chris Carter parece ter-se cansado de ver os cientistas encontrarem água em Marte e, antes que a verdade bata à janela espacial, decidiu avançar com um novo leque de possibilidades paranormais, com a tal ocupação extraterrestre do nosso planeta que parecia sugerir no final da série, em 2002. Para isso fez o que tinha que ser feito: manteve os protagonistas. David Duchovny continua a ser Fox Mulder, Gillian Anderson prossegue Dana Scully, os míticos agentes do FBI pelo qual o mundo se deleitou. Walter Skinner, o diretor assistente do FBI e colete à prova de balas de Mulder e Scully, volta a ser interpretado por Mitch Pilleggi.
Esperemos que ainda não se tenha esquecido da música – só porque sem esta o artigo não tem o mesmo impacto. Na nova vida dos “X-Files” os fantasmas regressam, Scully está feliz e contente com o seu horário de médica, mas Mulder não desiste. E se foi este quem aniquilou o ceticismo de Mulder na série original…não podia, pois então, deixar essa tarefa às mãos de um qualquer. Uma ameaça alienígena obriga o governo a procurar Mulder, o homem mais dotado para a tarefa, o que melhor conhece este problema nunca resolvido, o único com conhecimento de causa e com passado nisto. Claramente não o podia fazer sem Scully, nem sem a relação entre os dois, que muitos apontam como a grande mais-valia da série. Se não for por aí temos sempre a música. Tan nan nan naaaan naaan.