Está de chuva


O céu está confuso, cinzento, com abertas fugazes e sem definição clara, traiçoeiro portanto. Convém por isso andar com o guarda-chuva por perto, não vá o diabo tecê-las. 


O problema é que, pelo menos comigo, um guarda-chuva perde-se muito, deixa-se em qualquer canto e zás, alguém amigo do alheio agradece a oferenda locupletando-se indevidamente. E depois paga-se a incauta distração com água a jorros em cima da moleirinha. É verdade, basta uma nesga de sol para que esqueçamos logo a boa utilidade de um guarda-chuva. Penso até que nesta situação me identifico com a maioria dos portugueses, já que feliz ou infelizmente, poucos serão aqueles a quem assente como luva o velho dito – “homem prevenido vale por dois”. Definitivamente, não somos gente prevenida. É essa a metáfora.

Ora, se assumo por inteiro a minha quota de responsabilidade no que toca a guarda-chuvas, já não sinto o mesmo relativamente àquilo que fez de mim aquilo que sou, na vida e na rés-pública, e que a minha provecta caminhada só muito dificilmente faria mudar. Sei que só os burros não mudam, mas no meu caso essa é uma quase impossibilidade prática nas coisas da rés-pública, e, no caso do recente desfecho eleitoral, a única coisa que desejo, sincera e piamente, é que oxalá me engane nas consequências.

A democracia é soberana, temos presidente eleito, a vida segue, e haja sorte para a nossa República. Mas a verdade é que tenho pena, e nem alguns pequenos prazeres do balancete eleitoral (que sirva ao menos de lição a alguns estultos emproados) me conseguem libertar do tom que é esse mesmo: está de chuva.

 


Está de chuva


O céu está confuso, cinzento, com abertas fugazes e sem definição clara, traiçoeiro portanto. Convém por isso andar com o guarda-chuva por perto, não vá o diabo tecê-las. 


O problema é que, pelo menos comigo, um guarda-chuva perde-se muito, deixa-se em qualquer canto e zás, alguém amigo do alheio agradece a oferenda locupletando-se indevidamente. E depois paga-se a incauta distração com água a jorros em cima da moleirinha. É verdade, basta uma nesga de sol para que esqueçamos logo a boa utilidade de um guarda-chuva. Penso até que nesta situação me identifico com a maioria dos portugueses, já que feliz ou infelizmente, poucos serão aqueles a quem assente como luva o velho dito – “homem prevenido vale por dois”. Definitivamente, não somos gente prevenida. É essa a metáfora.

Ora, se assumo por inteiro a minha quota de responsabilidade no que toca a guarda-chuvas, já não sinto o mesmo relativamente àquilo que fez de mim aquilo que sou, na vida e na rés-pública, e que a minha provecta caminhada só muito dificilmente faria mudar. Sei que só os burros não mudam, mas no meu caso essa é uma quase impossibilidade prática nas coisas da rés-pública, e, no caso do recente desfecho eleitoral, a única coisa que desejo, sincera e piamente, é que oxalá me engane nas consequências.

A democracia é soberana, temos presidente eleito, a vida segue, e haja sorte para a nossa República. Mas a verdade é que tenho pena, e nem alguns pequenos prazeres do balancete eleitoral (que sirva ao menos de lição a alguns estultos emproados) me conseguem libertar do tom que é esse mesmo: está de chuva.