Em 2001, a desistência de António Abreu na corrida a Belém chegou a ser ponderada pela estrutura dirigente do PCP. Mas o partido acabou por levar a candidatura até ao fim para, no final, obter o pior resultado de sempre numas eleições presidenciais. A rápida descida ao baú das memórias serve apenas para explicar que, ontem, ao ficar “aquém do desejável”, Edgar Silva fez mais que isso – na prática, o candidato comunista fixou um novo mínimo histórico para os comunistas numas eleições para a presidência da República. Na verdade, é um novo mínimo para o partido numas eleições. Ponto.
Edgar Silva e Jerónimo de Sousa entraram juntos na sala onde, cerca das 21h30, ambos acabariam por reconhecer que o quinto lugar “ficou aquém do desejável” para o partido. Debaixo de aplausos tímidos, candidato presidencial e secretário-geral não escondiam o peso do resultado que a noite acabaria por revelar com clareza: 3,91% dos votos e menos de 180 mil boletins com a cruz correspondente ao candidato do PCP.
Novo recuo instantâneo a 2001 para lembrar que, nesse ano, em que Jorge Sampaio seria eleito presidente da República, António Abreu conseguira 5,13 dos votos e quase 222 mil boletins.
A distância em relação à noite de ontem materializa-se em 15 anos e 43 mil votos. “Como cada gota de água é uma enchente no mar largo da esperança e do futuro’, cada voto nesta candidatura tem a dimensão de projeto e sentido de intervenção histórica, é um compromisso que adquire mais força nesta nossa tarefa de mudar a vida”, ensaiou Edgar Silva, na reação oficial aos resultados”.
O candidato defendia, mesmo assim, que a sua candidatura esteve “ao serviço de mudar a vida, e de denúncia do tipo de sociedade em que vivemos”.
Também para Jerónimo de Sousa, o resultado de ontem ficou “aquém” daquilo que era desejado pelo PCP. Mas o secretário-geral foi mais contundente nas palavras que dedicou ao vencedor das eleições. “O resultado de Marcelo é inseparável de uma cuidada e prolongada construção mediática, prolongada até ao dia das eleições como vimos na hora de almoço”.
O dirigente comunista não escondeu as “inquietações” que sentia na noite em que o segundo presidente da República da direita era eleito pelos portugueses, sem direito, sequer, a segundas voltas. O professor universitário “não dá garantias consistentes em relação ao seu futuro posicionamento” no que diz respeito “ao seu apoio às políticas de retrocesso e declínio nos direitos dos trabalhadores”.
Por isso mesmo, o PCP não baixa os braços. Cerca de quatro meses depois de conseguir 8,25% dos votos (e 446 mil boletins), os comunistas rejeitam que o resultado de ontem representa um “enfraquecimento” da sua posição. “Como se sabe este partido tem mais influência social do que eleitoral.” e “a evolução das consciências não é automática”, defendeu Jerónimo. “Como todos sabem, as vitórias não nos descansam e as derrotas não nos desanimam”, concluiu.