“Fighting for us” é o lema de campanha de Hillary Rodham Clinton, ou Hillary Clinton, como agora quer ser chamada. Uma carreira pública cheia de vitórias e de génio. Também de derrotas, escândalos, mudanças de rumo ou humilhações à escala planetária. Sem nunca baixar os braços. “Fighting.”
Começou a carreira pelo centro da política norte-americana, como assessora dos democratas na comissão parlamentar para a impugnação de Richard Nixon, na sequência do Watergate. A vida era promissora, mas decidiu abandonar Washington e ir para o Arkansas, para ficar ao lado do homem da sua vida.
Começou por dar aulas na Faculdade de Direito, apenas ela e outra mulher num mundo masculinizado. Em 1975 casou com Bill Clinton, que três anos depois chegava a governador do estado.
Hillary, de 31, foi avançando com a sua vida jurídica. Entrou no escritório de advogados Rose Law, o terceiro mais antigo dos EUA e com fortes ligações ao poder. Foi nesse tempo que se estreou como a primeira administradora da gigantesca cadeia de supermercados Wal-Mart.
Em 1980, Bill corre pela reeleição e perde. Entre outras razões, os seus assessores culpam o nome da mulher do candidato, que insistiu em ficar apenas com o apelido de solteira. Hillary aprende a lição e adota o Clinton, mas sem deixar cair o Rodham.
Dois anos depois volta a ser a primeira-dama do Arkansas. Mais que isso: entra de vez na política ativa, sendo a responsável pela reforma educativa do estado. “A sua primeira iniciativa política pública de relevo”, recorda a revista “Politico”. “E também uma singular e crucial janela de tempo entre quem ela tinha sido e quem esperava vir a ser.”
A carreira de Bill foi-se consolidando com Hillary ao lado. A sua relevância era tal que quando o marido se candidatou pela primeira vez à Casa Branca, anunciava que, se o elegessem, os americanos levariam “dois [presidentes] pelo preço de um”. Mas também tinha chegado a hora do primeiro soco público: o relacionamento de Clinton com a modelo e atriz Gennifer Flowers. Não deserta, defende o marido e até brinca com a situação. Voltaria a fazê-lo pela segunda vez durante o caso Monica Lewinsky, já na Presidência, que levaria Bill à beira da perda do mandato.
Leva pancada de todos os lados, mas não baixa a guarda. Já dois anos antes se tinha visto em apuros à conta de outro escândalo, o Whitewater – uma urbanização de que os Clinton foram sócios e que Bill foi acusado de beneficiar enquanto governador -, que acabou por se centrar em Hillary, a primeira primeira-dama a ser obrigada a testemunhar perante um grande júri.
A coisa fez mossa, mas nada que derrotasse a lutadora Hillary. Foi ganhando calo ao promover uma (falhada) reforma da saúde, a Hillarycare, que imediatamente apresentou no Congresso, ou ao ter papel ativo na política internacional dos EUA. “Jamais uma primeira-dama foi tão poderosa”, resumia em 1994 o “Independent”. “Em boa medida, o casamento dos Clinton tem sido uma parceria profissional entre iguais.” Antes de sair da Casa Branca, lança uma candidatura ao Senado. Foi eleita por Nova Iorque e voltou a repetir a eleição.
Em 2007 anunciou que estava na corrida presidencial, “e para ganhar”.
Barack Obama, afinal, venceu-a. Porque puxou pelas suas contradições, pelas suas cambalhotas políticas e repetidas mudanças de posição. Mas chamou-a para secretária de Estado, a responsável pelos Negócios Estrangeiros, uma das pastas mais importantes da administração.
Hillary deu boa conta do recado, mas voltou a meter-se em sarilhos porque decidiu usar a sua conta de email privada e não a do governo. Chamaram-lhe irresponsável, por ter posto em causa segredos de Estado. E foi acusada de apenas ter querido impedir o escrutínio público da sua correspondência. A verdade é que o Emailgate ainda a assombra. É um espinho nas suas renovadas ambições de vir a ser a primeira Presidente. Hillary Clinton – o nome que agora escolheu – é uma mulher admirada e odiada. Poderá ou não ser eleita, mas já tem o seu lugar na história da política norte-americana. Lutou por isso.