Zika. O vírus que está a apavorar a América do Sul

Zika. O vírus que está a apavorar a América do Sul


Uma doença transmitida por mosquitos que provoca graves efeitos secundários foi detetada em África, mas já se espalhou pelo planeta. No atual surto, o Brasil é o país mais afetado. Milhares de bebés nasceram com uma malformação até ao momento rara: a microcefalia.


Um mosquito chamado Aedes está a espalhar o pânico na América do Sul e Central. Através de uma picada, os Aedes transmitem aos humanos uma doença chamada zika, parecida com o dengue.

Normalmente, os sintomas da infeção não são preocupantes. Febre ligeira, erupção da pele e conjuntivite durante sete dias, no máximo, explica a Organização Mundial de Saúde. O problema, e grave, é que se está a perceber agora que nas zonas afetadas pelo vírus há uma incidência anormal de doenças neurológicas como a Síndrome de Guillain-Barré – fraqueza muscular ou até paralisia – ou meningites. Mas o que está a causar maior alarme social é a quantidade de recém-nascidos com microcefalia – filhos de mães infetadas, nascem com cabeças mais pequenas e o seu cérebro não se desenvolve normalmente.

O Brasil é países mais afetado pela zika e quase 4 mil bebés já foram diagnosticados com microcefalia desde outubro. Em 2014 tinham sido detetados menos de 150 casos desta condição.

A situação é de tal forma grave que os governos da Colômbia ­– o segundo país com mais registo de casos – e da Jamaica já aconselharam as mulheres a esperarem meses até engravidarem. “Tendo em conta a fase em que se encontra a epidemia e o risco existente, recomenda-se a todos os casais que residam no território nacional para não engravidarem durante esta fase, que pode ir até ao mês de julho de 2016”, recomendou o ministro da Saúde, Alejandro Gaviria, na terça-feira.

O mesmo fez o responsável pela mesma pasta na Jamaica, recomendando às mulheres para adiarem a gravidez entre seis e doze meses. Uma medida preventiva, já que o país ainda não registou nenhum caso da doença que, no entanto, já chegou ao vizinho Haiti. “Estou a dizer à Jamaica: estejam preparados para o vírus zika – ele vai chegar” disse Horace Dalley.

No Brasil a mesma recomendação foi feita, mas não em termos oficiais. Mais prudente, a OMS explica que se está a “encontrar um conjunto de evidências cada vez maior sobre a ligação entre o vírus zika e a microcefalia”, mas acrescenta que é necessária mais investigação.

Desde o ano passado, 18 países e territórios confirmaram a existência do vírus: Brasil, Barbados, Colômbia, Equador, El Salvador, Guatemala, Guiana, Guiana Francesa, Haiti, Honduras, Martinica, México, Panamá, Paraguai, Porto Rico, São Martinho, Suriname e Venezuela, adianta a Organização Pan Americana de Saúde. A doença cresce rapidamente, acrescenta o organismo, “entre novembro de 2015 e janeiro de 2016, a transmissão local do vírus foi detetada em 14 novos países e territórios”.

Uma responsável da Sociedade Brasileira de Infetologia receia agora a chegada do Carnaval. À BBC Brasil diz que as condições são ideais para um “cocktail explosivo” composto por grandes aglomerações de pessoas (pouco vestidas e assim mais vulneráveis às picadas), mais lixo nas ruas, possibilidade de chuvas e calor. As condições para um aumento dos mosquitos e de pessoas infetadas.

A técnica tradicional para o seu controlo tem sido apelar à população para usar roupas que cubram o corpo, repelentes, redes mosquiteiras e impeça as águas estagnadas e a acumulação de lixo. Em alguns locais, as autoridades também fazem fumigações para matar os insetos ou as suas larvas.

Agora, um laboratório de Londres está a trabalhar na criação de Aedes machos geneticamente modificados para ficarem estéreis e travarem a progressão de novos exemplares.

O zika é recente, explica a OMS, tendo sido identificado no Uganda em 1947, em macacos. Em 1952 foi detetado em seres humanos no Uganda e na Tanzânia. Os primeiros surtos da doença foram notificados ”no Pacífico, em 2007 e 2013 (respetivamente na ilha de Yap e na Polinésia Francesa) e, em 2015, nas Américas (Brasil e Colômbia) e em África” (Cabo

Verde, onde cerca de 5 mil casos suspeitos foram declarados, mas sem notícia de consequências neurológicas).