A Europa continua a enfrentar a pior crise migratória desde a Segunda Guerra Mundial, com a quantidade de requerentes de asilo provenientes principalmente do Médio Oriente e do norte de África.
Mais de um milhão de refugiados chegou à Europa em 2015. Em 2016, prevê-se que o número aumente.
De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), o número de refugiados que entraram na Europa nos primeiros 10 dias de 2016 já foi três vezes superior a todo o mês de janeiro do ano passado. 87 pessoas morreram ou desapareceram este mês ao tentar chegar à Europa por mar.
A Comissão Europeia tenta reagir, mas parece que de forma lenta.
Na passada segunda-feira, foram colocados 322 refugiados em 10 dos 28 países membros da União Europeia (UE). No total, a UE terá de recolocar 160 mil refugiados, ao abrigo de um acordo com os chefes de Estado e de governo.
Na terça-feira, a organização dos Médicos sem Fronteiras (MSF) acusou a União Europeia pelo “fracasso catastrófico” da gestão na crise migratória, não só por parte das instituições europeias mas também pelos governos dos Estados-membros. A MSF exigiu ainda que a UE crie “passagens seguras” para os refugiados que queiram entrar no continente europeu.
No relatório da organização, que foi elaborado com base em testemunhos de alguns migrantes e funcionários dos MSF, afirma-se que “os obstáculos que a UE e os governos europeus colocaram na rota de mais de um milhão de pessoas” agravaram em larga escala a crise migratória na Europa.
Apenas dois meses? O curto prazo de dois meses é o tempo que a Europa tem para controlar o fluxo de refugiados, antes que o espaço Schengen entre em colapso. Quem o disse foi o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, numa altura em que vários países europeus fecham as suas fronteiras para reduzir a entrada de refugiados.
Durante o seu discurso para os eurodeputados, Tusk avisou que a União Europeia corre sérios riscos de falhar como projeto político se os países que fazem parte não trabalharem juntos para controlar as fronteiras, tentando ainda convencer os líderes a encontrar uma saída para a crise. “A reunião do Conselho Europeu de março será o último momento para verificar se está a funcionar a estratégia europeia, se assim não for, teremos o colapso de Schengen. Apelo a todos para que apliquem esta estratégia na sua totalidade”, declarou Donald Tusk.
Apesar do plano de quotas para distribuição dos migrantes entre os membros do bloco, são vários os países europeus que se recusam a cumprir o plano. Por exemplo, logo depois dos atentados de Paris, o governo polaco aproveitou para dizer que afinal não iria aceitar nenhum refugiado.
As afirmações de Tusk surgem dois dias depois de o presidente da Comissão Europeia, ter dito ser “inaceitável” que alguns países europeus recusem acolher refugiados e ponham em causa a “reputação da Europa”, acrescentando que “a Europa falhou” na forma como está a lidar com o problema dos refugiados.
Controlos nas fronteiras Áustria, Grécia, Bulgária, Macedónia, Hungria, Eslovénia, Suécia, Dinamarca, Itália, Finlândia e Alemanha – todos estes países têm, de alguma forma, implantado algum controlo nas suas fronteiras devido à crise de refugiados.
O último país a anunciar o controlo mais rígido nas suas fronteiras foi a Áustria, país que, durante 2015, se tornou num importante ponto de passagem para as centenas de milhares de refugiados que entraram na União Europeia, com o objetivo de seguir para a Alemanha ou Suécia.
Também Dinamarca e Suécia reforçaram as suas fronteiras no início deste ano, uma medida inédita, uma vez que há mais de 50 anos que não existia controlo à circulação de pessoas entre os dois países nórdicos. Foi nesta altura que se começou a pensar que talvez Schengen estivesse em perigo.
França, devido ao terrorismo que tem assolado o país, também impôs um controlo nas suas fronteiras.
A Eslovénia foi o último país a ameaçar o acordo de Schengen, ao ameaçar impor um controlo bem mais apertado nas suas fronteiras, na passada segunda-feira. “Se a Alemanha ou a Áustria adotarem certas medidas para apertar o controlo, então, claro, nós também vamos adotar medidas mais apertadas na nossa fronteira sul com a Croácia”, disse o primeiro-ministro esloveno, Miro Cerar.
Eslovénia começou em novembro passado a instalar uma cerca de arame farpado na fronteira com a Croácia para controlar de forma mais eficiente a chegada de refugiados. Agora, o país pensa enviar autoridades para controlar a fronteira de forma ainda mais apertada.
As autoridades eslovenas justificam a medida com a previsão de chegada de 30 mil pessoas nos próximos dias. As fronteiras do pequeno país de dois milhões de habitantes “continuarão abertas”, afirmou, no entanto, o primeiro-ministro, Miro Cerar.
A Eslovénia é o principal país de entrada dos refugiados no espaço Schengen desde que a Hungria fechou a fronteira com a Croácia em outubro.