Mas entende-se o desencanto e a indiferença por quem venha a ser o próximo Presidente da República. Na verdade, nos últimos dez anos quase não demos por ele, salvo por más razões. Entre contradições, vendetas e silêncios (muitos… diria mesmo demasiados silêncios), Cavaco Silva deixou-nos uma mão cheia de nada! Não recordo nada de positivo dos seus mandatos. A pele de cordeiro (se restassem dúvidas) foi caindo de discurso em discurso. Agressivo e vingativo para com quem lhe fez frente. Pelo caminho, vários episódios de má memória: a SLN, a Quinta da Coelha, as escutas a Belém ou a total confiança no BES – tudo gerido com pinças e orientado para o esquecimento. Cavaco tudo secou e abafou.
À herança de Cavaco junta-se o desencanto com que olhamos para o cardápio de candidatos.
Do mal o menos: é o que vou ouvindo na rua, apontando para mais um professor em Belém. Desta feita sem Maria. Aliás – se for este o escolhido –, sugeria que por lá deixassem esta Maria, juntamente com os presépios. Sempre animava a coisa. Acham que dá?
Deste novo professor também não recordo nada de extraordinário. Para além da candidatura à CML, com o memorável mergulho no Tejo e as bandeiradas ao volante de um táxi, só mesmo a propaganda de incoerências dominicais com que nos brindou nos últimos anos.
Tudo me parece excessivamente encenado. Por um lado, a postura de Lone Ranger (ainda por cima sem Tonto) e, por outro, o estalar do verniz nos debates com Nóvoa e Belém. Mesmo o apregoado sentido de Estado que o levou a contribuir para “viabilizar” os governos de Guterres é falacioso – vão ver as sondagens da altura. É que todas elas davam maioria ao PS se fôssemos para eleições (é só mais uma vichyssoise).
Marcelo não é o que vende. Faz lembrar “a loja do chinês”: há de tudo e para todos os gostos! E parece barato. Espero que, a montante, não saia caro.
Percebem o sentimento de órfão? Onde estão os políticos que, goste-se ou não, serviram de referência nos últimos anos? Vitorino? Guterres? Barroso? Gama? Freitas? Ou Almeida Santos – que, infelizmente, já nos deixou.
Vou votar, claro, mas vou desmotivado. Queria um PR que me encantasse, como Soares. De quem me orgulhasse, como Sampaio. Para vergonhas já chegaram estes dez anos de cavaquismo.