Conheci a dra. Maria de Belém Roseira no congresso da European Society for Social Paediatrics que se realizou em Portugal em 1989, em que esteve como presidente da mesa de abertura – uma sessão muito curiosa porque, além das grandes figuras da pediatria social de então, tivemos direito a um concerto do grande Carlos Paredes.
Durante muitos anos estive na Comissão Nacional de Saúde da Mulher e da Criança e depois na Comissão Nacional dos Direitos da Criança, criada em 1995, no governo de António Guterres, e pude trabalhar intensamente com ela. A dra. Maria de Belém, então ministra da pasta, indicou-me como representante da saúde nesta última e depois como coordenador do programa de prevenção de acidentes da DGS, e também em comités de peritos na União Europeia, nas áreas dos acidentes e dos indicadores de saúde. Desde então que comunicamos regularmente.
Maria de Belém é uma mulher determinada, firme, educada e que transborda sinceridade. Não se pense que, trabalhando em comissões, não houve momentos de fricção, mas a sua elevada categoria moral, o seu sentido de justeza e de ética e o facto de não se julgar dona da verdade absoluta fez com que sempre conseguíssemos ultrapassar divergências. Ser firme mas saber escutar e dar razão aos outros é uma qualidade que escasseia. É inteligente, com sentido de humor, plurifacetada, e tem qualidades que não posso deixar de frisar porque as testemunhei, fosse por questões profissionais, fosse pessoais: liberdade, lealdade, dignidade, caráter.
Recordo-me de alguns episódios que mostram a sua maneira de estar na vida profissional, desde dar o seu número de telemóvel aos membros da Comissão e combinar reunir, nem que fosse às 8h da manhã, informalmente, sem “poses de ministro”. Sabendo nós que tinha tanta coisa para fazer, parecia sempre que dispunha de todo o tempo para com quem estava naquele momento. Finalmente, recordo a apresentação que fez de livros meus e a humildade com que me ligava para pedir esta ou aquela informação científica antes dos frente a frente da SIC, por exemplo.
Não frequentamos os mesmos círculos de vida familiar ou social, mas posso afirmar que sou muito seu amigo, porque amizade é lealdade, é estar ao lado, é saber que podemos contar com o outro e, mesmo quando outros interesses surgem e há conflitos, o amigo não se deixa levar pelas tentações e pressões – foi o que aconteceu quando fui perseguido por causa da vacina da meningite C, mas o facto de essa cobarde e mentirosa personagem (que agora faz discursos inflamados em defesa de outro candidato) ser membro do partido e ministro não impediu a tomada de posição inequívoca e pública da dra. Maria de Belém. Sinto que, ao pé dela, posso discordar livremente e que ela me fará igualmente os reparos de que eu necessitarei para melhorar.
Sempre vi o seu desempenho com grande interesse, admirando a sua capacidade de diálogo, de promover consensos mas sem cedências que passassem dos limites. Vi o seu desempenho no partido, na Assembleia, no caso BPN, como ministra, nas Misericórdias, na Pastoral da Saúde… a inteligência e argúcia, as suas capacidades são de tal dimensão que fiquei radiante com a sua decisão de se candidatar.
Na minha opinião, foi “apenas” a melhor ministra da Saúde que Portugal teve. A sua conceção de que deveria haver um poder político, eleito e que definia as políticas de saúde; um organismo técnico (DGS) que assessorava aquele mas não era seu súbdito, gozando de independência; e um organismo independente que monitorizava e observava a saúde (na altura, o Observatório Nacional de Saúde), não tendo de providenciar dados para salvar políticas, mas sim de refletir e interpretar a verdade, mesmo que esta fosse dura e contradissesse as políticas, é correta e a mais adequada. Era para si claro que informação é poder e que, assim, deveria ser partilhada, designadamente com os académicos e os jornalistas. Não agradou a muita gente, incluindo do partido, para quem a opacidade serve melhor os interesses pessoais ou de sociedades “discretas” do que a transparência democrática.
Numa altura em que se prefiguram vários problemas nacionais e internacionais, em que provavelmente não haverá tão cedo maiorias “muito absolutas”, em que é preciso capacidade de diálogo e de intervenção, com respeito pelos interlocutores mas com capacidade de decidir quando é chegada a altura, em lógica de independência e de liberdade, creio que será realmente uma “Presidente de todos os portugueses”. Precisamos muito dela, provavelmente mais do que muita gente pensa, sem desprimor para os outros candidatos.
Conheço o prof. Marcelo há 50 anos, desde o liceu, nutro por ele amizade e colaborámos em muitos congressos e programas. Não tenho medo de Marcelo na Presidência, mas estou firmemente convencido de que Maria de Belém será uma Presidente melhor e garantirá mais estabilidade política e social, de que o país tanto precisa. É por isso que votarei nela no próximo domingo.
P.S.: Muito rapidamente, concordo com a extinção dos exames do 4.o e do 6.o ano já este ano, não encontro fundamentos para provas de aferição no 2.o, 5.o e 8.o, e acho que, a começar, estas avaliações deveriam sempre ser a partir do ano letivo de 2016/2017…