Uma antiga bancária de 56 anos – e uma das arguidas de um processo de falsificação de pensões de invalidez – admitiu ontem no Tribunal de Coimbra que falsificava os relatórios médicos no programa informático Paint.
O esquema fraudulento, alegadamente liderado por uma ex-professora também de Coimbra, alicerçava-se na produção de relatórios médicos falsos que atestavam doenças de que os requisitantes não padeciam, conferindo-lhes assim o direito à pensão por invalidez.
A antiga professora negou ontem na primeira sessão do julgamento que fazia parte do esquema mas, segundo as declarações da ex-bancária, terá sido mesmo a docente a entregar os relatórios originais na sua casa, deixando indicações para que os nomes dos beneficiários e as datas de emissão fossem alterados. Caberia então à antiga bancária este serviço, para o qual utilizou o referido programa informático.
Questionada pelo juiz sobre a razão que a levou a cooperar no esquema, alegou que devia favores à ex-professora e que não o fez pelo dinheiro.
Mostrando-se sempre “cooperante” e “arrependida”, a antiga bancária disse ao juiz, durante a tarde de ontem, que recebia cerca de dez euros por cada relatório, “o que mal chegava para pagar o tinteiro”. No total terá arrecadado menos de 500 euros e ficou impressionada durante a sessão quando se apercebeu qual o valor que costuma ser cobrado em casos de burlas deste género. Os documentos forjados para obtenção de pensões rondam, neste mercado ilícito, valores mínimos de 1500 euros.
A organização criminosa, da qual fazem parte 30 arguidos, entre os quais um médico de Pombal, vê agora os seus membros acusados de diversos crimes. Quatro arguidos são acusados de associação criminosa e 22 crimes de burla tributária na forma tentada.
Uma das curiosidades deste processo – que conta com 146 testemunhas – é que 21 dos 30 arguidos são, provavelmente, clientes da rede criminosa que simultaneamente integravam.