Em 2015, quase 29 mil portugueses foram apanhados pela GNR a utilizar o telemóvel enquanto conduziam. Foi o maior número de sempre de infrações deste tipo registadas pelos militares daquela força de segurança e representa um aumento de quase 30% em relação a 2014. “As pessoas ainda não têm a real perceção da gravidade de usar o telemóvel quando conduzem”, explicou ao i o major Marco Cruz.
A par do consumo de álcool, do excesso de velocidade e da falta de uso dos cintos de segurança, o uso de telemóvel é uma das principais causas de acidentes com vítimas nas estradas portuguesas.
“Os fatores de risco estão identificados e a fiscalização mais direcionada e mais assertiva que a GNR tem desenvolvido tem contribuído para a redução do número de vítimas”, refere a mesma fonte.
Essa fiscalização mais centrada nos condutores que usam telemóvel enquanto estão ao volante é a principal explicação para que, em 2015, o número de infrações detetadas seja o maior de sempre – confirmando a tendência crescente registada nos últimos anos.
Para já, ainda não é possível apontar com rigor quantos acidentes ocorrem todos os anos em consequência direta da utilização do telemóvel. Os riscos, no entanto, estão identificados. A probabilidade de provocar um acidente aumenta 23 vezes quando se usam estes aparelhos ao volante, segundo dados da Brisa.
Jovens parecem ter 70 anos
Marco Cruz lembra que conduzir é uma tarefa “altamente complexa” e que requer, por isso, atenção permanente. Conduzir e falar ao telefone aumenta os tempos de reação, prejudica a avaliação da velocidade do carro, dificulta a descodificação e memorização de sinais e, em termos simples, transforma um jovem ao volante num idoso de 70 anos.
Ainda assim, 31% dos condutores escrevem SMS enquanto conduzem. “Temos muita gente envolvida em acidentes muito graves porque usam o telemóvel durante a condução”, garante o major da GNR, que considera que “as pessoas ainda não estão despertas para a gravidade deste problema”.
Tal como não estão despertas para as consequências de uma condução sob efeito de álcool, da velocidade excessiva ou para a importância do uso de cintos de segurança, apesar das várias campanhas lançadas pelas forças de segurança. “Ainda na última semana foram detetadas 121 pessoas a conduzir com uma taxa-crime de álcool no sangue”, alerta o militar da GNR.
Além disso, lembra o militar, “o uso do cinto de segurança é obrigatório em todos os lugares dos carros, até porque há muitas vítimas mortais de acidentes que não passariam de feridos graves ou mesmo ligeiros se estivessem a usar o cinto no momento em que tiveram o acidente”, refere.
Menos sinistralidade
Nem tudo é mau: apesar de tudo, 2015 poderá ser o ano com menos acidentes nas estradas portuguesas desde que há registo.
Os dados provisórios da GNR – com jurisdição sobre 94% das vias do país – apontam para 407 vítimas mortais nas principais estradas. Somados os números da PSP, no ano passado morreram em Portugal 478 pessoas vítimas de acidentes. É uma descida ligeira – menos quatro pessoas que em 2014 -, mas estes números poderão sofrer uma alteração.
A contabilização final de mortes é feita a 30 dias (muitas vezes, os feridos graves não resistem aos ferimentos sofridos nos acidentes e acabam por perder a vida já durante o internamento hospitalar) e a época de Natal e de fim de ano acabam também por dar um contributo negativo para as estatísticas.
Trajetória positiva
De qualquer modo, “as coisas melhoraram”, destaca Marco Cruz. É que, olhados os números a longo prazo, as estradas portuguesas matam cada vez menos.
Em 1996, por exemplo, morreram 2100 pessoas em acidentes de automóvel – quatro vezes mais do que no ano passado. Há dez anos, esse número já tinha descido para as 850 vítimas mortais, mas era, ainda assim, quase o dobro das de 2015.
Esta evolução explica-se, em grande medida, pela maior intervenção das forças de segurança. “Têm vindo a ser intensificadas as ações de prevenção e fiscalização focando as principais causas de sinistralidade em Portugal”, reconhece o major Marco Cruz.