Jorge Jesus. Que chatice isto das segundas (voltas)

Jorge Jesus. Que chatice isto das segundas (voltas)


O pentacampeão de inverno e treinador do Sporting não tem uma relação perfeita com segundas voltas. Basta olhar para os títulos perdidos entre 2011 e 2013 para o Porto.


Numa relação temos sempre duas fases. A primeira com uma paixão intensa, onde tudo é fantástico e maravilhoso. A segunda mais complicada_(e  demorada), onde cada um dos pares vai demonstrando as suas falhas. Por esta consulta de psicólogo não cobramos ao leitor, mas serve a analogia para falar de Jorge Jesus, treinador do Sporting. Não fique desiludido, comparações sociológicas é do melhor que existe para perceber o fenómeno que é este homem, e a sua relação com as segundas voltas do campeonato. É que a história vale sempre alguma coisa, nem que seja para que os rivais afiem as facas contra o líder isolado do campeonato Sporting (coisa que não acontecia há 14 anos)- que na sexta-feira passada perdeu dois pontos em Alvalade contra o Tondela-, ansiosos por um desfecho igual àquele que o treinador português teve no Benfica em 2011/2012 e 2012/2013.

De joelhos no dragão A 11 de Maio de 2013, na penúltima jornada do campeonato português, um homem de joelhos simbolizaria a imagem de quem tudo fez pelo seu mais que tudo_( o clube), mas que se viu atraiçoado por um Kelvin aos 92’ no Estádio do Dragão- derrota do Benfica por 2-1, e um primeiro lugar à vida. À 27ª jornada os encarnados tinham mais quatro pontos do que os azuis e brancos, mas na visita do Estoril à Luz, os canarinhos conseguiram um empate (1-1), e lançaram a certeza: JJ tem falhas e quase que viu a sua história de águia ao peito ser atropelada por aquele ano onde perdeu tudo (campeonato, Taça de Portugal e Liga Europa). Vitor Pereira foi o único a ganhar alguma coisa daquela tempestade de emoções, arrecadando um bicampeonato.

Mas o drama de Jesus tinha começado precisamente na época anterior à de 2012/2013. Após 18º jornadas, o Benfica liderava o campeonato com cinco pontos de vantagem. O que aconteceu? Sabe aquela lengalenga de quem toma tudo como garantido? Pois é, só que os clubes pequenos sabem bem desfazer essa máxima. Uma derrota (0-1 frente ao Guimarães) e um empate (0-0 em Coimbra) empurraram os encarnados para uma derrota pesada contra o Porto (2-3). E o caneco do campeonato vestiu-se de azul, enquanto o vermelho ficava em casa a chorar.  Jesus sabe o que é estar em primeiro quando a temperatura arrefece, algo que só não aconteceu uma vez, no ano “de sonho” de_Vilas Boas, num percurso sem derrotas. Mas também sabe, olhando para a sua carreira, que as 12 equipas que tem no currículo (com temporadas terminadas) são sempre piores na segunda volta- 410 pontos à primeira volta, e 341 na segunda.

Este pode ser então o ano do desempate para Jesus. Duas segundas voltas a favor contra duas segundas voltas contra. Para já o Sporting parece bem encaminhado, mas entrou a perder pontos em casa, ficando só com dois de vantagem em relação aos rivais. Algo que já aconteceu frente ao Paços de Ferreira, ao Boavista, ao União da Madeira ( estes dois fora) e agora contra o Tondela. “Mais uma voltinha?”, JJ talvez respondesse que não.

Mas Jesus tem também o dom de nos surpreender que é, no fundo, o que melhor existe no campeonato e nas relações amorosas.

jose.capucho@ionline.pt