“O segredo do sucesso é saber algo que mais ninguém sabe.”
Aristóteles
Nas sociedades contemporâneas, a qualificação das pessoas assume especial relevância para o acesso ao mercado de trabalho e para a realização pessoal, profissional e até coletiva. Nestas sociedades, as competências de cada cidadão são cada vez mais determinantes para que os cidadãos em geral, num tempo coletivo cada vez mais complexo e exigente, consigam concretizar, de forma equilibrada e positiva, as suas justas ambições e expectativas de vida.
A escola e o sistema de ensino em geral assumiram, nas últimas décadas, um papel ainda mais relevante na preparação das pessoas, dos cidadãos, dos alunos para enfrentar um mundo e uma sociedade cada vez mais exigentes e competitivos. Com a desvalorização do papel da família, a escola é o espaço, o território onde os alunos mais podem ou não tirar proveito dessa preparação.
E é aqui que as políticas de educação têm uma importância decisiva, na concretização dessas expectativas e na construção dessa preparação, com competências diferenciadas. Como vários estudos e análises atestam, os países que não apostam em políticas de educação estáveis e assentes em princípios e valores de inclusão, rigor e complementaridade entre o meio escolar, a família e as atividades extracurriculares não estão a apostar no seu principal recurso, que são as pessoas e, em particular, os alunos.
As últimas decisões do novo governo de proceder a alterações “radicais” no ensino a meio do ano letivo, terminando com exames, alterando avaliações e sendo permissivo com muitos interesses corporativos do setor educativo, devem preocupar–nos. E sem grandes rodeios, devem-nos interrogar se não estaremos no início de um processo de substituição da cultura da nota, como um dos instrumentos principais de avaliação no sistema de ensino, por uma outra a que poderemos chamar cultura da balda. A ser assim, é grave. Sobretudo para os próprios alunos. Que mais uma vez, com os seus pais e também famílias, são uma espécie de cobaias de modelos e sistemas de ensino protagonizados por snipers políticos que até se arvoram em arautos do radicalismo publicista ou estatal. Não é sério e justo mudar regras a meio do ano letivo. Não é positivo transformar a escola num espaço de convívio, de passagem e de aprendizagem light. Numa espécie de recreio permanente. Quem mais perderá com estas alterações anunciadas na educação, com a abolição de exames, serão os filhos e netos das famílias portuguesas com menores recursos e rendimentos disponíveis. Que ficarão menos preparados. Não só em termos de conteúdos. Mas também de métodos de estudo, de trabalho e de preparação para enfrentar um mundo e um mercado de trabalho onde o rigor, a avaliação e a autoavaliação imperam, onde a concorrência é grande e tudo se mede pelos objetivos a atingir e atingidos. Ao contrário do que dizem os que aplaudem esta viragem radical na política pública de educação, os filhos dos mais pobres é que perderão muito mais. Porque os filhos dos remediados ou dos ricos, com famílias com mais recursos e rendimentos disponíveis, terão sempre condições melhores para ter ajuda extraescolar através de professores e explicadores, terão sempre em casa maior e melhor disponibilidade de apoio em material didático e até terão condições para estudarem no ensino particular e cooperativo, onde felizmente a cultura da balda não vigora, mas sim a da nota e da educação para a vida concreta – ensino particular e cooperativo que parece também estar na mira dos publicistas e laicistas de serviço, que tentam colocar em causa os excelentes serviços que tem prestado a Portugal e aos portugueses, com os 150 mil alunos e mais de 20 mil postos de trabalho direto que tem em Portugal.
Que o bom senso impere é o que deveremos desejar. Porque a ilusão de que a escola e o ensino não são locais de exigência e avaliação, a par de convívio e humanização, não passa disso mesmo: uma ilusão. Só falta mesmo instituir as famosas passagens administrativas do período revolucionário de 1974.
Escreve à segunda-feira