A seguinte frase pode conter linguagem ofensiva para os leitores mais sensíveis: a Netflix está mais na moda que o sushi. Pronto já foi, está dito. Defendemos esta premissa pois achamos que é inteiramente verdade, isto apesar de todos sabermos o quão difícil é destronar o sushi como a coisa mais na moda dos últimos anos. É constante, é tão crescente como os sushi corners que brotam do chão em todas as esquinas do país, é sushi. Ahhh, finalmente alguém com força para destronar este título. Só podia ser a Netflix, pois claro.
Diga-se que além de ser bem melhor que o sushi – se este senhor se desse à decência de começar a ter séries boas talvez mantivesse o trono – é mais diversa, tem mais opção. Sim, por esta altura já devemos ter uma legião de sushianos a rogarem-nos pragas, mas apostamos que são os mesmos que quando chegam a casa com o bandulho repleto de temakis e de makizushis se apressam a ligar a televisão para aceder à Netflix.
Ok, tem razão, o sushi não é para aqui chamado. Mas se a Netflix não se pode comer – só com os olhos – não deixa de dar aos seus espetadores uma oportunidade de assistirem a produções sobre gastronomia. A próxima chama-se “Cooked” e é da autoria do premiado jornalista, autor e crítico gastronómico Michael Pollan. Estreia a 19 de fevereiro, pelo menos nos EUA. Que fome.
Além de ser colaborador regular da “New York Times Magazine” foi editor na “Harper’s Magazine” e escreve um dos livros mais essenciais da história da literatura gastronómica: “The Omnivore’s Dilemma: A Natural History of Four Meals” (2006). Um livro onde Pollan agarra em quatro formas que a humanidade encontrou para obter alimento e as desconstrói. Do início do processo até à iguaria estar na mesa.
“Cooked” é baseada no livro de Pollan com o mesmo título, de 2013. A série – que conta ainda com coprodução do realizador vencedor de Óscar Alex Gibney – parte do mesmo princípio do livro. Está dividida em quatro capítulos: “Fire”, onde Pollan explora o barbecue como forma de vida, sobretudo no Oeste da Austrália; “Water” é o episódio onde nos centramos na Índia, caso raro a utilizar a água na confeção, para entender a lógica da comida processada; em “Air” explora-se a ciência de fazer pão; “Earth” é o último dos quatro episódios e aborda a fermentação, assim como a forma como esta preserva alimentos crus.
Cada episódio será realizado por um realizador diferente, em mais uma aposta documental da Netflix. Além disto, cada episódio também inclui Pollan em sua casa em Berkeley, Califórnia, com a intenção de nos fazer fugir à fácil opção pelo fast-food naqueles dias em que o trabalho se atrasou e já não há quem tenha paciência para cozinhar.
Estamos perante uma série que olha para a gastronomia de um posto de vista sociocultural, a importância que esta e a sua fórmula modificaram a humanidade, as suas texturas e vícios. E o facto de o livro virar programa de televisão só aumenta a perspetiva que se possa ter sobre o assunto. “Os realizadores foram a sítio onde não estive e isso demonstra bem mais o impacto global deste tema do que aquilo que eu fiz no livro”, contou à “Eater”.
Também Alex Gibney, documentarista por excelência que ganhou o Óscar com “Taxi to the Dark Side” (2007), falou à mesma publicação: “Uma das coisas que gosta da série é que tem um ângulo para ser feita. Não é uma visão generalizada da evolução da gastronomia, mas antes o ponto de vista do Michael Pollan”.
É isso: o sushi tem que começar a pensar nos documentários. Ou isso ou a Netflix virar uma sandes.