Sampaio da Nóvoa: o ‘indie’ está mais político

Sampaio da Nóvoa: o ‘indie’ está mais político


Nóvoa acusa Marcelo de “descartar pessoas que estiveram sempre a seu lado”.


Os candidatos à esquerda do PS bem podem tentar travar a  “onda” Nóvoa que o ex-reitor não está nem aí. A ordem é clara: responder só ao adversário direto, Marcelo Rebelo de Sousa. Ontem, Cândido Ferreira levantou dúvidas sobre o percurso académico do ex-reitor e candidato a Belém. “São absurdas”, arrumou.

O dia 5 da campanha começou em Coruche, passou por Abrantes e terminou na Marinha Grande. Depois de uma visita ao Observatório do sobreiro e da cortiça, Nóvoa inaugurou a sede de candidatura em Coruche. Na rua,  Nóvoa passou o teste da notoriedade. “Ajude-nos. Olhe por nós, pelos reformados”, pediu uma idosa, literalmente abraçada ao professor. “Conheço-o da televisão! Nóvoa a Presidente”, reagiu outra local à passagem do candidato, que aproveitou para brincar. “Anda aqui descansadinha e é atropelada. Eu não atropelo ninguém. Mas a comunicação social…”.

A brincar, mas o candidato não conseguiu evitar o desabafo. É que, minutos antes, o seu mandatário local, Joaquim Coelho, que foi mandatário de Soares em 1991, trazia para cima da mesa o tema “Europa”. Nóvoa foi literalmente atropelado à saída: Portugal deve referendar a sua permanência no euro? “Não aceitarei diminuições significativas futuras de soberania sem que sejam submetidas a debate na sociedade portuguesa e a um referendo”, esclareceu Nóvoa, um “europeísta convicto”, frisou.

Nóvoa é um independente (indie) que tomou o gosto à campanha. Na mini-arruada estão homens e mulheres de meia-idade. “Estavam ali a comentar que faltam jovens. Também, quem é que tem gente nova?”, partilhava um membro da comitiva com outro.

Depois do contato com a população e do boneco para as objetivas, chegaram as farpas de sentido único para Marcelo. Num almoço-comício em Abrantes, sala quase cheia à espera do candidato. Nóvoa cumprimentou quase um a um os seus apoiantes._Está cada vez mais político o candidato que evitou a escola partidária. “Anunciei a minha candidatura sem estar à espera de apoios partidários e sem estar a fazer cálculos com o resultado das legislativas. Mas nunca vimos um candidato dizer às pessoas do partido do qual foi presidente ‘não apareçam, por favor não se juntem’”, disparou. O destinatário é, obviamente, Marcelo: “É o cálculo político, é o taticismo, é uma forma de fazer política levada ao extremo. É a ingratidão de quem, precisando do voto das pessoas que estiveram sempre ao seu lado, agora as descarta para não estragar o show de uma campanha vazia”.

Nóvoa bem pode dizer que não esperou apoio de qualquer partido. Mas o apoio de uma parte muito significativa do PS deixa-lhe o sorriso rasgado. Ontem foi a vez de Jorge Lacão, que acentuou as as críticas a Marcelo. Acusou o ex-líder do PSD de ter usado a revisão Constitucional de 1997 como “moeda de troca” para a aprovação de três Orçamentos do Estado do governo de António Guterres. “Quando alguém assume a Constituição do seu país como moeda de troca para as suas ambições políticas e partidárias, esse alguém inspira confiança?”, questionou o ex-ministro, para depois de lembrar que o candidato da direita foi contra a despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez e contra a regionalização. “Qual foi a grande herança de Marcelo? Um combate sem tréguas à regionalização. Perdemos, porventura, uma oportunidade histórica para assegurar a coesão do país entre o litoral e o interior”, cobrou.

O candidato passa hoje o dia a norte. Para o distrito do Porto  leva o discurso de um Presidente-cidadão e o apelo ao voto num “nós” que não são os partidos nem o individual. “Vamos demonstrar que é possível ganhar estas eleições a partir do chão da democracia”, resumiu o candidato que acredita numa vitória não a 24 mas a 14 de Fevereiro, numa segunda volta que quer disputar com Marcelo, o comentador e o político, que “deve dizer ao que vem”. 

ricardo.rego@ionline.pt