Fénix. Arguido desaparecido há seis meses pode bloquear o processo

Fénix. Arguido desaparecido há seis meses pode bloquear o processo


Falta de notificação oficial de segurança da S.P.D.E. pode “dilatar” os prazos para abertura de instrução


Francisco Vasconcelos foi acusado de oito crimes pelo Ministério Público (MP), entre associação criminosa, ofensas à integridade física grave e qualificada, extorsão agravada, favorecimento pessoal e exercício ilícito da atividade de segurança privada. Mas o supervisor da S.P.D.E. anda fugido às autoridades desde que foram feitas as primeiras detenções da Operação Fénix, em julho do ano passado, e esse paradeiro desconhecido pode agora fazer arrastar o processo por algum tempo.

Ao que o i apurou, Francisco Vasconcelos não estará sequer no país. Na lista dos 57 arguidos que o Ministério Público pretende levar a julgamento, o responsável da Segurança Privada, Departamento de Eventos (S.P.D.E.), de 37 anos, surge em 36.o lugar, com uma das mais extensas e gravosas acusações deduzidas pelos procuradores João Centeno e Filomena Rosado, do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP).

A consequência, como defendem alguns dos advogados de defesa, é que, sem a notificação de todos os arguidos acusados, o processo poderá demorar mais algum tempo até avançar para a fase de julgamento. “A lei determina que, sem conhecer todos os crimes e factos de que é acusado, o arguido não tem asseguradas as condições para exercer a sua defesa”, considera Carvalho Bessa.

Em causa está o prazo para a abertura da instrução do processo – um passo anterior ao julgamento em que as defesas podem arguir contra a ida dos arguidos a tribunal e a que vários advogados da Operação Fénix já admitiram querer recorrer. Francisco Vasconcelos não chegou a ser constituído arguido porque, desde o início, as autoridades nunca conseguiram apurar o seu paradeiro.

E esse dado pode “beneficiar” outros visados no caso porque “o processo não pode andar para a frente” enquanto não houver notificação, refere a advogada Rosa Prata.

A dilatação de prazos interessa sobretudo aos arguidos em liberdade, porque ganham tempo para a consulta do processo e para a preparação das respetivas defesas em sede de instrução.

Separação de processos Antes de deduzir a acusação contra os 57 arguidos, e sabendo que Francisco Vasconcelos ainda não foi encontrado pela PSP – a força de segurança com que o MP tem trabalhado neste processo -, os procuradores podiam ter extraído certidões.

Essa solução teria permitido evitar bloqueios processuais como o que se adivinha, mas a estratégia foi outra. Neste momento, ao MP restam duas hipóteses: ou espera até que o supervisor da S.P.D.E. seja notificado da acusação – tarefa ainda mais difícil com o arguido fora do país – ou separa a acusação de Francisco Vasconcelos das restantes 56 (entre as quais as dos presidente e vice–presidente do FC Porto, Pinto da Costa e Antero Henrique, mas também Eduardo Silva, dono da empresa de segurança e principal rosto da rede).

Voltar ou não voltar Francisco Vasconcelos tem um mandado internacional para a sua captura emitido em julho do ano passado, depois de o supervisor da S.P.D.E. não ter sido encontrado em casa quando o Ministério Público avançou com as detenções.

Foi, na altura, uma mera “coincidência”. A PSP tinha 16 mandados de detenção e a casa de Vasconcelos era uma das que seriam abordadas pelos agentes. A ordem era para deter.

Mas o segurança não estava em casa. Apesar disso, e para não comprometer toda a operação, a PSP manteve em curso as restantes detenções.

Alertado para a captura de vários dos seus colegas na empresa, e do próprio dono da S.P.D.E., Francisco Vasconcelos fugiu.

Neste momento, acompanha a evolução do processo à distância. E segundo o i pôde apurar junto de fontes próximas do arguido, Vasconcelos estará mesmo a trabalhar para garantir a sua subsistência, sem data prevista para regressar. Essa decisão – voltar ou continuar fora do país – estará, de resto, dependente do desfecho da Operação Fénix.