“Amanhã”, o Bowie será esquecido tal como o Duarte foi. A diferença é que de Bowie fica o legado musical, de Duarte não fica quase nada… ficaram os posts esquecidos nas redes sociais.
Não é por isto que pergunto se está tudo louco, nem digo que o ano começa mal.
Talvez não se tenham dado conta nem importância, mas esta semana (depois de diversos avanços e recuos do governo da Baviera há um ano) publicou-se a reedição da obra de Hitler “Mein Kampf”. Fiquei perturbado. Porquê?
Não é a publicação que me transtorna, pois não acredito na privação de acesso à informação e ao conhecimento – antes pelo contrário. É o momento em que é feita que me abala.
Confesso-vos que li a obra há cerca de 16 anos por curiosidade, porque me licenciara em RI e lecionava Política Internacional. Da leitura que fiz, concluí tratar-se de uma obra ideologicamente brilhante, de argumentos desprezíveis e dementes, mas adequada à realidade da sua época. Foi estrategicamente escrita e publicada para o florescer das sementes de ódio lançadas pela humilhação do pós-i Grande Guerra e nutridas pela miséria deixada pela maior crise da história do capitalismo.
A história ensina-nos muita coisa, mas parece que continuamos a ignorá-la. Chamem-me paranoico!
Transtorna-me que se publique esta obra quando a Europa ainda recupera da pior crise económica desde 1929, atravessa uma crise social, civilizacional e humana sem precedentes, assiste ao aumento de ataques e perseguições a imigrantes (especialmente na Alemanha) e vê partidos de extrema-direita ganharem espaço.
Publica-se quando ainda se limpam as lágrimas derramadas pelos mais recentes atentados terroristas (que se tornaram mais frequentes) e se fala na suspensão de Schengen! Porquê? Porquê publicar a obra mais apetecível para mentes revoltadas, agastadas e sem esperança!? Porquê quando esta Europa, onde os valores que nos trouxeram até aqui parecem esquecidos, carece de rumo?
Mas está tudo louco? Não tenho respostas, mas não acredito em coincidências!