O fundador do PS António Arnaut é o mandatário para os Serviços Públicos da candidatura de Sampaio da Nóvoa e participa hoje na campanha presidencial, em Coimbra, ao lado do ex-reitor. Arnaut diz ter a convicção de que a maioria dos socialistas prefere Sampaio da Nóvoa e aposta tudo numa segunda volta.
É mandatário para os Serviços Públicos da candidatura de Sampaio da Nóvoa. É o candidato que lhe dá mais garantias de defender o Estado Social?
Sim, é pela simbologia. Tenho por ele um apreço grande. É um homem de esquerda, que defende a democracia participativa, não a democracia figurativa. Ele é da democracia participativa, da democracia a sério. Há vários tipos de democracia. É claro que, por exemplo, os Estados Unidos são uma democracia, mas não são uma democracia no sentido social, porque só valorizam a liberdade individual e não valorizam a igualdade de direitos. Só a igualdade de direitos é que dá sentido à democracia. É nesse sentido que acho o Sampaio da Nóvoa a pessoa que é mais consistentemente democrata. É um homem de uma cultura sólida, com sentido de Estado. Sem desprimor para nenhum candidato, especialmente para a Maria de Belém de quem sou muito amigo. Mas o Sampaio da Nóvoa tem outra consistência.
Apesar de não ter experiência política.
O Ramalho Eanes também não tinha experiência política e fez dois excelentes mandatos. A presidência da República não tem que ser o culminar de uma carreira política. Pode ser o culminar de uma carreira da cidadania, que é o caso dele. Toda a gente faz o apelo à cidadania e agora dizem que tem inconvenientes aparecer uma pessoa que fez a sua carreira ligada à cidadania?
E tem vantagens não ter ocupado cargos políticos?
Pode ter até vantagens, porque temos a certeza de que ele não tem ligações a quaisquer tipos de grupos. É um homem realmente independente, livre na sua consciência. É um democrata que defende o Estado Social. Dá-me a mim mais garantias de defender consistentemente o Estado Social. Foi essa a preocupação de toda a minha vida. Desde a minha juventude até agora.
Conhece Marcelo Rebelo de Sousa há muito tempo…
Desde a Constituinte…
O que acha dele?..
O Marcelo é um homem do centro-direita. Tem algumas preocupações sociais, devido ao seu percurso católico, mas isso não lhe dá essa consistência. Espero que o Sampaio da Nóvoa passe à segunda volta, mas se for a Maria de Belém eu estarei ao lado dela.
O PS devia ter apoiado algum candidato nesta primeira volta?
Penso que se houvesse uma votação o PS apoiaria o Sampaio da Nóvoa. Mas o meu partido resolveu ficar equidistante, não discuto isso. Espero que o Sampaio da Nóvoa passe à segunda volta. Ele é o candidato melhor qualificado para vencer o Marcelo na segunda volta.
Existem vários candidatos da área do PS. Foi difícil decidir que candidato apoiaria?
Eu não tive que fazer essa opção, porque eu já tinha apoiado o Sampaio da Nóvoa antes de a Maria de Belém aparecer. Até estranhei que naquelas circunstâncias a Maria de Belém aparecesse, porque havia no terreno um candidato da nossa área política. Capaz de reunir os consensos à esquerda.
Seria preferível a esquerda ter menos candidatos?
Havendo mais candidatos à esquerda é mais provável que exista uma segunda volta. Na segunda volta toda a esquerda vai votar no Sampaio da Nóvoa, mas provavelmente nem toda a esquerda votará em Maria de Belém. Não se sabe.
Sampaio das Nóvoa entusiasma mais o PS. Acha que a maioria dos socialistas está com ele?
Acho que sim, porque o partido é um partido de esquerda. Acho que entusiasma mais. Não fiz essa contagem. O Sampaio da Nóvoa tem mais condições para reunir o apoio de todo o PS e da esquerda do que qualquer outro candidato. A segunda volta é uma luta da esquerda contra o candidato de direita.
Está convicto de que vamos ter segunda volta?
O Marcelo está a perder gás. Ele era o homem que falava sozinho. Não tinha interlocutor e nestes debates foi encostado à parede várias vezes. Não é um homem de opiniões consistentes e muito menos é consistente na defesa do Estado Social. Ele diz que defende o Serviço Nacional de Saúde, mas porventura defende outro modelo. Um modelo convencionado em que os privados tenham um papel ainda maior do que já têm hoje. Não é esse o meu modelo.
Não acha que Marcelo Rebelo de Sousa seja capaz de defender o SNS?
O Marcelo não tem grande consistência ideológica e política. E é preciso lutar contra o desemprego, contra a pobreza, contra a desertificação. Isso está tudo ligado. E, além destes problemas, temos um problema de identificação. É preciso defender a identidade nacional e o Sampaio da Nóvoa preza muito a identidade nacional. Essa identidade num contexto europeu. Portugal não ser subserviente a Bruxelas e a Berlim. Ele não pode governar, mas pode defender a Constituição.
No que é que isso se pode traduzir nos próximos anos?
Eu fico com uma grande certeza e tranquilidade de que com Sampaio da Nóvoa não há nenhuma lei que seja promulgada que subverta ou desqualifique o Serviço Nacional de Saúde, a escola pública ou a segurança social. Esses grandes valores de Abril.