Petróleo afunda para perto de 30 dólares e pode não ficar por aqui

Petróleo afunda para perto de 30 dólares e pode não ficar por aqui


Portugal pode beneficiar de combustíveis mais baratos, mas Angola complica contas.


Os receios da desaceleração económica da China levaram o preço do petróleo nos Estados Unidos a quase tocar a barreira dos 30 dólares, de acordo com a Bloomberg.

O barril de West Texas Intermediate crude desvalorizou 5,5% com a incerteza em torno da robustez económica do país  asiático. O Brent, que serve de referência na Europa, ficou um pouco acima, nos 34 dólares, mas ainda assim atingiu o valor mais baixo dos últimos 12 anos.

A China é o maior consumidor mundial de matérias-primas e qualquer alteração na procura prevista tem efeitos na cotação do petróleo. E os analistas citados pela Bloomberg admitem que a desvalorização pode não ficar por aqui, se a procura por combustíveis na China diminuir ainda mais.

“Os receios sobre a China intensificam-se à medida que enfrentamos um excesso de oferta maciça e não há nenhum sinal de que isso irá mudar nos próximos seis meses”, disse Mike Wittner, analista do mercado petrolífero na Société Générale.

A queda do petróleo é uma má notícia para os países produtores de petróleo, cujas receitas vão diminuir ainda mais. Para os países importadores como Portugal, a descida de preços seria benéfica, mas o momento atual traz novas interrogações.

“Cenários extremos teriam impactos muito negativos internamente: preços sustentadamente em baixa – ao nível dos 35 dólares ou menos – teriam repercussões sérias em Angola, como aliás já se vem a observar, com reflexos em Portugal”, explica Paula Gonçalves Carvalho, do departamento de estudos económicos do BPI.

Apesar dos efeitos  indiretos por via de Angola, a descida do petróleo tem representado um alívio para as famílias e empresas, com reflexo na correção défice externo. Segundo as estimativas do BPI, o défice externo do país reduziu-se em 1,3 pontos percentuais do PIB devido ao petróleo.

Rui Bernardes Serra, economista chefe do Montepio, admite que o baixo preço do petróleo é um dos fatores que poderão beneficiar a economia portuguesa este ano, a par de um euro mais fraco e as novas medidas do Banco Central Europeu.

A este fator acresce a possibilidade de a economia espanhola – também importadora de petróleo – poder continuar a crescer acima do estimado. É “algo relevante atendendo ao elevado peso que ainda tem nas trocas comerciais com Portugal”, frisa o economista, lembrando que Espanha representou em 2014 cerca de 23,5% do total das exportações de bens.

joao.madeira@ionline.pt