Depois de o antigo reitor se apresentar como o “Presidente do tempo novo” e querer encostar Marcelo às políticas de Passos Coelho e Portas, o antigo comentador pegou na deixa e citou Francisco Louçã, que disse há poucos dias na SIC Notícias que colar Rebelo de Sousa a Passos ou a Cavaco “é uma tarefa impossível porque não são coláveis”.
“Eu assino por baixo o que ele disse”, declarou Marcelo, que defendeu que “não há apoios tóxicos” e que, para o provar, recordou que Nóvoa conta com o apoio do MRPP. “Sente-se coagido pelo apoio do MRPP que ainda há pouco tempo tinha apelos à pena de morte nos seus cartazes?”, lançou, para depois concluir que o ex-reitor da Universidade de Lisboa será um “Presidente de fação” por se anunciar como os que estão no “tempo novo”.
O antigo reitor ainda respondeu que nunca falou “com ninguém do MRPP” mas Marcelo estava já ao ataque, criticando Nóvoa por querer ir “de soldado raso a general”, que é como quem diz querer chegar a Belém sem nunca ter tido um cargo político,”nem no poder local, nem no poder nacional, nem no poder internacional”.
Sampaio da Nóvoa voltou à carga, acusando Marcelo de renegar mais vezes o apoio de PSD e CDS “do que Pedro negou Cristo”, mesmo depois de durante anos ter apoiado as suas políticas nos comentários televisivos que fez na TVI.
Os comentário de Marcelo foram, de resto, a grande arma de Nóvoa, que até o citou a referir-se a Costa como “o menino que só gosta de jogar à bola quando ganha” e a ridicularizar a hipótese de acordos com o BE e o PCP.
Por esta altura, já o tom do debate tinha subido mais do que em qualquer outro frente-a-frente, com a jornalista Clara de Sousa a ter dificuldades em moderar os dois candidatos, que se atropelavam constantemente.
“Acho esses comentários inaceitáveis num tempo em que os portugueses precisam de uma renovação política”, haveria de responder o reitor, depois de assegurar que a vida cívica lhe dá currículo suficiente e de que há até três ex-Presidentes, Mário Soares, Ramalho Eanes e Jorge Sampaio que o acham “qualificado” para se candidatar.
Nóvoa acusou mesmo Marcelo de fazer parte de um grupo que trata a política “como um clube privado” depois de ter andado “anos a apelar às pessoas para que viessem para a política”.
A jornalista tentou mudar o tema, perguntando a Marcelo se seria um “candidato herbívoro ou carnívoro”, numa classificação que o próprio usou em tempos para falar no mandato de Cavaco Silva. Rebelo de Sousa hesitou e acabou por dizer que “o Presidente da República não pode ser um contra-poder, nunca”, explicando que será mais ou menos interventivo “de acordo com o que for adequado em cada momento”.
“São comentários redondos”, apontou Nóvoa, que diz não ter ainda “ouvido uma ideia” ao seu opositor durante esta pré-campanha. “Eu serei um Presidente de causas”, contrapôs.
Os gastos da campanha foram outro dos tópicos que fizeram aquecer o debate, levando Marcelo a mostrar-se nervoso, depois de Nóvoa o acusar de ter feito os comentários na TVI durante anos a pensar já numa candidatura. “Mas o senhor sabe o que eu penso? O senhor passa o tempo a fazer com o tom mais neutral e beatífico processos de intenção”, indignou-se.
Mas tinha sido precisamente Rebelo de Sousa quem tinha trazido o tema à colação, depois de criticar Sampaio da Nóvoa por ter chegado aos estúdios da SIC “numa carrinha com seis assessores” e de ser um “homem de corte” que precisa de “trazer três ex-Presidentes na lapela”.
“As suas apreciações sobre gastos excessivos são anti-democráticas. É verdade que a Democracia tem custos. Não se faz à borla”, reagiu Nóvoa.
Depois disso, Nóvoa recorreu aos recortes para confrontar Marcelo consigo mesmo. Mostrou como em 1982 fez parte de um Governo que pôs em causa a gratuitidade do Serviço Nacional de Saúde, como em 2010 elogiou um projeto de revisão constitucional do PSD que ia no mesmo sentido e como em 2011 fez declarações defendendo que em tempos de crise “privilegiar a escola pública é errado”.
“A vantagem é que os portugueses sabem o que eu disse. A sua história é de vazio”, foi respondendo Marcelo, que algumas vezes tentou corrigir Nóvoa, mas que acabou por esbarrar nos recortes bem organizados do antigo reitor, que não recuou na estratégia de o colar ao seu passado e à direita.