David Cameron. Se não consegues vencê-los, deixa-os fazer campanha

David Cameron. Se não consegues vencê-los, deixa-os fazer campanha


Os ministros que defendem a saída do Reino Unido da União Europeia poderão fazer campanha, anunciou David Cameron. O governo deverá bater-se pelo “sim”


David Cameron deu aos seus ministros liberdade para defenderem publicamente o que quiserem quanto ao referendo que vai decidir a permanência do Reino Unido na União Europeia. E ao mesmo tempo manterem-se no governo.

“Há pessoas que há muitos anos têm manifestado a sua posição sobre a questão europeia e… nunca foi minha intenção manter um braço de ferro para as obrigar a votar numa posição com a qual não concordam”, declarou no parlamento.

A decisão vem na sequência de pressões dentro do seu partido, feitas por conservadores que são a favor da saída do país e que argumentam que os dois lados deviam ter a mesma capacidade para se exprimir sobre a consulta.

O primeiro-ministro já disse claramente que defende a permanência do país e que lutaria por ela com “alma e coração”, mas com um “se”. Apesar de a maior parte dos analistas pensar que Cameron vai mesmo acabar por apelar ao voto no “sim” – o referendo ainda não tem data marcada, mas a pergunta deverá ser “Considera que o Reino Unido deve continuar a ser membro da União Europeia. Sim ou não?” -, a posição do governo britânico só será conhecida no final de uma ronda negociações que o primeiro-ministro iniciou com Bruxelas para melhorar substancialmente a posição do país no seio da União.

Entre elas está o condicionamento à entrada de migrantes no país, maior possibilidade de veto dos parlamentos nacionais à legislação europeia ou o Reino Unido poder optar por não alinhar em propostas pró-aumento da integração dos países da UE – com a consequente perda acrescida de soberania.

Prevê-se que o resultado destas negociações seja apresentado em fevereiro, no final do Conselho Europeu de dias 18 e 19, em Bruxelas.

Guerra civil? Várias razões levaram à tomada de decisão de David Cameron. Em primeiro lugar, o precedente do último referendo britânico sobre a União, em 1975, quando o governo trabalhista deu liberdade de voto aos membros do executivo. Com este precedente, Cameron tinha pouca margem para decidir de maneira diferente, ainda para mais tendo o seu partido ferozmente dividido sobre a questão.

No início da semana foi pressionado por altos elementos conservadores, como o ministro para os Assuntos Parlamentares, Chris Grayling, ou a secretária de Estado Theresa Villiers, que lhe pediram uma clarificação sobre a “posição que os ministros poderão adotar durante a campanha” escreve o “Guardian”. Deverão lutar pelo “não”, tal como outros destacados membros do executivo, como a ministra da Administração Interna, Theresa May, ou Iain Duncan Smith, do Trabalho, entre outros. Há ainda notícias que dão nota de que metade da bancada Tory poderá fazer campanha a favor da saída.

Uma decisão que não foi bem aceite por todos. O “senador” Michael Heseltine – que foi vice-primeiro-ministro de John Major -, por exemplo, já tinha avisado Cameron de que arriscava “uma guerra civil” se desse liberdade. Segundo o “Financial Times” algo que o próprio Cameron assume em privado, mas considerando que o “seu desafio é geri-lo”.

Para começar escolheu o melhor momento possível, com as manchetes dos jornais online a encherem-se com as guerras dos seus rivais trabalhistas – em convulsão interna depois de Jeremy Corbyn ter feito uma renovação no governo-sombra que levou à demissão de três “ministros”.

Qualquer que seja o desfecho, uma coisa é certa. Cameron, ganhe ou perca, não tem intenção de se demitir.