Cabecilha da rede usada por Pinto da Costa dava ordens a agentes da PSP e ameaçava-os de morte

Cabecilha da rede usada por Pinto da Costa dava ordens a agentes da PSP e ameaçava-os de morte


Edu Silva ligava para chefe da polícia pedindo o fim das fiscalizações, ameaçando que um dia mataria vários agentes. Fugas da PSP permitiam à rede ter acesso a informação privilegiada sobre ações na noite do Porto.


Eduardo Silva, dono e gerente da empresa de segurança S.P.D.E., terá montado um esquema para proteger e expandir o domínio da noite pelos seus homens  – e, para isso, recorria a informações internas da PSP. No despacho de acusação do Ministério Público (MP) sobre a “Operação Fénix”, as ameaças diretas – e sem consequências – às forças de segurança deixam claro o nível de influência que o empresário mantinha sobre as autoridades.

Eduardo Silva era um homem intocável até Julho de 2015. Numa chamada intercetada pela investigação em Outubro de 2014, e depois incluída no processo do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), Eduardo Silva é expansivo nas palavras que dirige ao chefe Cangalhas, da PSP do Porto, para mostrar o seu desagrado em relação a uma ação de fiscalização daquela força aos seus homens. “Qualquer dia é marreta à vossa frente (…), eu vou ter mesmo de foder os cornos a um polícia (…), a minha vontade é sair à noite com um gorro e foder o focinho a todos”.

Impunidade Além das ameaças – “isto vai rasgar para qualquer lado” -, Edu Silva não se coibia de manifestar abertamente o seu desprezo pelas autoridades. “A polícia é ridícula”, disse na mesma conversa. As palavras não terão tido qualquer consequência prática por parte do responsável da PSP, apesar de as mesmas, por configurarem o crime de “ameaça” agravada, serem puníveis com pena de prisão até dois anos.

Quando os contactos com as autoridades não serviam para proferir ameaças, Edu Silva recorria a outros meios. O empresário “contava com o auxílio de indivíduos que tinham ligação com elementos das forças de segurança, por forma a obter informações sobre atividades destas e, especificamente, sobre indivíduos que pudessem, de alguma forma, colocar em causa o seu domínio da noite”, refere o despacho do MP.

Neste caso, cabia a Alberto Couto, ex-agente da PSP, aproveitar os contactos do tempo em que esteve ligado à investigação criminal da PSP para obter informações internas. “A pedido de Edu Silva, [era Alberto Couto quem] recolhia informações junto de contactos que mantinha dentro daquela corporação policial, e que depois as passava” de novo a Eduardo Silva, refere o despacho de acusação.

O i tentou obter uma posição da PSP a este respeito, mas não obteve resposta até ao fecho da edição.

Banco de armas A verdade é que as funções do ex-agente da PSP iam muito além dos contactos com as autoridades.

De acordo com o MP, Alberto Couto era uma fonte de armamento para a associação criminosa que agia sob as ordens de Eduardo Silva e sob a égide da S.P.D.E. “Dada a sua relação estreita” com Edu Slva, o ex-agente da PSP punha à disposição da organização chefiada por aquele as armas que detinha”. Quando foi detido, Alberto Couto tinha consigo uma pistola semi-automática, um colete balístico, dois bastões extensíveis e um punhal de 17 centímetros. No carro, Couto tinha mais uma arma semi-automática, um colete com a inscrição da “Polícia”, joelheiras, coldres, algemas e um passa-montanhas.

Era ao ex-agente que Eduardo Silva recorria quando precisava de armar os seus homens. E não seria raro que os seguranças da S.P.D.E andassem armados – fosse nos serviços em nome da empresa, fosse nos trabalhos de segurança pessoal para que muitas vezes eram chamados.

Eduardo Silva também estava “equipado” quando foi detido, em Julho do ano passado. Além de soqueiras, o empresário tinha uma pistola semi-automática de 9 milímetros.

De resto, o cenário com que os agentes se depararam ao deter vários dos arguidos foi muito semelhante. Pistolas semi-automáticas, gás lacrimogéneo, coletes, bastões e soqueiras eram equipamento regular entre os seguranças da S.P.D.E.

A Operação Fénix tem agora 57 arguidos acusados de crimes que vão da associação criminosa à extorsão, ofensas à integridade física qualificada, coação, detenção ilegal de arma, segurança privada ilegal e favorecimento pessoal.

pedro.rainho@ionline.pt